Espêice Fia

Despedida havaiana

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Fabio Gouveia despede-se de mais uma temporada havaiana. Foto: Arquivo pessoal Gouveia.

A temporada havaiana começou da mesma forma que o swell deste último fim de semana. As ondas iam entrando aos poucos, subindo aos poucos, para depois ficarem com ótima consistência.

 

Vinte e cinco dias em Oahu foram o suficiente para que eu presenciasse quatro swells. O primeiro, que ficou conhecido como o Black Friday; o outro, que foi o da sexta-feira 13 com mais um outro intermediário, e este recente, que também veio aos poucos e coincidentemente bombou na sexta feira e teve seu auge no meio daquele dia.

A pressão para cair em Pipeline é uma constante, e por ter surfado em Waimea e Sunset nos outros swells, chegou foi a vez de pegar minha 7’10 e remar para o segundo reef. Séries oceânicas vinham com boa frequência, e além das poucas cabeças em Banzai, a fila era grande mais embaixo, onde aquele “bolo” habitual de surfistas, bodyboarders e bodysurfers disputavam as séries que, quando não emendavam do terceiro reef, encavalavam com uma força absurda.

Ao entrar com minha 7’10, estava um pouco sem graça, achando que estava com muita prancha, mas foi só chegar no outside, na terceira bancada, que vi que não estava errado. Melhor, vi até que poderia ter ido com meu barco, ou seja, minha 9’6. A real era que embaixo não precisava de prancha tão grande, mas no meio do oceano o volume de água, a força do vento terral e a velocidade com que as paredes embaladas pela ondulação de oeste marchavam faziam com ela fosse mais que bem vinda.

As maiores ondas foram dropadas pelos caras que estavam com gunzeiras. Sunny Garcia e Kohl Christensen pegaram umas grandes. Com certeza uns 15 pés plus. Não cheguei a remar perto deles, me faltou coragem, e pelas ondas que peguei, acho que minha prancha não iria aturar se eu dropasse atrasado.

Jamie O’Brien apareceu com uma Greg Noll modelo anos 60 e sem cordinha. Apesar da destreza, acabou perdendo a prancha em determinado momento. A correnteza depois das séries tiravam a galera do pico, mas rapidamente – pela ânsia -, todos logo já se realinhavam. Vi ondas lindas do master Stephan Figueiredo, esse que em sua primeira temporada, anos atrás, já dava as caras que iria dominar a onda.

 

Do outside não via toda a ação, na maioria  das vezes via apenas a galera remando para as ondas e quase sempre atrasada. Vi Bruninho Santos e Wiggolly Dantas remarem deep e depois saírem no canal. Boiei muito, peguei poucas.

Fui também atrapalhado pelo trânsito, pois em duas boas que peguei havia meia-dúzia de cabeças embaixo. Em uma delas, soltaram as pranchas e não tive como frear, apenas aliviar o peso. O acidente poderia ter sido grande, mas graças aos deuses e às pitadas de sorte, nada aconteceu.

Já para o final de minha queda, remei feito louco pra tentar a saideira. E às cegas devido ao terral forte, ainda bem que não entrei, pois vi um vulto verde-limão vindo por trás do pico. Era o Ian Walsh, que mais tarde –disseram – pegou um dos tubos da temporada. Estava difícil entrar nas ondas e nas vezes em que estive no lugar certo, tive que abortar o drop por um local acabar virando mais ao lado ou mais deep. Uma hora foi Makua Rothman e em outra Kalani Chapman, que, também com prancha grande, pegou altas!

Vi uma bela onda do Kahea Hart, uma big do Garret McNamara, que incrivelmente segurou quando a bomba explodiu em suas costas e passou a milhão rumo ao inside. A curiosidade é que vários caras estavam com coletes flutuantes, e um dos que mais defende a segurança dentro da prática, chegou vestindo o seu. Falo de Danilo Couto, que havia apontado no line up com sua 8’6.

 

O crowd de fotógrafos na água também era notável, como também de alguns jet-skis que se encontravam no canal com outros que usavam suas “meia teles”. O cenário era magnífico. Quando saí da água, fiquei analisando e tendo a certeza que dentro d’água era mais difícil do que parecia de fora. O terral forte dava aquela textura harmoniosa de mais um dia de altas ondas no North Shore.

Último dia no Hawaii e com o mar bombando é sempre aquela correria. Leva prancha pra deixar na loja, leva gunzeiras para o local em que costumo guarda-las para a próxima oportunidade, arruma as tralhas que, quase sempre são mais do que vieram. Aperta daqui, aperta dali e estoura um zíper. Hora de aproveitar uma capa de prancha e tratar de socar tudo lá dentro.

Pela primeira vez saí do North Shore na madrugada. Ao passar por Sunset e Laniakea, o espumeiro estava denunciando que o sábado seria de altas ondas! A volta no recente voo inaugurado entre Los Angeles e São Paulo, da American Airlines, ameniza a longa viagem. A saudade de Oahu bate, os pensamentos fluem e o filme mental é rebobinado. Aloha!

Tuii, tuáre, tudére hollydays. Boas festas pra todos vocês!

Fábio Gouveia
Campeão brasileiro e mundial de surfe amador, duas vezes campeão brasileiro de surfe profissional e campeão do WQS em 1998. É reconhecido como um ícone do esporte no Brasil e no Mundo. Também trabalha como shaper.