Terça-feira passada falamos rapidamente sobre as ondas de Rossby, que a bem da verdade despertou curiosidade e me fez refletir sobre o texto desta sexta-feira. Estas ondas atmosféricas surgem justamente da diferença de temperatura e pressão atmosférica e tem relação direta com a propagação das massas de ar polar (fira e seca) na direção do equador e da massa de ar tropical (quente e úmida) na direção do polo.
A cava da onda se dá na propagação da massa polar na direção do equador, e a crista está na massa de ar tropical em direção ao polo. Em analogia com a onda do mar, no meio da onda é onde se desenvolvem os ciclones ou, seguindo a mesma analogia, onde rola o tubo.
Vemos então que a geração de tempestade também tem relação com a propagação de ondas, neste caso atmosféricas. Na imagem abaixo, vemos ainda que essa onda se propaga ao longo de todo o Hemisfério Sul, e esse fenômeno ocorre de forma semelhante no Hemisfério Norte.
Porém, a grande diferença é que no HN não há o Oceano Antártico, ou Circo Polar Antártico, e isso gera uma grande diferença na intensidade e na propagação das ondas de Rossby nos dois hemisférios.
Na figura é perceptível ver na linha de 0°C de temperatura o movimento ondulatório da onda de Rossby. Durante o outono e inverno essa linha chega as latitudes médias, provocando as nevascas observadas na serra gaúcha.
Esta onda geralmente tem uma intensidade maior no Oceano Atlântico Sul, que também é destacado por diversos pesquisadores, como as tempestades mais fortes de médias latitudes.
Há, no entanto, um fator adicional a ser considerado, a influência da Cordilheira dos Andes como barreira orogênica (montanha sólida) interferindo no percurso e na intensidade das ondas de Rossby que entram no Atlântico Sul, e que acaba por influenciar a formação dos ciclones e, consequentemente, os ciclones bomba.
A figura acima, foi retirada de um trabalho clássico dos pesquisadores Hoskins e Hodges (publicado em 2005) sobre as zonas de geração dos ciclones no Hemisfério Sul. Pode-se notar duas zonas de geração de ciclones no Atlântico Sul em aproximadamente 60-65°S (linha vermelha) e 30-35°S (linha preta).
Enquanto a geração de ondas para a região de Bells Beach na Austrália (linha amarela) está localizada no Oceano Antártico.
Esta mesma onda se propaga para o Oceano Indico, depois para o Oceano Pacífico e retornado ao Atlântico, sempre empurradas pela propagação das massas de ar polar para o Norte, a massa de ar subtropical para o Sul (lembrando cava, crista e ciclones).
Importante frisar, que no grande Oceano Pacífico há espaço para propagação de duas ondas, isso ocorre também, as vezes, no Oceano Índico, enquanto o Atlântico é característico termos uma onda mais forte e duas cristas e cavas, uma mais ao sul e outra em latitudes médias.
Este abril de 2023 começou nervoso, temos um ciclone a cada 3-4 dias atuando no Atlântico Sul e gerando ondas de grande altura e período relativamente mais longo (semana passada podemos observar ondas de 15 segundos).
Um ciclone extratropical manteve a geração de ondas ativa e, assim, tivemos uma semana com ondas de 1,5-2,0 metros nas praias mais expostos e 1m servido nas praias mais protegidas.
A previsão, para este fim de semana e para a próxima semana, é que as condições de ondas se manterão em 1,5 metro passando de 2 metros nas praias mais expostas. No sábado e domingo a altura significativa pode chegar a 3 metros, como em Ubatuba, Barra da Tijuca e Itacoatiara.
Isso porque tivemos uma sequência de baixas pressões transitando pelo Oceano Antártico e um ciclone extratropical no Atlântico Sul em aproximadamente 35°S 40°W.
A direção das ondas será preferencialmente de SE, com componente de Sul. Estas condições permanecem favoráveis durante toda a semana nas praias da região Sul e Sudeste do Brasil e no Uruguai, só baixando provavelmente na quinta-feira.
Na região Nordeste a condição de ondas se mantém com altura significativa de 1-1,5 m.
Na região Norte, a Zona de Convergência Intertropical (ITCZ) começa a se afastar da costa e permite a geração de ondas de N-NE, principalmente na costa entre Rio Grande do Norte e Ceará.
Na próxima quinta-feira (13/04), os modelos já começam a indicar uma previsão de um novo Ciclone Bomba no Atlântico Sul, com uma nova ondulação chegando na sexta-feira, ondas acima de 2 metros. Veremos se tal condição se confirma a partir de terça-feira.