Espêice Fia

Descobrindo Nias

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Sempre foi meu sonho conhecer Nias, na Indonésia. Juntamente com Jeffreys Bay, e é claro, Pontal de Baía Formosa (RN), ela sempre foi uma das ondas que eu mais desenhava nos cadernos de escola.

 

Com a ideia em mente de fazer mais uma viagem antes da chegada da temporada havaiana, a trip organizada por Eduardo “Rato” Fernandes, ex-surfista profissional e estrela do filme Surf Adventures, em outubro de 2013, caiu feito uma luva. Foram cinco dias esquentando as pilhas em Nias e mais doze dias nas ilhas Mentawai a bordo do Star Koat, barco operado pela empresa Mentawai Surf Charters.

 

Muitos dos surfistas profissionais e aventureiros, quando estão na Indonésia, costumam ficar em Bali aguardando swell e tentam a sorte nas ondas à sua volta, como Desert Point, G-Land e Nias. Demos sorte, pois apesar de viajarmos sem saber nada do swell, fomos presenteados com ondas bastante razoáveis, mas não cheguei a ver aqueles salões que Nias realmente oferece, aqueles “double ups” incríveis.

 

Mesmo assim, foram cinco dias muito intensos com ondas de 3 a 5 pés com algumas séries maiores e espaçadas. Tivemos ali momentos muito bons de surf “high performance”. Que onda maravilhosa! Como pude ficar tanto tempo sem conhecer aquele pico? Fiquei imaginando como seria no passado, na década de 80 e 90, e nem é preciso dizer nos anos 70, com bem menos gente. O crowd hoje é de certa forma intenso, mas, com paciência, todos surfam.

 

Fiquei impressionado com a desenvoltura dos surfistas locais, que são muito conhecedores do pico. Quem destacou-se foi o goofy Antony, o Justin, um surfista que lembra o havaiano Kekoa Bacalso, e outro regular do qual não me lembro mais o nome.

 

Macabú, um brasileiro habitué do pico, também estava por lá dando suas bordoadas de backside e garantindo a risada da turma junto do “Barriga Feliz”, um indonésio da pousada que recebeu esse apelido, é claro, de um brasileiro. A brasileira Patrícia, esposa de Macabú, era uma das duas meninas no pico e, bem posicionada, pegava muitas ondas.

 

Apesar de Nias não ter se mostrado de “jeito”, tivemos a sorte de pegar um mar clássico e potente em uma onda a poucos minutos de barco dali. A onda já é conhecida e foi surfada pelo Eduardo “Rato” Fernandes e Peterson Rosa no passado, quando ali gravaram um episódio do programa Surf Adventures.

 

Desde então ela é pouco divulgada e, pelo menos enquanto estávamos lá, pouco ou quase nada surfada. Foi incrível pegar aquelas condições sem uma única alma na água além das nossas. Pelo crowd que estava em Nias e por não ter ninguém neste pico, estava claro que a onda só podia ser “faixa-preta”. E foram ondas de 6 a 8 pés com series maiores e pesadas o que encontramos.

 

Eu estava de 6’3” e me arrependi muito de não ter levado minha 6’7” larga e grossa para ajudar na remada. Até porque, justamente neste dia, peguei uma virose e estava fraco. A onda vinha de forma oceânica, e, quando ela se erguia no horizonte e formava aquele paredão, era difícil saber pra onde ia bater, dando muita adrenalina.

 

Eduardo Fernandes surfou muito bem e dropou as melhores nos dois dias que investimos neste pico. Ele estava disposto e, mesmo com a sua prancha 6’1”, que era pequena para o mar, parecia confortável. Samuel Igo também se empenhou de backside e fez curvas lindas.

 

Entrei em mais tubos do que consegui sair, mas cada visita aos salões valia muito a pena. Os que completei foram intensos, já na parte bem rasa da bancada e por trás do campo de visão da câmera do fotógrafo Clemente Coutinho, que nos acompanhava e havia botado a pilha para irmos até o pico. Se alguém caísse ali tava ferrado, e este aspecto mostrava a radicalidade da onda.

 

Gabriel Farias se mostrou apreensivo no começo, mas no final do segundo dia já estava bastante empolgado e desfilou em uma bela onda. Aliás, este era seu intuito, o aprendizado. Nos dias em que investimos nesta onda, Nias também estava bom, conforme relataram os brasileiros Marcelo e Buda. Antes de nos despedirmos, fizemos mais duas sessions na baía de Lagundri.

 

Depois de tanto surf em Nias e em sua irmã “faixa-preta”, partimos para as Mentawai, onde eu e o “Rato” chegamos exaustos. Já os moleques continuavam na pilha e logo na primeira caída em Hideaways já pularam na água com todo gás para se juntar a outros surfistas que entraram na barca.

 

A história sobre essa trip continua na próxima coluna.

 

Fábio Gouveia
Campeão brasileiro e mundial de surfe amador, duas vezes campeão brasileiro de surfe profissional e campeão do WQS em 1998. É reconhecido como um ícone do esporte no Brasil e no Mundo. Também trabalha como shaper.