Dias depois de o Quiksilver Pro terminar, em março, Italo Ferreira rompeu um ligamento no tornozelo direito durante uma sessão de freesurf na Gold Coast. A lesão era tão dolorosa que ele precisou sair carregado da praia, com as feições contraídas.
Relegado a muletas e a tomar um avião de volta para casa, o brasileiro famoso pela altura de seus aéreos foi forçado a perder o Drug Aware Margaret River Pro, o Rip Curl Pro em Bells e o Oi Rio Pro no Brasil. Seus médicos esperavam que ele estivesse pronto para um retorno em julho, no Corona Open J-Bay.
Mas a recuperação de Italo surpreendeu sua equipe. Ele se antecipou ao objetivo por um mês, curando-se justo a tempo de fazer a longa viagem para o Outerknown Fiji Pro, que está acontecendo nesta semana. E depois de vencer suas duas primeiras baterias, tudo indica que ele está de volta pra valer: no terceiro round ele eliminou o campeão do mundo de 2014 e defensor do título do evento, Gabriel Medina, numa batalha acirrada que se estendeu até os últimos segundos da disputa.
Após o resultado que deixou Italo com a confiança redobrada, a WSL conversou com seu técnico, Luiz “Pinga” Campos, para entender melhor o trabalho envolvido durante a incrível recuperação do atleta.
Derrotar o defensor do título do Fiji Pro é uma maneira bastante sólida de enviar uma mensagem de que você está de volta… O que você pode contar sobre Italo nos últimos meses?
Depois de se machucar, começamos os cuidados ainda na Austrália, e ele tomou alguns remédios para aliviar a dor. E quando voltamos para o Brasil, fomos a três médicos para decidir como faríamos o tratamento e iniciamos a fisioterapia no mesmo dia. E trabalhamos nove ou dez semanas, todas as semanas, todos os dias, exceto os fins de semana.
Eu não estava com ele apenas em dias de fisioterapia, mas todos os dias. Quando voltou a surfar, fomos ao Guarujá, durante cinco dias. E decidimos, um dia antes de seu embarque, ir a Fiji.
Mas ele sempre quis ir a Fiji, e insistiu dia após dia, mas eu disse: “Precisamos saber o que seu pé diz. O que seu pé nos conta? (risos) Mas ele estava muito confortável, cheio de confiança. E ele foi muito forte na recuperação, seu corpo curou muito rápido. Ele trabalhou muito.
O que os médicos fizeram?
Ultrassom, laser, gelo e movimentação (alongamento) no tornozelo. Trabalhamos com uma equipe muito boa: o Dr. Marcelo, o especialista em tornozelo, o fisioterapeuta Igor, o treinador Marcos. Todos trabalharam juntos – Erika, que fez a terapia de massagem. A alimentação. Três ou cinco pessoas conversavam todos os dias sobre o que estava acontecendo e o que fazer. O plano de Italo era voltar no campeonato do Rio, mas sabíamos que isso não era possível, porque, com um previsão de recuperação normal para essa lesão, a linha de tempo para ele voltar para a água seria 14 de junho.
É verdade que Italo só voltou a surfar cinco dias antes de ir para Fiji?
Sim. Quarta-feira… seis dias. Mas ele trabalhou muito duro para isso. A primeira ideia era que ele voltaria para J-Bay. Isso é normal. Mas quando o médico viu a última ressonância magnética, ele disse, não há problema. Os exames de laboratórios estão bem. Mas Italo trabalhou muito duro todos os dias. Ele nunca parou. Ele estava em São Paulo o tempo todo.
Ele precisava de um grande presente, no entanto.
Você estava nervoso, observando-o competir em Fiji?
O primeiro confronto foi muito importante. Ele tinha que recuperar sua confiança. Em sua bateria contra Gabriel, ele estava mais confiante. O problema agora é a mente dele. Clinicamente, ele está bem. Ele é muito confiante, ele entende o que é importante, as táticas, a abordagem nos eventos.
Falamos muito sobre isso, para prestar atenção aos outros caras – o que o outro está fazendo. Qual é a abordagem dele, qual é o posicionamento dele no mar – as táticas do outro cara também.
Quais foram os elementos cruciais que o fizeram passar por Gabriel?
Italo usou as mesmas táticas que ele usou em todas as suas baterias lá até agora. Gabriel foi para fora em busca das séries maiores, mas sabemos que, em Fiji, nem todas as ondas vêm do outside. Depende da direção do swell. Nós sabemos disso. E o tubo abre mais no inside. Eu acho que isso é a melhor coisa lá. Em 2015, ele teve um bom resultado lá – quando ele ganhou do Kelly, ele usou as mesmas táticas. Mas é importante prestar atenção a isso. E o que os caras estão fazendo com a prioridade. Sabemos quais caras que gostam de botar uma pressão direta e tentam tirá-lo do lugar certo. Então vamos pra fora e depois voltamos. Italo presta atenção ao que o outro está fazendo. É uma competição mental.
Todo mundo (no Tour) tem o talento. Mas você tem que prestar atenção e pensar. Minha filosofia de trabalhar com essas garotos é a seguinte: preciso ajudar para que desenvolvam a mente. A última decisão não é minha – quem está na água é o cara. Ele precisa entender o que está acontecendo. A mentalidade da competição – os caras precisam de apoio com isso.
Texto publicado pela World Surf League.