Espêice Fia

O papa-capim e a prancha

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Fabio Gouveia na praia do Cabo Branco (PB), em 1983. Foto: Arquivo pessoal.

Meu começo no surf talvez tenha sido retardado em virtude de ter ido morar em Belo Horizonte (MG), nos anos de 77 e 78. Por lá, muitas amizades, incluindo um vizinho chamado Pedro Jorge Brandão, atleticano roxo!

Não foram poucas as partidas do Atlético no Mineirão que eu e meu pai fomos levados por ele. Bons tempos! De volta à Paraíba, tempos depois e eu já com 13 anos, nosso amigo mineiro veio nos visitar em João Pessoa. A essa altura eu já estava solto nas ondas da praia do Bessa com minha primeira prancha de fibra, da marca Gira Sol. No entanto, mais que detonada, um “caco véio”.

Aliás, um “boi” – chamávamos também assim as pranchas velhas – com bolhas por todo o deck e sem uma das quilhas. Criança que era e na liberdade da cidade naquela época, fazia de tudo, inclusive tinha o hobbie de ter passarinho. Vivia com os amigos pescando, andando de bike, surfando, pegando frutas em terrenos baldios, enfim, aprontando no geral.

Durante a visita do Sr. Pedro, havia ido surfar num dia, e quando retornei, a gaiola do meu papa-capim (Sporophila ardesiaca) estava aberta e nem sinal do passarinho. A tristeza foi grande, mas logo tranquilizada pelo amigo, que assumiu a autoria do “livramento”, dizendo que aquilo não era ave de colecionador e me deu uma boa recompensa (acho que uns cinco mil cruzeiros) para que eu adquirisse um canário belga.

Já fissurado pelo surf, aquela grana não poderia ter caído em uma melhor hora. Adeus, papa-capim! Que canário belga, que nada! Comprei foi a minha primeira prancha semi-nova: uma Swell biquilha, polida, com degradê azul e bordas frisadas. Ná época, foi mais que importante para a minha evolução. E é claro também que nunca mais fui atrás de passarinhos.

 

Muitos surfistas têm histórias engraçadas. Lembro também do amigo Charles Brow (mágico do Fabio Fabuloso), que vivia no Bessa cantarolando com a sua viola e depois apareceu com uma monoquilha azul royal, coisa mais linda!

E sempre tem aquela história de alguém que trocou uma bike, um relógio por uma prancha, e por aí vai. Então, como este espaço é nosso, conte aqui a sua história interessante de quando adquiriu a sua primeira prancha. Estou bem curioso!

Fábio Gouveia
Campeão brasileiro e mundial de surfe amador, duas vezes campeão brasileiro de surfe profissional e campeão do WQS em 1998. É reconhecido como um ícone do esporte no Brasil e no Mundo. Também trabalha como shaper.