Na última sexta-feira, dia 4 de julho, foi exibido o filme documental Minha Narrativa, produzido por Ronie Pasini, dirigido por Débora Carvalho e interpretado pela surfista local da praia do Sapê, Ubatuba (SP), Natália Regina, mais conhecida como Naty. O evento aconteceu no Makai Bar e Restaurante, localizado na região e teve início às 19 horas e o filme foi exibido às 21 horas. Como atração musical ao vivo, Pedro Musicando, artista local de Ubatuba, que possui um repertório de reggae, rock nacional e MPB.
O filme Minha Narrativa retrata Naty nas ondas do Sapê, representando as pessoas pretas no mar, especialmente mulheres e transmitindo uma mensagem importante que impacta a comunidade do surfe, a sociedade e que incentiva o movimento negro e a busca pelo seu espaço no mar e pela representatividade no surfe. Ela inicia contando como vive sua vida hoje com o lifestyle do surfe e no final do filme, fala sobre sua história de vida, família e como tudo era antes de começar a surfar.
O evento que aconteceu na última sexta-feira foi realizado com o propósito de transmitir o filme pela primeira vez, para amigos, admiradores e comunidade do surfe.
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Em entrevista ao Waves, Natália Regina conta qual a sensação de ter feito um filme de surfe, ter seu filme exibido em um evento, o processo criativo, propósito e perspectivas.
Qual a sensação de fazer um filme sobre sua história e poder apresentar para os amigos e quem a admira?
O evento foi mágico para mim, eu estava nervosa, pois não é fácil para mim exibir a minha vida, ainda mais quando a plateia se ocupa na grande maioria por pessoas brancas. Na verdade senti que essa seria a primeira barreira que eu teria que enfrentar para lançar mais longe esse projeto.
Senti um frio na barriga o momento todo, mas foi lindo. Todos estavam lá para me prestigiar e para conhecer mais a fundo minha história. A galera já me conhecia no mar, já me viram surfando e na pousada que trabalho, mas ninguém ali sabia nem 1% da minha história até chegar aqui, e isso que me deixou com medo. Não gosto de me vitimizar, mas o mais importante é que fiz eles pensarem um pouco fora da caixa com a minha história, consegui passar a mensagem que era o meu objetivo para a exibição.
Como foi fazer esse filme?
Antes do projeto Minha Narrativa fui convidada por amigos, que admiram muito a minha história a fazer parte de um projeto chamado Amar-é, esse projeto fala um pouco sobre a negritude em Ubatuba, eu no surfe e outras meninas no empreendedorismo, religião e etc. Mas infelizmente não foi para frente, pois não conseguimos o edital para realmente colocar em prática.
Sempre fui muito fechada para muitas pessoas a minha volta em relação ao surfe, por além de serem pessoas brancas, terem uma vida (falando de classe social) muito diferente da minha, pranchas novas, os melhores equipamentos e surftrips em vários países diferentes, me fazia me distanciar e não me expor muito sobre mim. Mas evoluí no surfe muito rápido e recebi convites para falarem sobre minha história em páginas e em outros projetos. Porém, não me sentia confortável com essa ideia, tinha muita vergonha em me expor para essas pessoas.
Um dia conversando sobre isso com a minha amiga Débora Carvalho, ela sugeriu que eu fizesse meu próprio filme e então ela já começou a falar o roteiro todo, que veio na cabeça dela na hora e com isso surgiu o Minha Narrativa, que o nome veio dessa ideia mesmo, de eu estar contando a minha própria história.
O processo inteiro foi lindo, nunca tinha feito algo do tipo e nem imaginava que poderia fazer. A Débora fez o roteiro se baseando em algumas respostas de perguntas íntimas que ela me fez, e juntas, montamos todo o roteiro.
Depois fomos buscar alguém para produzir o filme e convidamos o Ronie Pasini, mostramos para ele o nosso roteiro e na hora ele apoiou a ideia e começamos a produzir o Minha Narrativa, o processo durou quase 6 meses e aprendi muitas coisas nesse processo, até sobre eu mesma.
Qual sua participação no processo criativo e como foi realizado?
