SOS climático

Aumento do mar ameaça humanidade

Secretário-geral da ONU, António Guterres, alerta que aumento sem precedentes dos níveis do mar está prestes a desencadear catástrofe global.

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Cloudbreak, Fiji, fica no mar do Pacífico.

Na última segunda-feira (26), o secretário-geral da ONU, António Guterres, falou durante coletiva de imprensa realizada em Tonga sobre o aumento do nível do mar. António emitiu um SOS global e alegou que uma catástrofe mundial está colocando o paraíso do Pacífico em perigo.

Segundo o secretário-geral, as mudanças na região do Pacífico são visíveis desde a sua última visita. E em todo o mundo, a elevação do nível do mar tem um poder inigualável de causar estragos nas cidades litorâneas e devastar as economias costeiras. O motivo é claro: os gases de efeito estufa – gerados principalmente pela queima de combustíveis fósseis -, o que, ainda de acordo com Guterres, estão cozinhando o planeta.

Guterres diz ainda que o mar está sofrendo com o calor e que absorveu mais de 90% do aquecimento global nos últimos cinquenta anos. A água se expande quando fica mais quente e as geleiras e as camadas de gelo estão derretendo, aumentando seu volume. Em outras palavras, mais água está ocupando mais espaço.

Dois documentos divulgados na última segunda-feira pelas Nações Unidas deixam a situação em evidência. O relatório da Organização Meteorológica Mundial sobre o Estado do Clima no Sudoeste do Pacífico e o novo relatório da Equipe de Ação Climática da ONU alertam para aumento do nível do mar em um mundo em aquecimento.

Em conjunto, eles mostram que as mudanças no oceano estão se acelerando, com impactos devastadores. Mês após mês, as temperaturas do mar batem recordes. As ondas de calor marinhas estão mais intensas e duradouras, dobrando a frequência desde 1980. E a elevação dos mares está ampliando a frequência e a gravidade das tempestades e das inundações costeiras.

A inundações alagam as comunidades costeiras, destroem a pesca, danificam plantações e contaminam a água doce, segundo o secretário-geral. Tudo isso coloca as ilhas do Pacífico em grave perigo. Os relatórios confirmam que os níveis relativos do mar no sudoeste do Pacífico aumentaram ainda mais do que a média global. Em alguns locais, mais do que o dobro do aumento global nos últimos trinta anos.

As temperaturas do oceano estão aumentando em até três vezes a taxa mundial e as ilhas do Pacífico estão expostas de forma única. Essa é uma região com uma elevação média de apenas um a dois metros acima do nível do mar, onde cerca de 90% das pessoas vivem a menos de 5 quilômetros da costa e onde metade da infraestrutura está a menos de 500 metros do mar.

Gráfico detalha aumento no período de 30 anos.Divulgação / ONU
Gráfico detalha aumento no período de 30 anos.

Sem cortes drásticos nas emissões, as Ilhas do Pacífico podem esperar pelo menos 15 centímetros adicionais de aumento do nível do mar até a metade do século e mais de 30 dias por ano de inundações costeiras em alguns lugares. Os relatórios atuais mostram que a taxa média de aumento do nível do mar mais do que dobrou desde a década de 1990. Mas a duplicação da velocidade mostra que o fenômeno está se acelerando de forma incomum e descontrolada.

O nível médio global do mar já subiu mais de 10 cm desde 1993. António informou também, que a situação é pior no Pacífico, com alguns locais ultrapassando 15 cm. Falou ainda que a ciência emergente sugere que um aumento de temperatura de dois graus pode levar à perda de quase toda a camada de gelo da Groenlândia e de grande parte da camada de gelo da Antártida Ocidental.

Isso significaria condenar as gerações futuras a um aumento imparável do nível do mar de até 20 metros, durante um período de milênios. Mas com três graus de aquecimento – trajetória atual – o aumento do nível do mar ocorreria muito mais rapidamente – ao longo de séculos.

