Auêra-Auara

Lançamento agita Belém (PA)

0

Um grupo de amigos sintonizados pelo apreço ao perigo tomou, em 1997, uma decisão aparentemente desmiolada: “Vamos surfar a pororoca!”.

 

Munidos da típica irreverência dos surfistas, pranchas na mão e uma ideia fixa na cabeça, eles deram início, 17 anos atrás, a uma jornada repleta de riscos, adrenalina, superação e aprendizado. Uma aventura contada com riqueza de detalhes no livro “Auêra-Auara – A História do Surf na Pororoca”, que foi lançado no dia 1º de julho, no Galpão 3 da Estação das Docas, em Belém do Pará.

 

Organizado por Noélio Sobrinho, um pioneiro que se tornou expert no assunto com mais de 150 pororocas já surfadas, o livro documenta a descoberta do fenômeno pelos surfistas e as primeiras tentativas de domar a grande onda, que se eleva a até 4 metros do nível dos estuários, penetrando no curso dos rios a uma velocidade impressionante, solapando barrancos, roendo vegetações e redesenhando o mapa ribeirinho.

 

Com o texto envolvente do jornalista Paulo Silber e imagens fantásticas dos fotógrafos Paulo Santos, Raimundo Paccó, Rick Werneck, Dênis Sarmanho, Natinho Rodrigues, Antony Colas, Nicolas Picat e Vianei Bentes, “Auêra-Auara” revela como a temida pororoca se transformou numa generosa aliada dos surfistas na criação de eventos com cacife internacional e grande repercussão econômica e social nas cidades onde o fenômeno ocorre.

 

Em 200 páginas, os principais personagens dessa história relembram os episódios marcantes de um esporte que nasceu sob o signo do despojamento e ganhou a estatura do empreendimento.

 

“O que antes era uma arriscada incursão nos domínios misteriosos da Bacia Amazônica é hoje uma deliciosa diversão que mobiliza enorme aparato de segurança, utiliza tecnologia de ponta e coloca remotas localidades da região no mapa mundial do turismo esportivo”, narra o livro.

 

O surf na pororoca já foi transmitido para mais de 1 bilhão de pessoas, ao vivo, do coração da Floresta Amazônica, pela Estatal Chinesa CCTV, e foi tema de filmes, documentários, reportagens, teses de mestrado e até reality show. Hoje, atrai cada vez mais atletas e turistas dos quatro cantos do Mundo.

 

O livro acompanha a trajetória dos surfistas no dorso das grandes ondas nos rios Araguari (AP), Amazonas e Capim (PA), Mearim e Pindaré (MA) e a caçada internacional às pororocas da França, China e Indonésia.

 

Com depoimentos de estrelas de primeira grandeza do surf mundial e de celebridades adeptas dos esportes radicais, “Auêra-Auara” é também um importante documento de como Homem e Natureza podem encurtar distâncias para viver em harmonia, mesmo quando se desafiam.

 

“O surf tem uma relação muito forte com a Natureza e ali, na pororoca, ele se mistura com as lendas e verdades da selva”, diz o big rider Carlos Burle, tricampeão mundial de ondas gigantes. “Cada vez que eu fui à pororoca, a onda era diferente. Mas, o que mais marca é que você ouve ela chegando antes mesmo de conseguir vê-la”, conta Rick Werneck, fotógrafo especialista em surftrips e o primeiro a registrar o surf na pororoca.

 

“Quando vi a onda no horizonte, vindo em minha direção, perfeita, de margem a margem, achei quase surreal. Foi uma experiência inesquecível”, lembra o astro Rodrigo Santoro. “A onda cresceu e eu, no rio, me sentindo pequeno. Vieram as sensações de medo e inquietude diante do desconhecido. Ficará pra sempre na minha memória”, revela o ator Marcello Serrado.

 

O livro, que recebeu apoio do Governo do Pará, é um projeto da Associação Brasileira de Surf na Pororoca (Abraspo), concebido à flor da pele, com a emoção de quem desliza sobre quase duas décadas de História, registrando a pororoca e sua brava gente na carne viva da memória brasileira.