Dizem que a persistência faz o atleta evoluir. Nesse quesito, um trio de amigos está bem encaminhado. Surfistas e hoje figurando entre os melhores do Estado na categoria Júnior (sub-18), Alax Soares, Ihgor “Cação” Sant’Ana e Júnior Siqueira moram na praia de Santa Cruz dos Navegantes, Guarujá (SP), e enfrentam, diariamente, um grande esforço para poderem surfar.
O bairro, também conhecido como “Pouca Farinha”, é bem afastado, fica ao lado da Fortaleza da Barra Grande na entrada do Estuário de Santos, e a ligação com o resto da cidade é feita por uma estrada de sete quilômetros.
Como não tem ondas, os três jovens são obrigados a se deslocar para a praia do Tombo, de carona ou mesmo a pé. “A gente vai de carona. Demora duas horas até três. Já chegamos a ‘mofar’ muito mais e ir embora andando”, conta Alax.
O meio de transporte mais habitual dos jovens surfistas, a bicicleta, teve de ser descartada por conta dos riscos de acidentes. “Tem umas subidas bizarras e para descer de bicicleta com a prancha é muito perigoso, porque tem curvas fechadas”, explica o surfista. “A maioria que nos conhece sempre dá carona, porque sabe que levamos a sério os treinos, queremos seguir carreira”, acrescenta.
A rotina de esforço para chegar até o surfe é diária e nesta semana tem um motivo a mais, a preparação para o 22º A Tribuna de Surf Colegial, que será realizado no domingo (19), justamente na Praia do Tombo. Os três aparecem como fortes candidatos ao título. No circuito paulista mostraram que estão entre os melhores, com Alax sendo o segundo do ranking (atrás apenas do catarinense Wallace Vasco) e declarado bicampeão paulista, Ihgor o terceiro e Junior, o quarto.
No A Tribuna, cada um representará uma escola. Alax compete defendendo o título Júnior pela EE Santa Cruz dos Navegantes; Ihgor, que foi o melhor da Mirim em 2015, é do Colégio Adélia, e Júnior Siqueira estuda na EE Luiza Macuco, de Santos (atravessa o Canal do Estuário para chegar à aula). “Sempre treinamos juntos, um puxando o nível do outro. Nos ajudamos até no mar”, comenta Júnior.
“Fico feliz quando estamos no pódio representando o bairro. É muita dificuldade que a gente passa para surfar, mas vale a pena. Porque queremos ser profissionais, viajar juntos. Creio que um dia vamos chegar lá”, diz o surfista, lembrando uma etapa do Paulista em Ubatuba, onde os três chegaram na final, para uma grande festa da equipe de Guarujá.
Na localidade onde moram, as diversões principais da garotada são empinar pipa, jogar bola e mergulhar no mar. Eles contam que começaram a surfar incentivados pelos pais. “Lá também tem uma galera mais velha que já surfava. O Cação foi o primeiro, o pai dele já surfava… Vi e decidi pegar o ritmo. Depois foi o Alax”, conta Júnior.
Ihgor que já vem se aventurando no QS e mostra determinação. “A vida de surfista aqui no nosso bairro não é muito fácil, devido à distância para chegar na praia. Tem como ir de ônibus mas como nem todos têm dinheiro e como gostamos de andar em grupo, vamos todos os dias de carona. Já chegamos a ir no caminhão de lixo”, lembra.
“Sempre estar em grupo fortalece a amizade e um ajuda o outro no surfe. Meu foco é o Circuito Mundial. Como amador já fui campeão do A Tribuna e venci no Paulista. Sei da importância de vencer o Colegial. É um campeonato tradicional. Muitos já venceram, como o Mineirinho, o Jessé e é bom estar entre os campeões”, completa Ihgor.
A competição tem início no domingo, às 8 horas. Além dos títulos individuais, a atração fica para a disputa por escolas. Adélia e Don Domênico, como nos últimos 20 anos, dividem o favoritismo.