Previsão das Ondas

Ressaca fecha o outono

Tempestades que estavam restritas à região das Malvinas e sul do Rio da Prata, sobem mais para Norte, numa previsão do inverno no Brasil.

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Maré meteorológica bate no muro da Praia da Macumba.

A previsão é de que teremos um mês de junho intenso. As tempestades que estavam restritas à região das Malvinas e sul do Rio da Prata, agora vão começar a subir mais para o Norte, e isso é uma previsão de como será nosso inverno.

O power swell mudou a circulação atmosférica com ventos fortes de S, que provocaram uma maré meteorológica ao longo de toda a costa Sul e Sudeste, que vai chegar ao Nordeste.

Um novo ciclone se forma hoje junto à costa do Rio Grande do Sul e vai manter as condições de ondas com cara de ressaca.

O frio e a chuva também chegaram, o que não permite mais a condição de ondulação limpa sem vento. Aliás, o vento vai se ser o fator dominante nessa próxima tempestade, inicialmente um lestada, que vai rodar para sudeste e depois sul. Então preparem as “armas” (guns), o swell deste fim de semana e início da próxima semana vai ficar na casa de 2 / 2,5 m e cara de ressaca.

A maré meteorológica que vimos bater nas praias do sul e sudeste, quase ao mesmo tempo, foi provocada pelo estresse do vento SW e principalmente S que atuou durante vários dias, causando um empilhamento de água na costa. Isso se deve ao Fenômeno de Coriolis, que afeta a dinâmica dos movimentos de grande escala dos fluidos, neste caso, a superfície do mar.

Devido à rotação da Terra, quando um fluxo de sul gerado pelo estresse do vento sob a superfície atua durante muito tempo naquele sentido, ele sofre um desvio para esquerda no Hemisfério Sul (para direita no Hemisfério Norte) e empilha a água na costa, causando assim a maré meteorológica.

E foi o que aconteceu neste último swell, desde as Malvinas até a região sul do Brasil, e poucas vezes eu vi subir na região Sul ao mesmo tempo que no Sudeste, o que mostra a intensidade que este fluxo de água foi gerado desde o estreito de Drake, situado entre a extremidade sul da América do Sul e a Antártica. O estreito se concentra no oceano Antártico e invade o Atlântico Sul por completo.

Hoje, porém, um novo ciclone se forma junto à costa do Rio Grande do Sul e vai manter as condições de ondas grandes e com cara de ressaca.

A tradicional ressaca (muito vento maral), finalmente vai dar as caras, com altura significativa passando dos 3 metros. As ondas terão aquele jeito de mar mexido, com diferentes direções de swell, pois também temos um ciclone no meio do Atlântico gerando ondas de SE, e esta nova tempestade gerando ondas localmente de S (vagas).

Essa condição vai prevalecer sábado e domingo, melhorando com terral na segunda e provavelmente sem vento na terça. Durante a semana, vira para Sudeste com o afastamento do ciclone para o mar no domingo, o que vai favorecer a arrebentação de ondas mais limpas na segunda e terça-feira.

Previsão para sexta até domingo. Condições melhoram na segunda e terça, depois que o ciclone se afasta da costa.

As praias da região Sul são mais expostas e, para quem quer pegar o grande mais liso é melhor procurar os costões mais abrigados, como Matadeiro, na Ilha de Floripa, Rosa Sul e Silveira, em Garopaba.

No Sudeste, Itamambuca (SP) e Prainha (RJ) devem ser as melhores opções de surfe, sem falar dos secrets que ocorrem no litoral norte do estado de São Paulo. Também Peró na região dos lagos, sempre quebra clássico com estas condições storm. Isto é, ondulações com período de pico de 15 segundos de SE, 11 segundos de S e vagas de 5-7 segundo também de S.

Por enquanto, a condição dominante é de SE na região Sul, com influência de S na região Sudeste. E na região Nordeste, a direção S praticamente domina todo o fim de semana. As ondas na região Nordeste ficam também grandes, com altura significativa chegando a 2 metros nesta sexta-feira, baixando um pouco no sábado e domingo para 1,5 m, e deve se manter entre 1 / 1,5 até terça-feira.

Segunda, o modelo indica condições de vento de terral e sem vento pela manhã de terça-feira, tanto na região Sul como no Sudeste.

No litoral Norte, as condições ainda são de ondas pequenas, muita influência de alísios de SE, não há previsão de mudanças. Ondas com período curto e altura significativa de 0,5 metro durante todo o fim de semana e não há previsão de mudança para a próxima semana.

Boas notícias para a etapa da WSL em Saquarema, pois ao que tudo indica o inverno será mais intenso que o outono, e o modelo já mostra um novo ciclone se formando na região sul na próxima quinta-feira (22/06).

Heitor Tozzi
Oceanógrafo e Mestre em Estudos Costeiros, trabalha com morfodinâmica de praias e impacto de tempestades na costa desde 1991, quando fez parte do 1º grupo de Sentinelas do Mar (Watching Waves in Brazil). Como pesquisador já embarcou em navios de Norte a Sul do Brasil, Golfo do México, Angola e Indonésia. Velejador e surfista nas horas vagas, atualmente é pesquisador do doutorado em Meteorologia no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), onde estuda os processos de Interação Oceano-Atmosfera para geração dos Ciclones.