Os últimos anos do big rider Rodrigo Koxa foram uma verdadeira montanha russa de emoções. Entre 2010 e 2014, o paulista foi do céu ao inferno, vivendo momentos de êxtase e realização na carreira, e também provação e medo.
Não é fácil ser big rider no Brasil, muitos menos manter seu nome entre os “Tops” desse seleto grupo – e Koxa sabe bem disso. Conversamos rapidamente com o big rider, logo após de Koxa publicar em seu blog um relato emocionante de suas temporadas passadas, o verdadeiro “dois lados da mesma moeda”.
De um lado, o atleta viveu algumas das glórias da modalidade, surfou nos principais picos de ondas grandes do mundo, concorreu a prêmios importantes por suas performances, e até alcançou o recorde de maior onda surfada na América do Sul, com uma bomba de 60 pés de face, cerca de 21 metros no Chile, mas do outro, em uma de suas investidas, acabou vendo a morte bem de perto depois de ficar à deriva, aguardando o resgate que não veio, bem em frente às bombas gigantes e mortais de Nazaré, em Portugal.
Todos os episódios vividos deixaram marcas no surfista, que hoje, aos 36 anos, já recuperado da lesão e parcialmente do trauma, leva consigo somente os aprendizados – que são muitos -, e a paixão em domar ondas grandes. Em nosso papo, o big rider falou sobre passado, presente e futuro. Veja.
O trauma de Nazaré já foi superado?
Superado sim, esquecido não. O que aconteceu em Nazaré foi como uma experiência de guerra, que, por um bom tempo, me deixou psicologicamente abalado. Mas, graças a Deus, sou marido de uma psicóloga e filho de uma psicoterapeuta (risos). Brincadeiras à parte, foram várias sessões com cada uma delas para elaborar e ressignificar cada etapa daquele dia. Isso foi muito bom, porque se tornou um processo de autoconhecimento. Hoje eu me sinto realmente pronto e preparado para surfar Nazaré gigante novamente. Na verdade, eu não vejo a hora de a temporada começar.
O que mudou na água depois de Nazaré?
Tudo mudou depois de Nazaré, tanto dentro como fora da água. Sempre respeitei demais o oceano e nunca o desafiei. Meu trabalho sempre foi focado no feeling e na conexão com o mar. Até hoje, as ondas que surfei foram presentes do universo. De fato, nunca dropei uma onda ou larguei da corda no tow in sem ter a certeza absoluta de que aquela onda é para mim. No entanto, depois de Nazaré, este respeito e conexão triplicaram – e vou explicar o porquê. Antes de Nazaré, eu acreditava que esse respeito era o suficiente para manter meu desempenho e me dar bem numa sessão, mas Nazaré me ensinou que isso era o básico e que, para eu realmente desempenhar o meu melhor lá e em todos os picos desafiadores do mundo, eu precisava ir além. Eu precisava de treino, de equipe, de equipamento, de psicológico e de equilíbrio – e isso mudou. Estas bases, acrescidas do respeito e da conexão que eu mantenho com o oceano, são, atualmente, o meu protocolo de trabalho e fazem parte do meu novo dia a dia, tanto dentro como fora da água.
Confira no vídeo abaixo o momento em que Koxa é engolido em Nazaré.
Qual os planos para 2016/2017?
Meus planos são continuar surfando as maiores ondas do mundo, seguindo os grandes swells e trabalhando! Em outubro embarco para Portugal, e devo ficar lá até dezembro. Em janeiro e fevereiro eu provavelmente estarei de olho nas ondulações do Havaí e Califórnia. E assim vai. ‘Go big forever!’.
Como lida com os medos na água?
Viram combustível, com certeza. Eu sempre senti medo e acredito que sempre sentirei. Não está relacionado a episódios específicos, mas sim ao respeito que sinto pelo mar. Acredito que se um dia eu perder o medo eu perderei o respeito, então o medo é o meu combustível para bombas.
Sobre ondas grandes no Brasil, na sua opinião, existe um pico de nível internacional? Se sim, qual?
Na minha opinião, a melhor onda para big surf no Brasil está localizada na Ilha dos Lobos, no Sul do País, que quebra gigante, linda, de nível altíssimo, aproximando-se de Teahupoo, no Taiti, mas atualmente é inacessível para nós, surfistas, já que se encontra em uma reserva de preservação ambiental.
Entretanto, acredito que nosso problema com as ondas grandes está mais ligado ao fato de não termos grandes ondulações por aqui. Os swells grandes que se formam em nosso oceano quase sempre vão em direção à África, fugindo do nosso litoral, diferente do que acontece no Chile, por exemplo, que fica no mesmo continente que o nosso, mas lá as ondulações vão de encontro à sua costa. De qualquer forma, eu aposto na Laje de Jaguaruna como um dos nossos picos grandes com nível internacional. Sei que Fernando de Noronha também tem ondas de muita qualidade, mas eu nunca surfei lá. Na real, os surfistas brasileiros estão organizando diversas expedições para explorar o nosso litoral e estão desbravando muitas lajes com potencial quebrando em São Paulo, Rio de Janeiro e também outros estados. Mapeando essas lajes especiais, ficamos na torcida para que as grandes ondulações apareçam.
Na sua visão, quais as dificuldades de ser um big rider no Brasil?
No Brasil, há muitas dificuldades para ser um big rider, mas acredito que a principal dela é treinar. Nós não temos ondas gigantes em nosso extenso litoral. Claro, temos alguns picos bons, mas que não são constantes e, nas raras vezes que quebram, acabam funcionando sem tanta qualidade. O big rider brasileiro, de fato, precisa viajar muito para aprender a surfar ondas grandes, e este foi o meu caso. Passei anos da minha vida morando fora do Brasil, para aprender e me sentir pronto para surfar as maiores ondas do planeta.
E agora, sem patrocínio?
Aí tudo fica mais difícil. Nós que vivemos do esporte e trabalhamos para gerar conteúdo que, sejamos francos, tem apelo da mídia e aguça o interesse das pessoas, nós precisamos contar com o apoio de empresas que acreditem no esporte e que consigam se beneficiar deste marketing. Para um surfista de ondas grandes se tornar um dos melhores do mundo, ele precisa de muitos anos de experiência e, por isso, acredito que os atletas com história devem ser valorizados, assim como acontece fora do Brasil.