Isso significa um desastre: impactos amplos e brutais, muito mais intensos e rápidos do que possa se adaptar a eles, destruindo comunidades costeiras inteiras. “Você consegue imaginar o impacto na bela capital Nucualofa?”, pergunta Guterres. “Mas o que acontece em Tonga não começou em Tonga”.

“Os mares revoltos estão chegando para todos – juntamente com a devastação da pesca, do turismo e da Economia Azul. Em todo o mundo, cerca de um bilhão de pessoas vivem em áreas costeiras, de ilhas baixas a megacidades; de deltas agrícolas tropicais a comunidades do Ártico”, fala António.

As megacidades costeiras, incluindo Daca, Los Angeles, Mumbai, Lagos e Xangai, estão ameaçadas pelo aumento do oceano. A elevação dos mares aumentará a frequência de eventos extremos, como inundações costeiras. Se as temperaturas globais subirem 2,5 graus, essa frequência poderá aumentar de uma vez em 100 anos para uma vez em cinco anos até o final deste século.

Sem novas medidas de adaptação e proteção, os danos econômicos causados por inundações costeiras podem chegar a trilhões de dólares. Cerca de 1 metro do futuro aumento do nível do mar já está garantido.

Líderes globais devem se mobilizar

António Guterres falou em como ajuda na questão: Reduzir drasticamente as emissões globais; liderar uma eliminação rápida e justa dos combustíveis fósseis; e aumentar maciçamente os investimentos em adaptação climática, para proteger as pessoas dos riscos atuais e futuros.

“Somente limitando o aquecimento a 1,5 graus Celsius teremos uma chance de evitar o colapso irreversível das camadas de gelo da Groenlândia e da Antártida Ocidental – e as catástrofes que as acompanham”, discursa. “Isso significa reduzir as emissões globais em 43%, em comparação com os níveis de 2019, até 2030, e em 60% até 2035. Precisamos que os governos honrem a promessa feita na COP28 e entreguem novos planos nacionais de ação climática – ou Contribuições Nacionalmente Determinadas – até o próximo ano”.

Os planos devem estar alinhados com o limite de 1,5 graus e abranger todas as emissões e toda a economia. Segundo o secretário-geral, eles devem colocar o mundo no caminho certo para eliminar os combustíveis fósseis de forma rápida e justa, incluindo o fim de novos projetos de carvão e novas expansões de petróleo e gás. Devem cumprir as promessas feitas na COP28 de triplicar a capacidade de energias renováveis, dobrar a eficiência energética e acabar com o desmatamento até 2030.

O G20 – os maiores emissores, com a maior capacidade e responsabilidade de liderar – deve sair na frente, de acordo com António. O mundo deve aumentar maciçamente o financiamento e o apoio aos países vulneráveis. “Precisamos de um aumento nos fundos para lidar com os mares revoltos. Na COP29, os países devem concordar em impulsionar o financiamento inovador e um novo objetivo financeiro forte. Os países desenvolvidos devem cumprir seus compromissos financeiros, incluindo o compromisso de dobrar o financiamento da adaptação para pelo menos US$ 40 bilhões (R$ 221 milhões) por ano até 2025”.

António finaliza dizendo que a população precisa  de contribuições significativas para o novo Fundo de Perdas e Danos como um passo em direção à justiça climática – em apoio a países vulneráveis como as Ilhas do Pacífico e o mesmo se aplica às iniciativas do Pacífico que foram anunciadas mais uma vez durante para proteger as Ilhas do Pacífico.

“Por fim, precisamos proteger todas as pessoas na Terra com um sistema de alerta antecipado até 2027. Isso significa desenvolver as capacidades de dados dos países para melhorar a tomada de decisões sobre adaptação e planejamento costeiro. O mundo precisa olhar para o Pacífico e ouvir a ciência”, afirma.

A elevação dos mares é uma crise totalmente criada pela humanidade e uma crise que em breve atingirá uma escala quase inimaginável, sem nenhum bote salva-vidas para nos levar de volta à segurança. “Mas se salvarmos o Pacífico, também salvaremos a nós mesmos.
O mundo precisa agir e responder ao SOS antes que seja tarde demais”, suplica.

Fonte Nações Unidas Brasil