Rosa dos Ventos

Edu Martins morreu

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Escrevi sobre Edu Martins na coluna do mês passado e faço novamente aqui. Porque o cara nos deixou de forma muito chocante!

Eu o conheci há um ano, mais ou menos. Um fotógrafo amigo do Rio me escreveu perguntando se eu o conhecia e que era para eu acessar seu Instagram e acompanhar o trabalho desse jovem paulistano.

Fui lá e as imagens dos conflitos que ele cobriu e as de surf eram muito boas mesmo. Alguns dos principais nomes do jornalismo de guerra o seguiam, a United Nations também, Edu tinha 127 mil seguidores, um fenômeno. A história dele, idem.

Nesses meses em que ficamos em contato, acompanhei as fotos e vídeos que ele postou e foram publicados [ou não] pela BBC, Wall Street Journal, Al Jazeera, Le Point, um perfil no respeitadíssimo Lens Culture, uma espécie de Everest da fotografia documental, também em reportagens na Vice… esses são alguns dos principais veículos de comunicação do mundo.

Todas as histórias entre Iraque, Síria, e Gaza, onde Edu ajudava a manter o campo de Beit Hanoun, ao norte da cidade palestina… Nessa cidade, que tive a oportunidade de visitar em 2001 e que é a maior prisão a céu aberto do mundo, Edu também ensinava as crianças a surfar em Gaza Beach.

Ele era um grande surfista. Quando não estava em campo com as tropas acompanhando a retomada de Mosul, no Iraque, estava surfando em Mentawaii, Fiji ou Puerto. O cara era queridão, além de um talento enorme e bonito pra cacete. Os comentários das namoradas e dos amigos dele no insta eram calorosos, sempre saudosos das baladas e tal.

Nas duas últimas vezes em que falamos, sempre pelo WhatsApp, ele me disse que estava exausto, abalado emocionalmente pelos meses em Mosul, mas que iria para Raqqa, Síria, para mais uma investida. Em seguida, voltaria ao Brasil.

Atravessar a fronteira de países em guerra geralmente é uma preliminar exaustiva. São dias de estresse, papéis e autorizações que muitas vezes precisam ser retirados a quilômetros de distância, assinaturas certas, e um dinheiro para subornar um ou outro militar algumas vezes também ajuda.

O fato é que ele não conseguiu entrar em Raqqa, apesar do enorme conhecimento como voluntário da UN Refugee Agency, e ficou fora do ar uns dias.

Na última vez que falei com Edu, eu disse para ele o seguinte: “Edu, como vai? Meu caro, se você algum dia quiser contar a sua história, não a da Guerra ou a do surf, mas a ‘outra’, me procure.”

O cara de pau me respondeu: “Estou na Austrália. Tomei a decisão de passar um ano uma van. Vou cortar tudo, inclusive internet. Quero ficar em paz, a gente se vê quando eu voltar. Qualquer coisa, me escreve no [email protected]. Um grande abraço, Vou deletar o zap. Fica com Deus. Um abraço.”

Edu já sabia que eu sabia isso que vocês vão ler neste último parágrafo. Leiam sentados e com bastante atenção.

Um dia antes desse último contato com ele, eu havia recebido dois telefonemas de dois repórteres de dois grandes grupos, um brasileiro, outro inglês. Ambos perguntaram se eu o conhecia e achei estranho. Um deles me disse que estavam desconfiados que o correspondente freelance no Oriente Médio provavelmente não existia, que o @edu_martinsp na realidade era um perfil falso e que estavam investigando.

Edu Martins enganou este jornalista que escreve a vocês. Também uma namorada virtual carioca que está completamente apavorada com tudo isso, os principais veículos de comunicação do mundo e sabe-se mais quem.

De alguma quebrada, esse pilantra genial se passou por repórter fotográfico de Guerra e por mais de um ano deu a volta em todo o mundo.

Também apurei que a polícia está no caso e que, em breve, irão prendê-lo por crime na internet, danos morais, roubo de imagens e mais um monte. É uma pena. Eu gostava desse filho da puta. Qualquer notícia, informo por aqui. Bom dia a todos.