Fui dormir, e quando acordei, caiu a ficha: Medina campeão mundial. Pegar no sono só não foi difícil devido a um comprimido de melatonina, substância usada por muitos viajantes pra regular um pouco o fuso horário. Recém-chegado do North Shore, me sentia ainda nas areias de Pipeline.
Surfei ao lado de Medina e Fanning algumas vezes, e tal como foi mostrado na TV aberta nos últimos dias, os dois eram os que mais treinavam. No geral, via-se Fanning mais seletivo e Gabriel com uma fome danada, pegando muitas ondas. Fome de vitória, talvez esse tenha sido seu triunfo.
Foi inacreditável ver a quantidade de brasileiros este ano no Hawaii. Surfistas e não surfistas, muitos apenas simpatizantes do esporte. Esse momento que estamos vivendo demorou um pouco, mas chegou na hora certa e crucial para o surf mundial e brasileiro. Um momento de troca de guarda, um momento de mudança, e o crédito é de Gabriel Medina e dessa geração Brazilian Storm.
Previsões à parte, achava que Mineiro pudesse ser nosso primeiro campeão mundial, mas com Medina o título veio mais rápido do que esperávamos.
Que ano digno de um grande campeão mundial. Começou o Tour saindo de contusão e passou por vitórias quebrando tabus e virando a língua de todos aqueles que teimavam em colocar em sua frente algum tipo de comentário. Venceu eventos e baterias históricas. Enfim, Gabriel Medina campeão mundial e ponto final.
O que foi esta “Aloha Friday” (termo criado por havaianos)? Com a praia lotada, uma procissão se movia ao lado Gabriel diante da confirmação do título após a derrota de Fanning para Alejo, que, por sua vez, teve brilhante vitória em cima de Slater. A bateria contra Filipe Toledo foi abandonada. Será que naquele momento se passou algo em sua cabeça a não ser o estalo da conquista do título?
Aquela euforia foi uma das coisas mais doidas que já vi na ASP. Até Filipe, que vinha muito bem na prova, parecia não acreditar muito que Gabriel iria voltar pra água. E quando ele voltou, depois que a ficha caiu que ainda restavam 12 minutos, precisava de apenas 3.10 pra seguir à semifinal. Filipe não arrumou nada e Gabriel avançou, para delírio de todos.
Nesse meio termo, Julian Wilson descolava tubos emblemáticos para o Backdoor. Pela transmissão, nem foi possível ver direito o desenrolar das baterias simultâneas. Infelizmente, Alejo logo depois perdeu pra Buchan. Já nas semis, Medina eliminou Josh Kerr, que havia superado John John. A final com Julian Wilson foi uma reprise da bateria polêmica de Portugal. Julian começou em grande forma marcando 9.93. Gabriel pegou um tubo profundo para Backdoor, e quando saiu foi aquela gritaria, um 10! Julian tentou uma reação e acabou pegando uma onda ruim. No retorno ao outside, sua prancha quebrou. Até então, Gabriel estava dominando e parecia que este iria ser o desfecho final, a praia era um delírio só. A supresa no final foi emblemática quando Wilson entubou deep para Backdoor e saiu na baforada mandando o famoso “claim”. Medina veio atrás com uma boa onda para Pipe, atrasando pro tubo, aparecendo na baforada e entubando mais uma vez, saindo acima do double up que formava-se já no banco de areia. A gritaria é enorme. Medina também levanta os punhos, e naquele momento achei que a vitória seria sua. A onda de Wilson foi perfeita, a de Medina foi mais difícil e ele surfou com toda sua destreza de campeão, mas a decisão foi dos juízes e Julian venceu mais essa final.
Poderia ter sido barba, cabelo e bigode, mas se ficou um fiapo engasgado nessa final, com certeza serve de empurrão para a próxima temporada. Medina está apenas começando e é muito difícil bater o que Slater fez até hoje, mas esse início de carreira faz lembrar do começo, quando o careca ainda era cheio de cabelos.