A minha intenção desde o início era contar a minha história sem vírgulas, e o que eu queria com isso era incentivar pessoas que se identificam com a minha história, ir atrás para escrever a sua própria história. Queria que o Minha Narrativa levasse esperança para as pessoas como eu e levar o sentimento que é possível sim e esse sempre foi o meu propósito com esse projeto.
Conversamos também com a Débora Carvalho, diretora do Minha Narrativa e Ronie Pasini, quem produziu e editou o filme.
Como foi o processo criativo do filme e qual sua experiência nesse tipo de projeto?
Sempre estive envolvida em projetos fora da caixa, seja na escola, na faculdade, na igreja. O novo é muito estimulante para mim e já participei de um projeto chamado Elas também Dropam, liderado pela Tina Villela, em Floripa (SC). Por esse projeto fui convidada a fazer parte do documentário produzido pelo Canal Off Criado nas Ondas, que estrelava Donavon Frankenreiter e família e o Zaka Kappel. Neste projeto, participei como convidada e não como alguém que fez parte da ideia desde o início. Recentemente pude fazer isso no projeto do filme da Natália Minha Narrativa.
Como conheceu Naty?
Natália e eu fomos unidas pelo surfe e pelo Instagram. Lembro de estar andando pela praia e falar com ela “oi tudo bem? Eu acho que te conheço do Instagram” a partir daí nossa relação foi ficando cada vez mais forte.
Como surgiu a ideia do projeto?
Na minha visão, digo isso porque a Naty pode ter outra, o projeto nasceu de uma conversa rotineira de amigas, ela me contou algo sobre entrevistas e sugeri a ela fazer seu próprio material e de repente, já começamos a viajar ali no gramado do Yabás Praia, pousada que Natália trabalha e fomos criando algumas ideias. Assim começou, a gente imaginou e fez acontecer. Desde o começo nós duas levamos o projeto a sério como se fosse um segundo trabalho mesmo. Falamos de orçamento, acordos, prazos, apertamos as mãos e falamos de fazer até junho e cumprimos nossa promessa.
Como foi trabalhar na construção do Minha Narrativa?
Em primeiro lugar acho importante dizer que esse projeto tem dois propósitos: o público e o dos bastidores. O público é a Natália se colocando como voz para o empoderamento de mulheres do seu recorte social no surfe. O dos bastidores era tanto ela, quanto eu nos entendermos como mulheres que colocam um projeto independente para rodar, mesmo não sendo especialistas na área, aquela coisa de pensar alto, sonhar grande, pegar o “alto e o grande” e colocar em um lugar de realizável.
Em depoimento ao Waves, Ronie conta como foi fazer parte do projeto e produzir o filme.
Como foi fazer parte do projeto?
Participar desse documentário foi um desafio, mas, ao mesmo tempo, uma experiência leve que fluiu conforme planejamos.
Para mim, esse documentário foi muito especial por ter a oportunidade de participar de todo o processo. Acompanho a Naty desde que chegou por aqui, e, para alguém que trabalha com surfe como eu, fica muito visível a sua evolução, que aumenta a cada dia.
Qual sua experiência nesse nicho de trabalho?
Trabalho com imagens de surfe, e essa conexão com a natureza é a minha vibe e o que me motiva.
Minha rotina envolve capturar fotos e vídeos de surfe, geralmente em clipes curtos. Já participei de outros projetos onde colaborei com imagens aquáticas e filmagens com drone.
Como foi esse processo criativo das imagens que representam o filme?
Sobre o processo criativo, pude colaborar com imagens que mostram a beleza do lugar onde vivemos e o surfe em harmonia.
Em primeiro momento, o filme foi exibe nesse evento em Ubatuba (SP), mas a ideia é atingir plataformas grandes, como emissoras de televisão, para conseguir levar a mensagem para muita gente, principalmente para as pessoas que se identificam com a história.
Natália, Ronie e Débora pretendem também também será exibir o filme em projetos sociais em Ubatuba, São José dos Campos e São Paulo, nas periferias, que abraçam a ideia proposta no filme.
Após atingirem esses objetivos, o filme será disponibilizado no You Tube também.