Espêice Fia

Uma década de Fabuloso

0
400x268

Fabinho Gouveia durante as gravações de “Fabio Fabuloso”, lançado em 2004. Foto: Divulgação
 

Já faz tempo, mesmo assim não parece fazer muito tempo que me encontrava diante de uma realidade: as gravações do documentário Fabio Fabuloso.

O lançamento fora em 2004, quando estreou vencendo prêmios pelo júri popular nos festivais de cinema do Rio de Janeiro e São Paulo. Mas as gravações já haviam se iniciado em 2002, quando, em reunião com Alfio Lagnado (Hang Loose), os diretores Pedro Cezar, Ricardo Bocão e Antônio Ricardo receberam o aval para o “start”.

O projeto inicial, que era pra ser um DVD, foi crescendo absurdamente para se tornar um divisor de águas, incentivando de uma vez outras produções do gênero. Mas não pensem que foi fácil; era muito material coletado e adicionado ao que já existia. Foram noites e mais noites varando madrugadas adentro em um apartamento no bairro de Ipanema, no Rio de Janeiro. E eu na estrada do Tour, volta e meia visitava o QG. Ali, uma turma se encontrava e mandava ver em roteiro, edições, criações, trilha sonora e o escambau.

Julio Adler, Marcelus Viana, Susanna Queiroz, Gustavo Bomba, Marcos “ Kuska” Cunha (o “cabra” do som) e Marcio Gomes eram os principais, entre outros que também trabalharam à distância e na maior parte das vezes coligados às três cabeças produtoras já relatadas.

Foi uma acontecimento maravilhoso. Ter uma carreira documentada com o sujeito ainda em vida é esplêndido para quem o vive. Vivi tudo aquilo intensamente e o aprendizado em várias áreas foi enorme. O documentário gerou muita credibilidade a todos posteriormente, fruto do trabalho extraordinário de todos os evolvidos. Eu ficava “viajando” quando recebia o conteúdo crescente e tentava me empenhar como podia pra que todos aproveitassem o que eu poderia passar de detalhes.

Muitas curiosidades foram surgindo e também personagens como Dona Regina, o mágico Charli Brau e Robbie Page, entre tantos outros familiares, amigos do peito e de profissão que engrandeceram o documentário. Com tempo curto e corrido, encontrar um burrinho em Santa Catarina demandou um “jegue search” árduo, com uma demora de quase dois meses entre idas e vindas, por exemplo, à região de Garopaba, onde havia fazendas que diziam ter alguns “burricos”. Mas sempre, ao chegar aos picos, o que havia eram bonitas “mulas”, longe daquilo que realmente precisávamos pra caracterizar a cena nordestina com o pôr-do-sol nas dunas.

O cenário, filmado em cinema pelo produtor Kadu, foi o parque de dunas do Canto das Aranhas, na praia do Moçambique, Florianópolis, para onde eu havia mudado com toda a família. O ano de 2003 coincidentemente foi o meu último ano no WCT. O documentário me deu combustível para seguir rumo a uma possível classificação e permanência. Estava empolgado e surfando bem, mas infelizmente acabei perdendo a vaga. Vaga essa que tentei por mais alguns anos, incluindo 2004, ano do lançamento, que fora um ano atribuído a outras coisas e focos distribuídos.

Dona Regina e “Charli Brau”, personagens do filme

Além de ter sido um presentão, a turnê por várias capitais do país foi intensa, e pra se ter uma ideia, emagreci 5 quilos. Era um tal de exibição, tardes e noites de autógrafos, incluindo muitas entrevistas e compromissos demasiados com imprensa especializadas e principalmente não especializadas, afinal o Fabio Fabuloso foi muito premiado e elogiado por uma grande crítica. E as baladas comemorativas varavam noites adentro sem que eu pudesse curti-las com os amigos e admiradores, pois nos dias seguintes eram sempre pauleiras em compromissos nas cidades seguintes.

Sendo protagonista, pude sentir um pouco do glamour que as celebridades vivem. Paparicações mil, foi ótimo enquanto durou, mas sempre me mantive com os pés no chão e em meu lugar, ou seja, de esportista da modalidade chamada surf. O documentário me trouxe fama, consolidação na carreira e credibilidade, pena foi eu não ter voltado ao WCT durante os anos de 2005 e 2006. Poderia ter me reclassificado, mas infelizmente um problema na colunar lombar me atrapalhou e culminou na mesa de cirurgia. Recuperado, corri atrás do WQS até 2009, onde ao final daquele ano decidi pela minha aposentadoria competitiva. Na altura dos fatos, já vinha fazendo alguns outros trabalhos, incluindo ali as gravações de meu programa semanal no canal Woohoo, o “Rái Êite 100 Tripé”, que havia sido uma espécie de “filho” do desenrolar do Fabio Fabuloso em sua essência, pois como disse, no processo do filme acabei me empolgando, aprendendo outras coisas e recebendo este espaço dado pelos diretores do canal, Ricardo Bocão e Antônio Ricardo.

Foi muito bom ver todo o sucesso da película, constatar que a trilha sonora, por exemplo, havia se fixado e mais tarde viria a sonorizar muitos programas na televisão brasileira. Para um “filme de surf”, acabou agradando desde crianças até os senhores de idade, nada mal pra o que havia sido o investimento inicial, pois Fabio Fabuloso foi sucesso total e é com muita satisfação que escrevo estas singelas linhas diante da representação do trabalho feito por todos. Meu agradecimento à marca Hang Loose por ter me dado este “presentão” e a todos os envolvidos que trabalharam arduamente com tanto carinho. Abraços pra turma!

Fábio Gouveia
Campeão brasileiro e mundial de surfe amador, duas vezes campeão brasileiro de surfe profissional e campeão do WQS em 1998. É reconhecido como um ícone do esporte no Brasil e no Mundo. Também trabalha como shaper.