Uma empresa de viagens está organizando um surf camp exclusivo para surfistas lésbicas em maio deste ano, em Florianópolis (SC). A iniciativa inovadora é criada por Marta Dalla Chiesa, 48, sócio-diretora da Brazil Ecojourneys, que já organizou dois surf camps voltados para o público LGBT em Floripa. Este ano, a experiência será só para mulheres.
Marta, que comanda a empresa há 11 anos, afirma que a intenção do camp é fazer as mulheres se sentirem à vontade e longe dos estereótipos. “Há uma imagem sexista de que tem que ser gatinha para surfar, isso incomoda muitas mulheres, principalmente as profissionais”. Surfista iniciante, a diretora diz que sempre foi bem recebida no line-up, mas nota que não há tantas mulheres quanto homens na água.
O surf camp voltado para o público LGBT nasceu de uma parceria de Marta com Thomas Castets, fundador do site gaysurfers.net, que descobriu que outros surfistas gays queriam marcar uma trip juntos. “Criei o site em 2010 para encontrar um ou outro surfista gay. Acabei encontrando 5 mil”, diz Castets. Ele também produziu o filme Out In The Line-Up, que retrata a jornada de dois surfistas que saem das sombras para criar uma cultura de aceitação no surf. O documentário mostra ainda que surfistas homossexuais que competem profissionalmente têm de se assumir apenas após as competições, pois podem ter a imagem prejudicada. Parte da renda dos dois primeiros surf camps organizados pela Brazil Ecojourneys foi revertida para a produção de Out In The Line-Up.
Em 2015 é a terceira vez que o camp será realizado, desta vez exclusivo para lésbicas e amigas mulheres, de todos os países. Destinado a todos os níveis de atletas, o camp oferece aulas de surf e ioga, com cinco dias de surf pelos melhores picos de Santa Catarina, com chegada na praia do Rosa no dia 9 de maio e saída no dia 16. O custo da trip é de 1300 a 1800 dólares. (Veja aqui como participar).
Experiência A canadense Tanya Churchmuch, 45, participou do surf camp LGBT há dois anos e afirma ter tido uma experiência brilhante. “Era só minha segunda vez surfando, mas já tinha me apaixonado pelo esporte. Sou do leste do Canadá, então o surf não faz parte da nossa cultura. É algo que sempre quis tentar, mas nunca soube onde ou quando poderia. Fiz algumas aulas e me apaixonei pelo esporte”, declara.
O clima de camaradagem no camp em Floripa fez com que Tanya se sentisse à vontade para praticar o surf. “Fazer parte de um grupo de gays e lésbicas que são todos iniciantes facilitou para que nos déssemos bem. Os professores eram bem pacientes, o que eu precisava.”
Tanya diz que sempre foi intimidada por ser uma lésbica de meia-idade aprendendo a surfar, mas sabe que no mar, há espaço para todos. “Sempre que estive em locais de surf apenas para curtir e assistir, o ambiente era machista, não muito convidativo. Até quando estávamos no camp havia caras tentando nos rabear, mas nossos professores conversaram com eles e garantiram que também haveria espaço para nós”, conclui.
Florianópolis Um censo divulgado pelo IBGE em 2010 revelou que a capital catarinense possui a maior concentração de gays no Brasil, com 0,11% de sua população de 418 mil habitantes declarada homossexual. Conhecida pela boa aceitação do público em geral e um índice de violência homofóbica praticamente nulo, o lugar é destino certo da trip feminina. “O crowd é receptivo e a cidade é muito amigável”, finaliza Marta Dalla Chiesa.