Ricardo Bocão e Otávio Pacheco entabulam uma saborosa conversa diante de fotos de competições. Noutro canto da sala, Rico de Souza é tratado como celebridade por um canal de tevê.
Irencyr, Arduíno, Fernanda Guerra… estão todos lá, com espírito jovem e sorriso no rosto. No telão, surfistas desfilam talento sobre monoquilhas, biquilhas 5´6”, sempre coloridas. O ambiente é decorado pelo som de Emerson, Lake and Palmer.
Na noite da última quarta, a casa do Grupo Sal, no Joá, encravada na floresta atlântica do Rio, virou um microcosmo do surfe brasileiro nos anos 70. Parecia uma volta no tempo, um flashback lisérgico, com a vibe da década que desenhou a estética e o comportamento que desenhou a estética e o comportamento de todos nós, surfistas.
Tanta festa tinha uma razão: apresentar o programa “70 e tal”, do craque Rafael Mellin, sobre o surf brasileiro na década em que, segundo Fuad Mansur, “a praia tinha tudo: o vento, o mar, as garotas, a vadiagem, os amigos.” Por isso, eles ficavam lá.
O primeiro dos 13 episódios foi ao ar na última quarta-feira. Cada onda bem surfada ou depoimento contundente era embalado com um digno “uuhuuu”. Era a vez de Arduíno falar: “Pra surfar bem, você tem que surfar todo dia. E as obrigações da vida acabaram afastando os mais diligentes, né? Só os mais vagabundos, como eu, é que continuaram. Pode chamar de vagabundo. Eu sou vagabundo. Eu gosto de ficar na praia, de ver o pôr do sol, bater palma no fim do dia. Havia até um orgulho de ter dado a volta na sociedade.”
Mellin vibrou ao ouvir os gritos de aprovação para as palavras sábias de Arduíno, talvez o mais roots de nossos surfistas. E gostou também de como o público riu com trechos mais engraçados, como a declaração do Tico Cavalcanti: “A galera gostava de fumar um Canabis e ficar curtindo um Emerson, Lake and Palmer, inteiro, os dois lados do disco. Sem que nada interrompesse.”
Ainda rolou a cereja do bolo, antes de ir embora. De presente, os convidados ganharam a publicação Saladah, criada por Marcelus Vianna e editada pelo excelente surfista-jornalista Júnior Faria, que em sua quarta edição foi totalmente dedicada ao 70 e tal.
Foi o jeito que a galera do Sal encontrou de fazer seus amigos levarem para casa toda a vibração e as cores da mais louca das décadas. Tudo para eternizar o flashback.
Quem venham os 80, agora, Sal.