A pernambucana Atalanta Batista esteve recentemente no Rio de Janeiro e aproveitou para pegar algumas ondas na praia da Macumba, tradicional reduto do longboard carioca. O fotógrafo Allan Gandra não perdeu tempo e registrou alguns momentos da longboarder. Atalanta é um dos maiores nomes dos pranchões no Brasil, onde coleciona uma vasta galeria de títulos nacionais, além de ser a atual bicampeã sul-americana. Recentemente bati um papo com ela a respeito do título recém conquistado no Peru e sua visão da modalidade no momento atual.
Como foi o campeonato no Peru?
Essa foi a segunda vez que teve a categoria feminino no sul-americano de Huanchaco. Foi importante, mas poucas meninas participaram. A falte de interesse talvez se dê pela baixa premiação, que foi de apenas mil dólares, fazendo com que o custo-benefício acabe não valendo a pena.
Você acha que isso tira o brilho da categoria feminino em um evento importante como esse?
Com certeza tira um pouco, mas eu tenho esperança de que isso vai mudar. É preciso pensar positivo, que cada um faça a sua parte e que pessoas que realmente gostem do longboard trabalhem para que as coisas aconteçam, porque continuar com uma etapa do Mundial por ano é muito pouco, assim como um ou dois eventos qualificatórios.
Diante da escassez de eventos e dificuldades para viver como surfista profissional, como você se motiva para continuar competindo e vencendo eventos?
Quando comecei a surfar de longboard me apaixonei pelo estilo clássico, além do clima mais leve da modalidade, e isso ajuda a manter a vontade acesa. Não ter um calendário fixo durante o ano é difícil, compromete o planejamento até mesmo na hora de mostrar que vale o investimento de possíveis patrocinadores. Mas eu tenho o objetivo de ser campeã mundial e decidi que só vou parar quando alcançar esse objetivo.
Apesar de poucos campeonatos você continua vencendo. Como você enxerga essa situação de soberania no Brasileiro e sul-americanos?
Apesar de estar vencendo, procuro não me acomodar. Aparecer novos talentos pode acontecer a qualquer momento, então procuro estar sempre treinando muito melhorando minhas pranchas para poder sempre me manter no topo.
Quem te surpreendeu durante a disputa desse último título?
A peruana Maria Fernanda Reyes, que tem muito talento, um potencial enorme para o longboard, e é muito jovem. Apesar disso acredito que qualquer uma das outras competidoras, principalmente as brasileiras poderiam me surpreender, até mesmo pela experiência.
Fale um pouco sobre suas pranchas.
Recentemente comecei a usar, além das minhas progressivas, uma single fin desenvolvida pelo meu shaper Lufi, que é de Portugal. Passei uma temporada lá e tivemos tempo para trabalhar isso. É uma prancha que funciona para uma determinada condição de mar. Quando peguei na Europa não estranhei muito, mais quando cheguei e Maracaípe, onde moro, senti dificuldade, pois a onda é muito exposta a ventos fortes e fica mais balançada e irregular. Mas em Itapuama, que é próximo de casa, ela funciona legal pela característica da onda. São outras sensações, um surf bem fluido e divertido.
O que você acha desse caminho de resgate do surf tradicional em competições da WLS?
Eu acho que em um campeonato pode haver os dois critérios. Tudo depende das condições do mar, mas vem sendo válido esse resgate do surf clássico. As manobras de bico melhoraram nitidamente, pois a galera vem se preocupando muito mais com a linha horizontal do que com a radicalidade. Eu mesma, que vim da pranchinha e por isso tinha uma pegada mais radical, agora me sinto muito mais preparada para o surf clássico. Já vinha buscando isso desde que comecei a surfar de pranchão e essas novas determinações da WLS só vêm me ajudando a melhorar ainda mais nesse sentindo.
Você vinha dominando o circuito brasileiro e agora domina o sul-americano. O que falta para ir mais longe no Mundial?
Isso é o máximo que eu espero de mim. Sempre procurei evoluir passo a passo. Primeiro foi o brasileiro, depois o sul-americano, e sei que é isso que vai me levar a ter sucesso no Mundial. É o que eu mais almejo, trabalho muito para isso, sei que é uma questão de tempo. Sei também que ainda preciso deixar meu surf mais polido, pois esse é o diferencial das surfistas que vêm chegando ao pódio do Mundial. Melhorar os cutbacks, caminhadas para o bico, ainda sou nova no longboard mas acredito que estou no caminho certo.
Você consegue vislumbrar um prazo para deslanchar de vez no circuito mundial?
Estou trabalhando para que aconteça a curto prazo, penso em dois anos, mas a gente nunca sabe o que pode acontecer em competições de surf. Ser campeã mundial é uma conquista que eu planejo a curto prazo, mas não significa que vou desistir se isso não acontecer logo.