Gabriel Sodré

Direto do México

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Enquanto escrevo este texto, estou aqui no México, prestes a completar minha oitava temporada nos tubos de Zicatela.

Este lugar é muito especial para mim. Desde a minha primeira temporada, já sabia que seria um lugar ao qual voltaria por toda a minha vida. Uma confusão de sentimentos, adrenalina misturada com medo e êxtase. Uma onda muito desafiadora, pesada e perigosa, mas da qual eu não vivo sem.

Eu me lembro muito bem da primeira vez que cheguei a Puerto.  Na ocasião, ao chegar à praia, vi o mar mais perfeito que já havia visto, com tubos para todos os lados. Pensava que ia pegar 20 tubos por queda até ir ao mar e começar a cair na real, vendo a dificuldade que era para pegar aqueles tubos que vi da areia. Um crowd pesado de pessoas que surfam bem, os locais como sempre ditando a regras, além da dificuldade da onda que, por si só, já é de arregalar os olhos de qualquer japonês.

Saí do mar e tinha completado só um tubo, em uma onda intermediária, mas tinha visto tubos absurdos de várias pessoas. Foi aí que realmente coloquei na minha cabeça que tinha que aprender a surfar essa onda. Venho me dedicando bastante a isso e estou muito satisfeito com os resultados, tenho evoluído muito a cada temporada.

Atualmente, já me sinto muito confortável em Zicatela, mas, claro, sem perder o respeito nunca. Aqui a natureza te mostra o quanto ela é forte e você se sente uma formiguinha sem condições de lutar contra esse gigante e, ao mesmo tempo, aprende a lidar com esse gigante, respeitando-o e fazendo o que ele te permitir fazer.

Este ano vim focado em pegar um tubo em um swell com bom tamanho (não vou dizer grande porque as proporções aqui são diferentes), mas no ano passado peguei um bom swell de 10 a 15 pés, consegui pegar duas ondas com bom tamanho, mas que não coloquei pra dentro, outro que não saí em uma intermediária de uns 8 pés. Agora, melhor preparado com uma gun 8’4 feita especialmente para onda de Zicatela, muito grossa e com bastante area no bico, além, é claro, de um colete de flutuação.

O mês de outubro tem sido incrível desde o início. O mar não fica abaixo de 6 pés e, há três semanas, deu um swell animal com ondas de 15 pés e tubos pesados, muitos fechando, mas alguns abriram perfeitos, e dessa vez eu estava concentrado e bem preparado, pois já tinha surfado uns tubos em umas ondas “grandes”.

No maior dia que surfei, fui o primeiro a entrar na água, junto com os brasileiros Marcelo Mota, Rafael Sterza e o local Pepino. Havíamos acabado de entrar no mar, era umas 7:15 da manhã, entrou uma série que pra mim era gigante. Eu estava posicionado deep atrás do pico e ela parecia que ia ser perfeita, decidi que ia nela quando vi que o Marcelinho também começou a remar e eu sabia que  estava muito deep e que talvez ele estivesse melhor posicionado. Foi quando ouvi ele gritando “dale moleque, dale”. Daí em diante, comecei a remar pela minha vida em direção à areia, quando vi já estava descendo a ladeira, fiz o bottom turn e vi aquele monstro empilhando água e arremessando o lip numa distância que eu nunca tinha visto. Só me lembrava do ano passado, quando não coloquei para dentro, e nessa hora pensei seja o que Deus quiser, hoje vai ser pra dentro, mas realmente eu estava muito deep e a onda fechou inteira, coloquei pra dentro e depois pulei da prancha. Como sempre surfo sem strep aqui em Puerto, minha prancha já foi pra areia e eu tomei mais duas ondas na cabeça até conseguir sair do mar.

Eram 7:20 da manhã e eu já sentia que tinha cumprido missão, tinha surfado o maior tubo da minha vida! Não saí, mas e daí? Tive uma visão que poucas pessoas no mundo terão, já estava satisfeito comigo mesmo. Depois, ainda voltei pra água e peguei mais algumas ondas, mas só pensava naquela onda.

Como era muito cedo, ainda não tinha nenhum fotógrafo na praia (aquela velha história de pescador), mas meu amigo fotógrafo Luciano Sombrio, que veio com a missão de filmar minha trip, registrou em vídeo. 

A viagem está sendo alucinante, com altas ondas,  e acima, você confere uma seleção das melhores fotos da trip até agora.

Gostaria de fazer um agradecimento especial a todos que estao me apoiando nessa viagem,  em especial ao shaper Kronig designs com a laminação da Superglass, a Local Shorts Ipanema e a Thunder Fins, que turbinou minha gunzeira com as quilhas T7.