A bruxa está solta na ilha de Oahu, Havaí. Menos de uma semana depois de o lendário Owl Chapman quebrar a perna em Sunset, um outro acidente trágico aconteceu, desta vez na praia de Makaha.
Um surfista veterano de Sunset, chamado Leonard Tom, de 64 anos, muito conhecido pelos locais mais antigos, acidentou-se surfando ondas grandes na famosa praia de Makaha, costa oeste de Oahu, durante a manhã do último sábado (28), quando o maior swell da temporada havaiana estava em declínio após atingir o pico durante a madrugada.
Leo tomou uma pancada na cabeça de sua gunzeira que o fez apagar e ficar submerso por mais de cinco minutos. Clark Abbey, renomado surfista havaiano, o encontrou, e com a ajuda de outro amigo o levou para a praia. Eles tentaram reanimá-lo com manobras de RCP, sem sucesso.
Leo foi levado ao hospital e permanecia em coma até a noite do último domingo. Um amigo de dele, Tracy Yamato, postou em sua página do Facebook que a família tomou a decisão de desligar a máquina que o mantinha vivo após os médicos confirmarem a morte cerebral.
Leo é muito querido e um surfista extremamente educado no outside. Tive o prazer de surfar e conversar com ele inúmeras vezes na água em Sunset, e até compartilhamos ondas juntos. Leo era um verdadeiro “sunseteiro” e sempre estava presente sempre quando mar subia no North Shore. Seu estilo é simplesmente puro, deslizando em ondas grandes com classe e talento.
Um outro incidente aconteceu no dia anterior em Waimea, durante a subida do mesmo swell. Nesse caso, a surfista brasileira Suelen Naraisa, irmã do Top da elite mundial Wiggolly Dantas, tomou a maior série do dia toda na cabeça e acabou torcendo o joelho fortemente.
Suelen me disse hoje que remou na primeira onda de uma série servida de 18 pés havaianos, não conseguindo entrar, e quando olhou para trás viu a muralha que vinha em sua direção. Ela não teve outra coisa a fazer a não ser hiperventilar, soltar a prancha e tentar mergulhar mais profundo possível. Foram no total oito ondas na cabeça.
Ela tentou inflar o colete inflável, mas a força da água foi tão bruta que destruiu seu colete. Suelen não foi a única que tomou a série toda. Um outro amigo americano que já participou dos meus cursos de apneia e sobrevivência, remou e caiu na segunda onda da mesma série, e quase ficou debaixo de duas ondas.
Assim que ele conseguiu subir da primeira vaca, colocou a cabeça para fora d’água e nem chegou a encher o pulmão de ar quando foi pego pela terceira onda da série. Ele estava sem colete. Eu pude trabalhar com a Suelen no último curso que ministrei aqui em Oahu na semana passada.
Ela veio ao Havaí para disputar o primeiro campeonato de mulheres realizado em Waimea Bay. Trabalhamos exatamente os exercícios de respiração que ajudam a aumentar o foco e oxigenar a corrente sanguínea, no qual também ajuda a elevar o tempo de apneia da atleta. Treinamos muito tipos de apneia estática, dinâmica e com stress.
Ambos surfistas disseram ter lembrado do exercícios específicos que treinamos para esse tipo de situação durante o caldo, no qual o surfista tem muito pouco tempo para respirar antes de ter que ir para o fundo de novo, mantendo a calma segurando a vontade de respirar enquanto há um acumulo muito grande de CO2 nos pulmões, o que dá a vontade insuportável de ter que expirar, levando o surfista ao pânico. Com muito treino é possível controlar e prolongar esse sentimento.
Eu esperei o swell subir completamente para cair em Waimea no fim de tarde junto com os amigos Daniel Skaf e Sylvio Mancusi, mas acredito que todos estavam com essa ideia, pois o mar ficou muito crowd. As séries estavam muito inconstantes e em cada onda eram quatro ou cinco que desciam juntos (veja abaixo o video da sessão, filmado por minha esposa, Amanda Taveira).
Sei que a Suelen estará de volta em breve, ela é uma garota forte e muito determinada. Já nosso amigo Leo fará parte dos surfistas queridos que se foram. Podem até me chamar de hipócrita, mas na minha opinião ele teve a morte mais bela. Morreu fazendo o que mais ama na vida e foi sem dor e sem sofrimento, as luzes apenas se apagaram para ele. Se eu pudesse escolher como eu partiria um dia, escolheria ir dessa forma. Tristeza para a familia que fica.
Ricardo Taveira é surfista, mergulhador profissional, instrutor de apnéia e proprietário da Hawaii Eco Divers & Surf Adventures, empresa de mergulho, surfe e ecoturismo no North Shore de Oahu. A Hawaii Eco Divers oferece serviços de viagem completo, incluindo acomodações, transporte, atividades turísticas e total assistência aos brasileiros que pretendem viajar ao Hawaii. Para saber mais, acesse Hawaii Eco Divers.
Já Gary Miyata é fotógrafo profissional de surfe e surfista aposentado da geração dos Waikiki Beach Boys. Aos 63 anos sua paixão é fotografar, principalmente quando Waimea está quebrando. Clique aqui para conhecer mais sobre o trabalho de Gary.
