Espêice Fia

Encontro de campeões

0

O título é sugestivo, afinal todos tem “títulos”. Para a mídia é ótimo, mas me sinto mais confortável fazendo uma bateria de apresentação. Enfim, foi ótimo ter participado de mais uma bateria de encontro de ex-surfistas profissionais de distintas gerações do surfe brasileiro.

Na água, entre as finalíssimas do QS Praia do Forte Pro, estavamos lá no pico do Papagente eu, Armando Daltro, Carlos Burle e Christiano Spirro.

Silvana Lima acabara de vencer a final feminina em cima de Nathalie Martins. Pelo surfe apresentado ali, fica difícil entender como ela não obteve um título mundial. Creio que a resposta seria o fortalecimento psicológico para uma volta ao CT e embarcar com tudo. Apesar do atual alto estágio de competitividade das meninas no mundo, ”Sil” ainda tem bastante lenha pra queimar.

A Praia do Forte é muito astral e todos compartilham isso. Direitas cavadinhas embalaram nossas performances, com direito às regras normais de baterias, incluindo as prioridades. E mesmo que não tivesse, estaríamos respeitando a vez do próximo, claro.

Perdemos a primeira série – a correnteza havia nos tirado do pico. Abro a bateria com uma onda pequena só pra esquentar e quebrar o gelo. Mandinho, Spirro e Burle são os próximos. Spirro logo faz uma boa onda e seguida de outra vai pra primeiro. Todos ainda mostram competitividade, talvez Burle seria o mais relaxado. Sua especialidade momentânea são as ondas grandes, gigantes, e aquela marola era mais uma brincadeira mesmo. De qualquer forma, para ele seria um treino competitivo, caso ele estivesse pensando nisso. Guardadas as devidas proporções e os critérios de competitividade em competições de ondas grandes, no mínimo decisões ágeis são importantes. Burle tinha a prioridade, e em certo momento acabou remando e perdendo-a por não ter entrado na onda. 

“Burlê, não podes dar esse mole na competição de ondas grandes”, disse eu divertidamente. O fato é que Spirro pegou a prioridade e de posse dela começou aflorar sua competitividade. Quando as séries vinham, ele ameaçava ir na onda, e ao notar que parávamos de remar, ele não remava, dizendo não estar caracterizando uma possível perda de prioridade. Dessa forma, ficou segurando a turma para o tempo ir passando. Não me contive e dei uma cutucada: “Como é que é, meu papitinho? Não vai querer pegar a onda não, é? Essa prioridade tem que mudar”, falei rindo.

O fato é que nos 7 minutos finais Spirro estava liderando com folga, mas pra fazer jus à bateria de épocas passadas, passaram a não mais dar nossas notas. Burle surfou, e peguei umas duas boas e a disputa ia chegando ao fim quando Mandinho fez uma onda na regressiva. Olhando por trás, vi que havia sido boa e ali pensei que a liderança pudesse ter ido pra ele.

Só soubemos do resultado no pódio, quando uma chuveirada de Skol Ultra foi derramada por Burle. Acabei vencendo, com Madinho em segundo, Spirro em terceiro e Burle em quarto.

Independente de qualquer coisa, foi uma bela homanagem e confraternização. Mas a grande bateria daquele evento estava por vir. O funil havia apertado e a dobradinha baiana havia se desdobrado com as performances de Bino Lopes e Marcos Fernandez. Os dois estavam simplesmente quebrando!

Fernandez surfou muito forte e redondo, assim como Bino, que parecia desgarrar ligeiramente um pouco mais sua prancha. Enfim, foi um espetáculo e um tinha que vencer. Deu Bino e a PF ficou em festa. #AcarajéStorm.

As ondas, que melhoraram no domingo, amanheceram maiores e ainda melhores na segunda-feira. Ondas fortes tanto na esquerda quanto na direita fizeram a cabeça dos que acordaram com o Sol e terral. A turma desmontava o palanque quando voltei ao hotel pensando sobre o evento, que veio em um bom momento pra esquentar o surfe brasileiro na prévia do CT.

Fábio Gouveia
Campeão brasileiro e mundial de surfe amador, duas vezes campeão brasileiro de surfe profissional e campeão do WQS em 1998. É reconhecido como um ícone do esporte no Brasil e no Mundo. Também trabalha como shaper.