Mick Fanning escreveu em seu Twitter que estava cruzando todos os dedos que tinha para a segunda etapa do ano, no selvagem ambiente de West Australia (WA), começar em North Point. As lindas imagens das triagens corriam o mundo para respaldar a opinião do tricampeão. Todos queriam o pico.
Mas o surfe carrega o DNA da imprevisibilidade – e tudo o que vem junto com isso, inclusive um dia de notas infames numa onda belíssima. Uma ou outra série quebrava de maneira magistral, mas alguns elementos necessários a North Point não se encaixaram na abertura da segunda parada do WCT. O mar tinha tamanho e beleza, mas sentiu falta de frequência e direção de swell, além de equilíbrio com a maré.
Competições da elite, claro, precisam mais que alguns momentos brilhantes. Constância e consistência de ondas são elementos indispensáveis à disputa. Não cabe comparação, claro, mas, do ponto de vista estrito da competição, picos como o Postinho, no Rio de Janeiro, já foram massacrados por essa instabilidade.
Na fase 1, em North Point, cinco das 12 baterias disputadas foram vencidas com somas inferiores a dez pontos – destaque para Julian Wilson, que passou direto ao round 3 com uma risível média de 4,9. Dos 36 surfistas alinhados no evento, dez deles fizeram somas inferiores a quatro pontos; cinco não chegaram sequer a dois pontos. Foi o caso de Josh Kerr, que terminou sua bateria com zero, sem somar sequer uma onda – não lembro disso ter acontecido na história recente da elite.
Nos parcos momentos de brilho do pico, alguns nomes naturalmente afeitos a ondas selvagens apareceram no holofote, como Jordy Smith, John John Florence, Jeremy Flores, Michel Bourez e Sebastian Zietz.
Jordy estava solto e potente, JJ acertou um belo aéreo, Jeremy e Michel mostraram a conhecida consistência em ondas pesadas e Seabass, ah, que onda, que tubo inacreditável. Se os juízes pudessem dar 15, dariam com justiça.
Quem visse a onda do havaiano isoladamente, gritaria para que todas as etapas da elite fossem realizadas naquele mar azul. Em competição, vale o conjunto de muitas ondas no dia, não de um momento belíssimo. North Point, ontem, era pico de freesurf. Ou para contemplar fora d’água, de preferência na companhia de um bom vinho australiano.
Surpreenderam também alguns estreantes, como Ian Gouveia e Jessé Mendes. Ian alcança o round 3 pela segunda vez seguida, e Jessé, líder do WQS, voltou a vencer seu velho rival dos tempos de amador, Gabriel Medina.
Do ponto de vista de audiência online de surfe, North Point, apesar de belíssima, revelou-se até agora um tiro no pé. Pouquíssimas ondas surfadas e muita falação dos comentaristas, que giram pratinhos para segurar o público.
As meninas devem ser as próximas a entrar na água. Agora, nos resta torcer para encontrarem, além de tubarões e paisagens, a velha constância no oeste australiano. Que seja em North Point num dia mais feliz, em Margaret River ou até na oca The Box, apesar de sua fama de injusta com os goofys.