Entrevista exclusiva

Mineiro vai pra cima

0
980x582

Adriano de Souza busca o seu segundo título em Bells Beach, Austrália. Foto: © WSL / Cestari
 

Adriano de Souza está pronto para a segunda parada da temporada. Na manhã do dia primeiro de abril (noite desta terça-feira no Brasil), a World Surf League (WSL) inaugura a janela de espera pelas ondas para a realização do Rip Curl Pro Bells Beach 2015, nas lendárias direitas de Bells Beach, em Victoria, Austrália.
 
Campeão do evento em 2013 e terceiro em 2011, o brasileiro conhece bem o caminho das pedras no pico e está escalado logo na segunda bateria da primeira fase. Os adversários do atleta serão o australiano Kai Otton e o norte-americano Brett Simpson.
 
Em entrevista exclusiva concedida ao Waves, Adriano fala sobre o início da temporada. Depois de sofrer uma contusão na etapa disputada em Portugal, em outubro do ano passado, o atleta ficou afastado das competições e retornou em grande estilo, conquistando o terceiro lugar na abertura do tour deste ano, em Snapper Rocks. Apesar do resultado, Adriano revela que ficou chateado por novamente não conseguir o título da etapa.
 
Além da ansiedade de estrear na temporada, você sentiu a adrenalina de voltar a competir depois de um longo período de recuperação. Perdeu na estreia, mas cresceu durante a etapa e chegou à semifinal. Sentiu alguma dificuldade para recuperar o ritmo competitivo?
 
Estava muito ansioso quando o campeonato começou, principalmente depois que perdi na estreia e ficamos 10 dias esperando. Foi bem difícil. Eu estava totalmente sem ritmo, mas os treinamentos me ajudaram bastante. Levou um tempo até o meu peso voltar ao ideal e o meu corpo chegar à forma perfeita para competir. Esses três meses me preparando para a etapa de Snapper foram fundamentais para que a minha cabeça estivesse 100% durante o evento. Com certeza, a cada bateria que avançava eu ia crescendo no campeonato e ganhando motivação. Acabei perdendo para o Filipinho, que naquele dia estava iluminado e teve todo o mérito de vencer.
 
Há algum tempo você vem batendo na trave em Snapper e certamente está sedento pelo título da etapa. Porém, vinha de uma forte contusão e esse evento marcou seu retorno às competições. Podemos considerar um excelente resultado ou você ficou frustrado por chegar perto novamente e não conseguir a vitória?
 
Me machucou bastante não ter vencido o campeonato em Snapper. Nos últimos 10 anos eu sempre me preparei muito para essa etapa. O meu surf sempre se encaixou muito bem naquela onda e eu não ter vencido com certeza me machucou bastante, ainda mais vendo outro brasileiro vencer novamente. É difícil encarar todo esse retrospecto, mas agora é bola pra frente. Snapper já passou e agora estou num evento que já venci antes, numa nova fase. Estou muito focado nos treinamentos físicos e tentando sempre ficar 100% física e mentalmente. Não estou mais tão novo (28 anos), então agora tenho que ter bastante foco.
 
Você fez uma apresentação impecável contra Mick Fanning, que vinha quebrando e surfava em casa, e logo depois cometeu um erro na bateria contra Filipe Toledo. O que aconteceu?
 
A vitória contra Mick me deu bastante motivação para enfrentar Filipe. Foi uma bateria em que a minha tática deu muito certo e, em todas as ondas que vieram no caminho e eu procurei surfar, a minha escolha foi correta. Contra o Filipinho foi o contrário. Acontece… Acredito que era para eu perder e que era para o Filipe ser campeão daquela etapa. Quando é o seu dia, as coisas acontecem. Para mim, infelizmente aconteceu do lado oposto, mas eu saí de Snapper com um bom resultado. Não fico feliz pelo terceiro, mas acredito que para um título mundial esse terceiro certamente tem muito a somar.
 
