No dia 18 de janeiro, o big rider gaúcho Fabiano Tissot encarou o swell mais pesado da sua vida na Praia do Norte, em Nazaré, Portugal.
Em sua terceira temporada, Tissot vem acompanhando a evolução do big surf no local e também a ação insana dos big riders, cada vez mais no limite da performance.
Na entrevista abaixo, ele conta como foi o swell de janeiro e como funciona os bastidores da onda mais cobiçada do surfe de ondas grandes na atualidade.
Quanto tempo você ficou em Nazaré esse ano e quantas temporadas já completou em Portugal?
Essa é minha terceira temporada consecutiva, fiquei um mês.
Como está a evolução do big surf por lá?
A evolução é nítida a cada ano e o aumento do crowd também. Nazaré se tornou um dos maiores campos de provas de ondas gigantes do planeta, não só por ser a maior onda, mas pela consistência das ondulações.
Como está a expectativa para o mundial de ondas gigantes na remada e qual a movimentação você viu por parte dos atletas?
Tem muita gente indo treinar e puxar os limites. O tamanho das pranchas está na casa dos 11 pés e o trabalho de resgate com o jet-ski muito requisitado. Quem não tem jet e um parceiro de confiança, acaba contratando o serviço dos locais. Isso não significa que vai dar tudo certo, teve um dia de remada em que oito jets acabaram na areia com algum tipo de avaria e tiveram que sair rebocados de trator pela praia. Se até o resgate passa por apuros, imagina os surfistas…
Quem são seus parceiros em Nazaré?
Meu grande parceiro é o Sergio Cosme, local que pilota e surfa muito, entende tudo do pico, e arriscou a própria pele para me tirar de uma encrenca na zona de impacto. No fim, terminamos os dois à deriva com um jet capotado e ele foi parar no hospital. O cara é um guerreiro e um amigo de verdade. Além do Serginho, que comanda a jet sessions, contei com o apoio do Nic Von Rupp e de David Langer, com quem fiz tow-in no dia 18 de janeiro.
Como foi a preparação para essa sessão do dia 18 de janeiro?
O mar estava gigante, o gráfico mostrava uma mancha preta enorme que ocupava praticamente toda a superfície do Atlântico. Mudei minha passagem na noite anterior para conseguir surfar e valeu o esforço. A galera comenta que foi um dos maiores mares da história de Nazaré. Só a preparação dos times locais na véspera do swell já intimidava.
Teve reunião de salvamento, equipe com paramédicos na praia, um cara no morro com rádio avisando sobre tudo que acontecia lá dentro e três jets no resgate de um surfista. Sendo que todos os pilotos tinham um rádio, inclusive acoplados no capacete, algo que eu nunca tinha visto. É muito legal de ver onde o big surf chegou em Nazaré, o nível está altíssimo e as coisas são feitas com muito conhecimento e embasamento técnico, o que não faz desses caras menos loucos. Os galpões parecem equipes de Fórmula 1, aliás, a velocidade da onda faz você se sentir em um carro de Fórmula 1.
Minha sorte foi contar com a experiência e coragem do David Langer. Ele está radicado em Nazaré e conhece muito bem a bancada. Na hora de pegar onda, estava muito difícil “competir” contra tantos caras bons dentro d’água.
Conseguiu pegar algumas boas?
Conseguiu pegar algumas boas?
Por sorte apanhei uma boa, o David soube manejar a situação e achar uma pra mim. A velocidade foi impressionante, algo que nunca havia sentido antes. Na sequência, peguei outra onda, mas minha quilha quebrou no meio da parede, caí de costas, sai rolando e fui engolido.
O lip simplesmente me marretou contra a água e o impacto estalou todas minhas vértebras, senti um choque no corpo inteiro, que ficou amortecido. Apesar de não ter engolido água, não parava mais de tossir e fiquei vendo o mundo girar por algum tempo.
Depois disso, já sem prancha para surfar, ficamos assistindo ao restante da sessão. A direita do Ross Clarke-Jones nós vimos de camarote. Foi a onda mais impressionante que já presenciei na vida. Ele veio por trás do pico e a ondulação sugou muita água da base, que retornava contra a onda em uma velocidade impressionante, formando uma verdadeira corrente embaixo dele. O lip arremessou “top to bottom”. Ross sumiu na espuma e achamos que ele tinha caído, mas do nada o cara apareceu e completou a onda. Não acreditamos no que vimos. Voltamos junto com ele pro outside comemorando. Se o cara caísse ali era caixão, direto para as pedras.
Em seguida, o vento entrou com muita força e o mar diminui. Era hora de voltar pra casa. Mas foi tudo certo, graças a Deus, ninguém se machucou e todos acabaram inteiros. Pra mim esse último surfe fechou a trip com chave de ouro, foi o maior mar da minha vida. Mas o big surf é assim, cada dia que você presencia o motiva a surfar ondas ainda maiores.
Gostaria de deixar um agradecimento para alguém?
Essa é a parte mais difícil, pois não dá pra esquecer ninguém… Mas agradeço ao Serginho, David Langer, a toda equipe Atowinj (Associação de Tow-in de Jaguaruna) e a galera da Laje da Jagua, Maria Morona, Nic Von Rupp, Tom Lowe, Fred David, Justine Dupont, Maya Gabeira, Eric Ribiere, Andrey Karr, Toby Cuninghan, Lucas Chumbinho, João de Macedo, Lino Bogalho e Nazaré Water Fun, Abel Preceves, Praia do Norte, Dona Lena, Marisa, Maly Land e toda comunidade de Nazaré. Muito obrigado!