Entenda como a exposição ao sol e à água salgada pode acelerar a calvície e o que fazer para tratar e retardar o processo de perda de cabelo.
Por Paulo Tracco – Matéria publicada originalmente na edição de julho de 2014 da Revista FLUIR.
O maior embaixador do surf de todos os tempos, Kelly Slater, é careca. Um dos maiores big riders da atualidade, Shane Dorian, também é. Se você está perdendo os cabelos, mas não tem a mesma habilidade deles em cima da prancha, fique tranquilo: apesar de irreversível, a calvície pode ser tratada e a queda dos preciosos fios pode ser retardada, de acordo com um dos maiores especialistas no assunto no país, o doutor Gustavo Sartorato, diretor do Centro de Medicina Capilar, em Florianópolis (SC).
A má notícia, segundo Sartorato, é que os surfistas estão mais propensos a perder os cabelos por conta do estilo de vida que levam.
A calvície masculina é o tipo mais comum de perda de cabelo. Segundo o especialista consultado pela reportagem da FLUIR, o problema afeta aproximadamente 20% dos homens com cerca de 20 anos de idade; aos 50 anos, esse número sobe para 50%; e aos 80 anos, a taxa é de 80%. Ainda de acordo com Sartorato, os homens da raça branca apresentam uma incidência de calvície quatro vezes maior do que os homens das raças negra e oriental.
No WCT, por exemplo, dos 32 atletas, 12 têm mais de 30 anos e, destes, cinco já estão calvos. “Por estar mais propenso à exposição e à radiação solar, o surfista acaba acelerando o processo de calvície. A exposição solar diária recomendada é de 15 minutos sem filtro solar. Após este período, o uso de filtro é indicado. Sair de casa com o filtro já aplicado ou não passar o filtro em nenhum momento pode prejudicar os cabelos dos surfistas. O correto seria, após a exposição de 15 minutos, passar o filtro solar ou utilizar um boné de neoprene”, explica Sartorato, que também é surfista.
Um dos melhores tube riders do mundo, o carioca Stephan Figueiredo, 34, revela que começou a perceber a calvície aos 20 anos de idade. Mas, ao contrário da maioria, ele não se incomodou com o problema: “O único tratamento que faço é passar a máquina zero. O único problema é que no frio a careca fica gelada. Também tenho que usar bem mais protetor solar e boné. Nunca gostei de arrumar e pentear o cabelo e minha mulher gosta da minha careca, então, com o que vou me preocupar?”, brinca Fun.
Ao contrário de muitas teorias populares sobre o problema, que variam desde má circulação, higiene precária ou exagerada e uso de chapéus ou bonés, a calvície é uma combinação de hereditariedade, influenciada por múltiplos fatores genéticos, e da ação do hormônio dihidrotestosterona (DHT) sobre as raízes capilares, informa o médico: “Essa substância é formada na corrente sanguínea por meio da testosterona, mediada pela enzima 5-alfa-redutase, desde o início da puberdade. Temos uma progressiva e lenta miniaturização do folículo, que leva a uma diminuição do comprimento e diâmetro do cabelo”.
A perda de cabelos pode ainda ser causada por doenças específicas, como dermatite seborreica, doenças da tireoide, infecções graves, dietas rigorosas, doenças terminais, reações por certas medicações e outros problemas capilares. “A grande maioria tem cura. Porém, a calvície não tem, mas em vários casos conseguimos ‘driblar’ a genética”, revela Sartorato. “Quando a calvície é inicial, tratamentos clínicos têm boas respostas. Quando está avançada (entradas muito grandes ou coroa na parte posterior da cabeça), o tratamento cirúrgico deve ser considerado. Trata-se de retirar cabelos das áreas resistentes da nuca (que não contém o código genético para a calvície) e transplantá-los nas áreas calvas. Quanto mais precoce o diagnóstico e o tratamento, maiores as chances de retardar o processo de calvície”, afirma.
Existem medidas preventivas em relação à exposição ao sol, ao sal e com a higiene. O sol resseca e desbota a cor dos fios e o sal da água do mar intensifica todos os efeitos destrutivos. “A água doce é responsável pela elasticidade e maleabilidade dos cabelos, levando hidratação da raiz às pontas dos fios. O sal, como substância osmótica que é, ‘suga’ a água dos cabelos e os deixa secos, quebradiços e opacos”, diz o médico.
Após a sessão de surf, o especialista recomenda a lavagem dos cabelos com água doce e shampoo com ativos nutritivos como a arginina (aminoácido essencial que forma uma película protetora ao redor dos fios) e a queratina (espécie de escudo contra as agressões externas). Fique esperto. Os sinais de alerta de que você está perdendo os cabelos são: queda aguda e exagerada em comparação à queda habitual; oleosidade excessiva; coceira; vermelhidão persistente; aumento das entradas; e afinamento do cabelo no topo da cabeça.