Faltam apenas três dias para o início do Billabong Pipe Masters, competição que pode marcar uma conquista histórica para o surf nacional.
Com apenas 20 anos, Gabriel Medina luta para ser o primeiro surfista do Brasil a levantar a taça do WCT. Até então, a melhor façanha de um brasileiro na elite mundial masculina é a terceira colocação obtida por Victor Ribas em 1999.
Antes de partir para a grande decisão no Hawaii, o fenômeno bateu um papo com o Waves. Confira a entrevista exclusiva do atual número 1 do mundo.
O fato de estar disputando o título mundial faz com que você coloque o pé no freio nas sessions de freesurf e nas baterias do WQS?
Tento me poupar, sim. Está chegando a etapa mais importante da minha vida e não quero ficar fora. Quero ficar inteiro, quero lutar. Agora, em Pipe, estarei 100% concentrado, sem me preocupar com nada. Quero apenas surfar e dar o meu máximo.
Em Maresias, depois da derrota para Julian Wilson, você e a sua família comemoraram o aniversário dele. Esse evento serviu para apagar aquela imagem de que eram rivais desde a sua polêmica derrota para ele na final em Portugal?
Éramos muito novos quando rolou aquela final e acabamos nos desentendendo. Não soubemos lidar com aquele momento. Ele é muito gente boa, é meu amigo. Fizemos as pazes na Califórnia, no ano passado. Sentamos, conversamos e um pediu desculpa para o outro. Hoje somos bons amigos.
Kelly Slater sempre foi considerado um mestre não apenas na água, como também na arte de abalar psicologicamente o adversário. Você já sentiu isso alguma vez?
Acho que comigo ele nunca tentou, não (risos). Se tentou, não funcionou, pois não percebi (risos). Na verdade eu não gosto de ficar olhando os meus adversários. Gosto de me concentrar, olhar para o mar e focar em mim mesmo. Não ligo para o que os outros estão fazendo.
Este ano ele não venceu nenhuma etapa, apesar de ainda estar brigando pelo título. Acha que a sua geração evoluiu demais ou que ele está começando a sentir o peso da idade?
Acho que coincidiu. Uma hora ele vai ter que parar, isso é do ser humano, e não vai conseguir fazer as coisas que ele conseguia. Isso é normal, assim como é normal essa evolução da minha geração. Estamos puxando o ritmo, mas ele está muito bem. Pô, ele está disputando o título mundial aos 42 anos…
Temos três atletas disputando o título e nenhum deles é havaiano. Como acha que vai ser a torcida da galera local nessa última etapa?
Juro que não sei. Vai ser engraçado (risos). Eu, um norte-americano e um australiano… Sinceramente eu não sei! Mas acho que para eles tanto faz, vão torcer pra quem ganhar (risos).
Como vê essa polêmica que rolou no Hawaii a respeito da triagem no Pipe Masters?
É, houve essa discussão, maior rolo. Vi a entrevista do Fast Eddie e soube de várias coisas, mas não posso falar. Estou curioso para saber, mas espero que não aconteça nada conosco.
Como vai ser o quiver para o Pipe Masters?
Vou com 20 pranchas shapeadas por Tokoro, que é especialista em Pipeline. A menor é uma 5’11 e a maior uma 6’11.
Tem usado outras pranchas também durante a temporada, além do quiver produzido por Johnny Cabianca, seu shaper oficial?
Cheguei a testar umas JS (Jason Stevenson) no início do ano. Algumas ficaram boas, outras não. Comecei a achar umas pranchas boas do Johnny e nos concentramos nessas pranchas. No Hawaii sempre uso Tokoro, principalmente em Pipeline, que é uma onda pesada e requer prancha maior. E o Tokoro sempre fez boas pranchas pra mim no Hawaii, então fiz meu quiver com ele.
Se o mar bombar mais para o Backdoor, você se sente preparado?
Não sei. Se estiver quebrando o Backdoor eu vou ter que ir. Em qualquer campeonato, seja grande, tubular, direita ou esquerda, na hora você acaba indo. A vontade de ganhar, de ir bem, é maior que o medo.
Já pegou uns tubos legais no Backdoor?
Já, já peguei uns dias bons. É muito difícil pegar onda para o Backdoor. Tem muito local, muito crowd, é bem complicado ali. Mas na bateria dá pra tentar mais, você rema sozinho e tem mais chance de acertar.
Muitos ficaram aliviados com a queda de John John na corrida pelo título mundial. Especulava-se que os concorrentes teriam dificuldade para treinar em Pipeline se um havaiano chegasse brigando pela taça. Você também ficou aliviado?
Foi bom, é um a menos disputando o título e John John é um cara perigoso, está numa boa fase e tem conquistado bons resultados nas últimas etapas. Por pouco ele não entrou nessa disputa. A pressão seria grande agora se ele estivesse.
O assédio da imprensa e dos fãs está muito grande. Em Maresias, por exemplo, você não conseguia ter sossego quando saía. Como lida com isso?
Sou tranquilo, tento fazer o máximo que posso para dar atenção. Em Maresias foi mais complicado porque muita gente que me admira tem pouca oportunidade de me ver competindo no Brasil. Soube de pessoas que saíram de lugares como Belo Horizonte e Brasília só pra me ver. Tento atender todo mundo, mas às vezes não dá. Não é todo dia que você acorda de bom humor. Mas acho isso legal, pois estou sendo reconhecido pelo meu trabalho, então é muito gratificante.