Como costumeiramente acontece no litoral gaúcho, o outono proporciona algumas das melhores ondas do ano. Com ondulações de Nordeste, Leste ou Sudeste, aliadas ao vento terral (Oeste), as bancadas das plataformas gaúchas tornam-se verdadeiros playgrounds tubulares.
Mesmo morando na principal praia gaúcha, Torres, onde sempre tem onda boa, nesta época meus olhos têm atenção especial um pouco mais ao Sul, onde começou o Pampa Barrels.
Quando em Torres o vento é Sul, a 70km dali, em Capão da Canoa, o vento já é terral. Agora imaginem, quanto mais ao Sul, mais reto é o terral, o que faz das plataformas de Atlântida, Tramandaí e Cidreira os picos mais procurados pelos tube riders do Litoral Norte.
Importante ressaltar que na baixa temporada aqui no Rio Grande do Sul, a ultrapassada cultura da pesca com redes fixas volta a ser uma triste realidade. Por conta disso, o surfe perto das plataformas, além de proporcionar melhores ondas, significa um pouco mais de segurança. É um grande problema, pois o surfe quase “morre” nos balneários menores, obrigando os poucos “locais raiz” a se arriscarem em pequenas áreas de surfe.
Dito isso voltamos ao tema, a tal da Salinas Gaudéria.
Swell favorável entrando e meu amigo de infância Tiago Rossi havia colocado a pilha de descermos até nossa praia de criação, Mariluz (Imbé), e monitorar os melhores picos da região. E assim aconteceu.
Antes de partirmos, um direct no Instagram colocou na barca o surfista profissional e meu parceiro de #EvoluSurfTeam Gustavo Borges, trazendo mais responsabilidade e trabalho para mim como jornalista, além de uma pilha animal para caçarmos os melhores tubos.
A primeira queda foi em Tramandaí, na manhã do dia 26 de março, onde surfamos um inside extremamente rápido e bem tubular. Para variar, o Gustavo fez a mala. Eu e o Tiago também pegamos as nossas, junto com alguns tube riders locais como Peterson Marchese e o atual campeão do Tubo do Ano, Gustavo Schmidt, além de alguns bodyboarders casca-grossas e o cinegrafista aquático Lucas Piccoli.
Boas ondas, mas ainda não estava do jeito que sabíamos que em algum lugar poderia estar.
Após o almoço, já com o reforço do campeão gaúcho júnior Kaique Garcia na barca, fomos conferir de perto as condições na plataforma de Salinas, em Cidreira, que fica 25 minutos de Tramandaí. Um vídeo do legend local Guto Reis havia vazado e mostrava bem o que queríamos ver, tubos abrindo e com energia concentrada na bancada do inside.
Chegando lá comprovamos que tinha altas ondas. Detalhe, sem ninguém na água naquele momento. Fomos tomar um café e dar mais alguns minutos para baixar o rango. Voltando pro pico, que já não estava mais solitário, vimos um mar ainda mais clean e um terral cada vez mais no ponto nos recebeu.
A turma optou por cair poucos metros ao norte da plataforma, praticamente um pico 2, digamos assim, para não impregnar a galera local e poder escolher as melhores ondas que entrassem.
Digo “a turma”, porque quando identifiquei a oportunidade especial de registrar um surfista do nível do Gustavo nos tubos da simbólica e pouco documentada plataforma de Cidreira, troquei na hora a prancha pela câmera, ou seja, o anseio de surfar pelo feeling jornalístico.
Mesmo doendo no peito ver altos tubos e ter que ficar horas filmando o melhor momento do dia, sabia que o resultado valeria a pena. Gustavo imprimia um ritmo alucinante e parecia ter crescido surfando aquele pico.
Já o grommet da barca Kaique Garcia estava empenhado em fazer sua onda para competir no Pampa Barrels e lapidar a técnica nos cilindros, observando de perto tudo que o Gustavo estava fazendo. Fechando os trabalhos da equipe, Tiago Rossi bravamente colocou para dentro de todos os tubos que conseguiu, e eu ainda pude tentar os meus, aos 45 minutos do segundo tempo após a turma sair da água.
Sem dúvidas, uma tarde marcada pela performance incrível do Gustavo Borges, que fez e andou em tubos que exigiam extrema técnica e talento.
Como notícia boa corre mais rápido que corrente em dia de swell de Sul por aqui, na manhã do dia seguinte, o surfista de Atlântida Pedro Rosa e o campeão colegial de Porto Alegre Silvio de Rose compraram a ideia com a gente. O que me aliviou um pouco nas filmagens, já que o Pedro se prontificou de iniciar atrás da câmera.
Fui o primeiro a entrar na água. O mar havia crescido e o pico marcado de um dia atrás havia ficado mais amplo, e seguidamente era varrido pelas séries.
Não peguei nenhum tubo com saída, alguns cutbacks no outside, vacas e fechadeiras no inside.
Ao meu ver, estava um mar bom, mas bastante difícil, tanto que o local de Tramandaí Peterson Marchese veio ao nosso encontro. Pet ficou 30 minutos na água, não pegou nada mais do que um tubo fechando antes de voltar à sua plataforma, mais ao Norte, onde rolavam ondas mais cheias no outside, mas abrindo demais na Malvina (lado Sul). Se estava complicado pra ele fazer e achar os tubos, podem ter certeza que estava bem difícil, apesar de as ondas estarem lindas.
Resumo da ópera!? Nós (eu, Tiago, Kaique, Silvio e Pedro), surfistas “normais”, pegamos ondas legais, mas sem sair dos tubos mais profundos. Já o Gustavo…
Bom, o guri de Torres se conectou com ainda mais intensidade do que no dia anterior, surfando inúmeros tubos pra direita (ondas que nem víamos direito), mais pro meio da praia e pra baixo do pico. Realmente uma leitura diferenciada, que aliada ao seu talento, técnica e preparo físico resultou em uma das sessions mais iradas que já vi por aqui.
Não foi por acaso o duplo sentido no título da matéria, as direitas que o atleta número um do Rio Grande do Sul praticamente fabricou na Salinas gaudéria, foram dignas de pagamento em dólar.
Depois desta cansativa sessão da manhã, o Sudoeste já prejudicava um pouco as condições, mesmo assim, os mais novos ainda tinham energia e fizeram uma bateria irada junto aos pilares da plataforma.
Sinceramente, espero que meu relato e edição consigam expressar um pouco do que vimos e vivemos em uma das praias mais emblemáticas do Rio Grande do Sul.
Seguimos evoluindo!
O vídeo foi publicado no canal Pampa Barrels.