Admito que foi um erro ter ido na onda da frente, pois a melhor onda da bateria veio logo atrás. Mas bateria é bateria, às vezes você acerta a sua tática e em outras vezes não. Até aquele momento, nenhuma série havia aparecido ainda, então me deu uma certeza de que aquela onda pequena era o que estava vindo no momento e que ela poderia me dar a liderança. Eu não estava confortável naquela bateria porque estava perdendo, então qualquer onda que viesse poderia ser uma oportunidade. Acabei acreditando naquela onda, mas no meio dela eu já sabia que não era a onda certa. Quando olhei para trás, Filipinho já vinha na melhor onda da bateria e juntou talento com onda boa. Ele tirou 9 e acabou me eliminando da prova.
 
E o retorno de Silvana Lima? Como é estar novamente ao lado da nossa única guerreira no tour?
 
A Silvana é uma guerreira, sempre apostei muito no potencial dela. Chegou a bater duas vezes na trave, quase foi campeã mundial. Ela tem um surf incrível e fico com um pouco de receio de falar sobre isso, pois é uma pessoa que surfa muito, tem um potencial incrível para ser campeã mundial e não tem muito apoio. O nosso país agora está em evidência com o título mundial de Gabriel. Todos acreditaram que esse dia poderia acontecer com Gabriel e poucas pessoas criaram essa expectativa com a Silvana. É difícil aceitar essa falta de apoio ao surf feminino, mas continuo acreditando muito nela e tomara que ela consiga realizar o seu grande sonho, que é ser campeã do mundo.
 
Como foi a parceria com André Teixeira, brasileiro radicado há alguns anos na Austrália e que está iniciando a carreira como treinador?
 
O trabalho que fiz com André foi muito legal. Ele me ajudou bastante na preparação antes e durante o campeonato. Além de ele ser um treinador, é muito amigo. Essa junção combinou bastante nessa etapa em Snapper. Eu gostaria muito de fazer essa perna australiana com ele, mas no momento estou viajando sozinho e estou com uma pegada muito forte para ir bem nesses eventos aqui na Austrália. Espero que no ano que vem a gente possa retomar esse trabalho e dar continuidade, pois adorei, deu muito certo e a gente ainda tem muito a melhorar.
 
Teremos mais duas provas na Austrália. Você é o único brasileiro que venceu a categoria masculina em Bells. Já na prova seguinte, em Margaret, não tem um bom histórico. Como vem se preparando para buscar o bi em Bells e tentar melhorar seu retrospecto em Margaret?
 
Com certeza é sempre bom se a agarrar ao histórico. É uma coisa que te dá motivação. Bells é um lugar em que sempre me dou bem. Chego sempre bastante cedo, procuro entender as ondas e no ano passado foi uma prova disso. Depois que o campeonato acabou, fiquei aqui por mais alguns dias para treinar e tentar entender mais do que a onda oferece, ficar mais por dentro. Por isso eu tenho um bom histórico aqui. São vários fatores e também preciso levar isso a outras etapas. Margaret com certeza é a minha etapa mais difícil e este ano não tem muito o que fazer, pois, assim que acabar em Bells, no dia seguinte já começa em Margaret.
 
Durante muito tempo você foi o melhor brasileiro no tour, mas no ano passado tivemos Medina como campeão mundial. Isso mexe com o teu psicológico, te motivando ainda mais a buscar a tão sonhada taça?
 
Acho que Gabriel tem todo o mérito de ter sido campeão. Venceu a primeira etapa, venceu também a mais difíceis do Tour, que são Fiji e Teahupoo. Ele venceu os eventos onde muito brasileiros têm dificuldade. Mostrou muito know how, muita técnica, muita dedicação. Além dessas etapas, sempre foi favorito nas outras, então foi um encaixe muito bom para ele e que trouxe o título mundial. Para mim, o que resta é trabalhar bastante, continuar na mesma pegada. Gabriel é Gabriel, eu sou eu e tenho que melhorar as minhas técnicas, melhorar o meu surf. Não estou muito preocupado com o que os outros vêm fazendo, e sim olhando a diferença do que ele vem mostrando. Só estou procurando seguir o exemplo dele.