Todd Chesser

Todd Chesser

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Nem mesmo o super-homem.

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Respeitado por seu preparo físico de super herói, Todd Chesser se sentia à vontade em qualquer pico do North Shore. Aqui ele faz pose no Backdoor. Foto: Reprodução. 

Um dos mais respeitados surfistas de ondas grandes do North Shore, Todd Chesser era uma crítico ferrenho da invasão que o trecho de litoral mais famoso do mundo sofria anualmente. E por isso estava sempre disposto a encontrar uma bancada de outside longe o suficiente da costa para impedir que os “farsantes” atrapalhassem suas sessões. Dessa maneira, muitas vezes acabava surfando solitário em condições que fariam a maioria dos surfistas pedir perdão a Deus pelos pecados que cometeram e também pelos que não foram responsáveis.

Na manhã de 13 de fevereiro de 1997, ao 28 anos de idade e com casamento marcado para o mês de agosto que se aproximava, Todd estava justamente se preparando para remar solo em direção à bancada conhecida como Outside Alligators, quase um quilômetro de distância da praia, à esquerda da baía de Waimea, quando um membro da Defesa Civil local se aproximou recomendando que ele não se arriscasse, já que a ondulação estaria crescendo rapidamente ao longo do dia. Todd escutou o que ele tinha para dizer, mas não mudou de idéia. Estava acostumado com aquele tipo de empreitada, e o mar naquele momento não parecia, para seus padrões, muito ameaçador: céu azul, pouco vento, ondas de 12 a 15 pés.

Foi aí que dois amigos seus, Cody Graham e Aaron Lambert, apareceram para checar o pico também e, incentivados por Todd, resolveram entrar com ele. Eram aproximadamente 9 da manhã quando, deitado sob sua 10 pés e com um pé de pato enfiado entre a roupa de borracha e seu corpo, ele mostrou aos dois companheiros o trajeto a ser feito em meio às águas revoltas do inside, até chegar ao mar aberto onde iriam procurar o melhor posicionamento para estar no lugar certo quando as ondas entrassem. Durante a primeira hora na água, não surfaram muito. Preocupados em não ser surpreendidos na zona de impacto, os três mantinham os olhos no horizonte conscientes da necessidade de ser cuidadosos. O membro da guarda civil havia dito que as ondas iriam começar a subir mesmo a partir das 11 horas. Informado por Lambert do horário, 10 para as 11, Todd saiu remando em direção ao outside acompanhado por Graham, com Aaron vindo logo atrás.

Foi aí que uma série massiva surgiu movendo-se a toda velocidade em direção a eles, fazendo com que os três tomassem juntos a primeira onda na cabeça. A segunda onda, maior, foi ainda mais massacrante, arrastando Aaron para o inside e deixando Todd e Graham exatamente no pior lugar  possível, bem no centro da zona de impacto, para encarar a terceira, um verdadeiro edifício líquido desmoronando sobre os dois. A tentativa desesperada de remar para o canal não adiantou, o lip explodiu certeiro bem onde eles haviam abandonado suas pranchas e mergulhado o mais fundo possível, mas não o suficiente para escapar do turbilhão de água. Graham perdeu a noção de quanto tempo ficou submerso, quantas ondas passaram e como retornou à superfície. Tonto, vomitando, sem forças, quase impossibilitado de remar, ele olhou ao seu redor buscando pelos amigos. E avistou o corpo de Todd boiando inconsciente. Desesperado, sem condições nem de se mover, começou a gritar por ajuda. Mais no inside, Aaron também havia sofrido o impacto da onda gigante, e ao regressar à superfície, assim como Graham, viu o corpo de Todd flutuando com sua face e peitoral emborcados na água. Sem poder, ou querer, acreditar na tragédia que se anunciava, ele achou que o amigo poderia estar brincando. Mas ao ouvir o choro e os gritos de Graham, se tocou que a situação era mais do que grave.

Durante os 45 minutos seguintes, os dois amigos tentaram ressuscitar Todd sem sucesso. Com o mar acalmado, uma corrente os empurrou em direção à praia, até que Aaron deixou Graham com Todd  e saiu nadando em direção à praia. Residentes de casas de frente para o mar chamaram o número de emergência 911 ao ouvir o pedido de socorro berrado a pleno pulmões por alguém que se aproximava em meio às ondas. Os experientes salva vidas Terry Ahue e Abe Lerner, pilotando jet-skis, encontraram Graham e Todd  próximos ao pico conhecido como Marijuanas e os levaram para terra imediatamente, onde uma ambulância já aguardava.

Todd Chesser foi declarado morto por afogamento ao chegar no hospital de Wahiawa. Em menos de três anos, ele era o terceiro big rider a falecer, após Mark Foo, em 94 e Donnie Solomon, em 95. Considerado um dos surfistas mais bem preparados física e mentalmente do Hawaii, quase um super-homem das ondas, o trágico incidente que tirou sua vida parecia ainda mais inexplicável do que os dois que o precederam.