O sexo é o mestre supremo. Nos motiva, nos ensina, nos direciona. É a única saída do aprisionamento dessa existência, desse corpo, da nossa limitada percepção do universo. Procriamos como outros ou nos multiplicamos como nós mesmos. O sexo dá o tom e o timbre da tão sonhada resposta para o mistério.
O sexo é quem nos permite, eventualmente, prolongar a própria existência. Uma trip a outros patamares da percepção. Ele nos atrai, nos seduz e é seduzido por nós, nos mostra o portal que conduz à transcendência. Ao entendimento maior e completo de nós mesmos. Não é o ponto final, mas o veículo. O prazer da carne é a isca, um auxiliar eficaz que nos direciona ao êxtase cósmico da consciência completa. Do nosso exercício divino de sermos mais, sermos além, ou através dos filhos, ou mesmo sem eles, através da Luz que é criada – por instantes nos tornamos deuses -, e emana de nossos seres quando a união com o outro se completa.
Por isso a ânsia, o impulso, a loucura (tradução de “não-cultura”). Esses elementos nos tiram do raciocínio lógico necessário para a manutenção dessa existência e nos remetem ao impalpável e ao eterno de uma miríade de existências que ainda vamos experimentar. A gênese da criação não é racional. E não poderia ser.
Ele nos remete ao incompreensível que denominamos “magia”. Leva-nos à esfera das respostas recorrentes para as perguntas primordiais: “Quem somos? De onde viemos? Qual a razão da vida?”.
Quando mais, paradoxalmente, saímos do nosso corpo através do sexo, mais saímos do nosso eu social construído pela mente, e nos permitimos visitar outros patamares de realidade, mais próximos da nossa verdadeira essência, e que, mais uma vez paradoxalmente, nos aproxima do espírito através da matéria. O sexo é o nosso companheiro fiel na jornada planetária. Sem a aparente insanidade sexual regida pelos sentimentos, pereceríamos tristemente secos e rígidos no deserto dos pensamentos.
O sexo é o enviado do Mestre Supremo. Uma maneira relativamente tosca de nos mostrar o verdadeiro e sofisticado caminho. Uma mensagem simples e direta, na medida para que possamos compreender, dentro do nosso atual grau de evolução, dentro da nossa óbvia e limitada carnalidade. Como um apito que emite um som que só os cães podem captar.
O sexo emite um som, um cheiro, um gosto, uma visão, um tato, um sentido inédito, que, mesmo limitados, são os nossos instrumentos físicos possíveis para a chegada espiritual por muitos – os que racionalizam a carne – considerada impossível. O sexo é o sentido-resultado da somatória de todos os outros sentidos. O bônus (que faz todo o sentido).
O sexo vem fantasiado de prazer óbvio, quando o seu verdadeiro objetivo é nos entregar ao menos óbvio dos espaços, à ampliação de todos os sentidos, à criação de novos e desconhecidos, à beleza suprema, ao destino final, à completude.
Sidão Tenucci é surfista, viajante e escritor. Arrisca umas fotos, umas músicas, uns sexos e umas pinturas.