Nos últimos dias 21, 22 e 23 de fevereiro de 2017, completaram exatos 23 anos de realização da primeira etapa do Circuito Brasileiro de Surf Profissional 94 – válida para o recém criado Mundial WQS da ASP -, que marcou a história do surfe brasileiro. Muitos dos que lêem este texto, naquela época, ainda nem eram nascidos.
A realização do lendário OP Pro Imbituba 94 marcou, em definitivo, a entrada da praia da Vila, em Imbituba, no calendário nacional/mundial – e por que não dizer – das competições profissionais. Foram três dias de expectativa, alimentadas por histórias de grandes ondas, que já pulsavam na cabeça dos atletas profissionais que integravam o Circuito Brasileiro, já que, na época, poucos deles conheciam o potencial real das ondas de Imbituba.
Após dois dias com ondas pequenas – mais perfeitas -, com parte da imprensa já questionando a escolha de Imbituba para a realização do evento, um moderado vento leste soprou durante o sábado (22) a tarde e varou a madrugada de domingo (23). Ao amanhecer, todas as dúvidas estavam desfeitas. Ondas de 12 pés – em torno de 3 metros -, entravam com força ao lado da Ilha Santana de Dentro, deixando alguns Tops do evento desguarnecidos, pois muitos não haviam levado equipamento adequado e necessário para aquelas condições, já que o evento ocorria em pleno verão.
De acordo com a clipagem realizada na época, o OP Pro foi o segundo evento mais divulgado pela imprensa em geral, ficando atrás apenas do Mormaii Locobeach 88, em Garopaba. E essas estatísticas se mantiveram por décadas, até o início da era CT no Brasil.
Um dos maiores empresários do surfe brasileiro na época, hoje falecido, Sidney Tenucci, o Sidão da OP, acreditou e apostou pesado para realizar este evento, que comemorou o fim da “era ICC” (Industria Carboquímica Catarinense), contratando, inclusive, uma equipe exclusiva de filmagem para fazer o vídeo do evento, algo quase inimaginável financeiramente na época.
“Transferi o OP Pro para Imbituba em 1994, local que pouca gente lembrava que existia em função da detonação que a carboquímica causou no local e na vegetação, por motivos afetivos e pessoais. Em 1973, surfei lá pela primeira vez com amigos, sem cordinha, que nem havia sido inventada, uns 2 metros e meio. Acabávamos de chegar do Peru”, relatou Sidão em uma de suas entrevistas.
Junto com Sidão da OP, a participação da Prefeitura de Imbituba foi decisiva para a realização do evento. O prefeito, naquela ocasião, Jeronimo Lopes, não mediu esforços e reuniu diversas entidades da cidade, formando uma comissão para a organização do campeonato, dada a grandeza do evento, algo que nunca havia ocorrido na cidade.
O evento também ficou marcado pela montagem do primeiro palanque móvel do Brasil, em eventos de surfe – e um dos primeiros do mundo. A idealização do projeto e a construção do palanque, construído em cima da carroceria de um caminhão, usado para transporte de contêineres, ficou a cargo do engenheiro Roberto de Bona, responsável,na época, pelo setor de planejamento da Prefeitura de Imbituba, e que tem em sua família diversos surfistas.
Moacir Ciro Martins Júnior, proprietário da HB Assessoria de Imprensa, contratada pela realizar a divulgação dos eventos da ABRASP (Associação Brasileira de Surf Profissional) em 84, também relembra daquele memorável evento: “Foi o Sidão que fez! Como sempre soube montar uma equipe que cumpriu seus objetivos. Tive orgulho de fazer parte dela com a HB Comunicações. Quem não conhece surfe nas nuvens em breve vai estar sonhando com essa nova modalidade que o cara vai implantar lá em cima. Sidão, o cara!”, finaliza.
“O evento acabou vindo mais rápido que as pretensões da entidade na época. Mesmo assim, foi um marco para o surfe imbitubense e catarinense, e que precisa ser lembrado sempre, pelo legado deixado até os dias de hoje, quando outros grandes eventos ocorreram, como o Super Surf, culminando com a realização durante 7 anos do CT no Brasil”, relembra Eduardo Rosa, ex-presidente da ASI (Associação de Surf Imbitubense), que comandava a entidade em 84.
Presidente da FECASURF naquele momento, Bira Schaufert, também relembra o evento: “Em 94, era o último ano de nossa gestão à frente da Fecasurf, e foi ano da saída do OP Pro de Florianópolis, da praia da Joaquina. A marca OP Pro sempre esteve associada ao surfe catarinense, e marcou uma época importante da profissionalização em nosso estado. Ter feito a última edição do OP Pro na praia da Vila, na nossa gestão, foi um marco para o surfe catarinense, para todos os surfistas e para o surfe brasileiro”.
Neste mesmo campeonato, o local Fabinho Carvalho, que já trilhava seu caminho nas competições, venceu a bateria Expression Session, que elegia a melhor manobra executada, com um tubo profundo em direção ao canal da Vila.