Bruno Zanin

Por trás das câmeras

Bruno Zanin em G-Land, na Indonésia.

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Bruno Zanin aproveitando mais um dia impecável de trabalho em G-Land, Indonésia. Foto: William Zimmermann.

 

As trilhas sonoras roqueiras e os cenários paradisíacos da Indonésia são ingredientes marcantes no trabalho autoral de Bruno Zanin, filmmaker que iniciou sua trajetória na Guarda do Embaú (SC), com o incentivo do saudoso surfista Ricardo dos Santos. Depois de trabalhar em algumas produções do Canal OFF, ele passou a se dedicar de forma independente a registrar os surfistas brasileiros em suas surf trips, o que gerou o média-metragem “When Your Dream Speaks” e muitos curtas que fazem sucesso na internet – como as recentes produções com Lucas Silveira e Yuri Gonçalves na Indonésia.

 

Radicado em Floripa e adepto ao modelo autoral de “produtora de um homem só”, tão comum aos diretores de filmes de surfe, Bruno tem no bom humor e na humildade características marcantes em sua personalidade, o que o fez colecionar amigos no mundo das ondas e a manter viva a produção nacional de filmes de surfe, apesar das muitas dificuldades encontradas por quem se aventura nessa área.  

 

Conta um pouco sobre a sua relação com a Indonésia e como foi a sua temporada lá este ano.

 

Lembro da primeira vez que fui, em 2012, só para surfar e curtir, e foi amor à primeira vista. A Indonésia pra mim se tornou um dos lugares mais especiais do mundo, eu me sinto em casa e muito à vontade por lá. A vibe, as ondas, as paisagens e o tratamento que você tem por lá, acho muito difícil encontrar em algum outro lugar do mundo. Isso tem me balançado bastante sempre que estou por lá. A vontade de ficar morando por lá está bem grande. Quem sabe num futuro próximo (risos)?!

 

Cada temporada tem sido muito especial, ano passado tive a sorte de estar no swell épico de Kandui, e este ano com certeza vivi meus melhores momentos como filmmaker de surfe. Foram incontáveis as ondulações que bateram nas ilhas da Indonésia, nos proporcionando muito show de talentosos surfistas. Todos os dias, antes de dormir, ainda penso de como tenho sorte de fazer o que amo e de o quão boa foi essa última temporada por lá.

 

Qual equipamento você usou e qual foi o seu planejamento para as produções que realizou por lá?

 

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Filmmaker Bruno Zanin e fotógrafo William Zimmermann foram furtados em La Paloma, Uruguai. Foto: Arquivo pessoal.

O início deste ano foi bem complicado pra mim. Um mês antes de viajar para Indonésia, durante uma surf trip para o Uruguai, tive todos os meus equipamentos roubados, foram quase 40 mil reais em lentes, câmera, malas, etc. Foram três anos de trabalho pela janela, literalmente. Tudo aconteceu de uma forma muito sinistra enquanto estávamos dormindo, aquilo me deixou muito desanimado e triste. Então, vi todos meus amigos me ajudando e aquilo me deu um gás animal. Fizemos festas, conseguimos doações online, pedi empréstimos ao banco, ajuda do ‘PaiTrocinio’ (risos), e acabou que consegui comprar um equipamento de qualidade para trabalhar nessa temporada.

 

Já tinha meio que algumas trips fechadas por lá, teria algumas semanas de trabalho garantidas que me renderiam uma grana legal para pagar parte dos empréstimos, e no fim da temporada eu praticamente não tive tempo livre, graças a Deus! Acabava uma trip, já encaixava outra e por assim foi fluindo!! De equipamento eu usei uma SONY A7S, Duplicador, 100-400 Canon , 24-105 e uma 50mm 1.4. Acho que esse é um kit básico pra surfe e lifestyle!

 

Como seleciona as trilhas sonoras e qual a importância delas nos teus videos?

 

Eu lembro que quando era pequeno, conhecia as músicas não pelo nome das bandas, e sim por ”a qual filme de surfe esta música pertence”, e isso me marcava muito! Tento fazer isso com meus clipes, que as pessoas escutem as músicas e lembrem do meu video, que se sintam instigadas pela performance dos atletas e a música em conjunto. As músicas dos filmes mais antigos eram muito instigantes, com o passar do tempo isso foi se perdendo um pouco, não me adaptei muito a essas músicas modernas.

 

Mas também, isso é um pouco subjetivo. Eu me considero um cara mais clássico e acho que o surfe “power” precisa de um bom rock’n’roll acompanhando, além do que, eu fui criado escutando música boa e muito rock – meus irmãos, meus pais, meu padrinho, foram grandes influências nas trilhas que eu uso. Sei que eles acompanham meus trabalhos, e sei também que serão os primeiros a criticar quando a música não for boa (risos)! Graças a Deus nunca reclamaram! 

 

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Impossível reclamar do trabalho com um escritório como esse. Foto: William Zimmermann.

 

Teus últimos trabalhos têm sido curta-metragens focados em um determinado surfista. Como você avalia os formatos atuais das produções ligadas ao surfe e quais os seus planos futuros dentro deste segmento?  

 

Eu tenho consumido muito video pela web, e tem muita coisa boa sendo feita. Acho que os videos estão ficando mais curtos, acho que as pessoas estão perdendo um pouco de paciência de ficarem olhando o mesmo video por tantos minutos. Eu fico um pouco triste com isso, pois eu tenho feito videos mais curtos agora também pensando nisso, e os últimos clipes que fiz do Yuri e Lucas sobraram muita ondas de reject que dariam pra fazer o clipe duas vezes maior e com muita performance, mesmo assim.

 

Eu sou um cara que gosto de passar horas assistindo a videos e observando os mínimos detalhes, gosto de aprender muito com cada produção. O último que chamou bastante a minha atenção foi o “Sorria”, do Gabriel Novis, filmmaker brasileiro que vive nos Estados Unidos. O filme me chamou bastante atenção pela fotografia e trilha sonora bem diferente e bem foda ao mesmo tempo.

 

Estou escrevendo o projeto para meu primeiro “longa”. Vai ser algo mais clássico, um filme com sessões separadas dos atletas, trilha sonora pra frente, com bastante humor! No filme, quero encaixar o futuro, o passado e o presente, ou seja, sessões com Fabio Gouveia, Grilão e outros ídolos que marcaram época, alguma sessão com os grommets que estão dando o que falar (Matheus Herdy, Lucas Vicente e etc) e sessões com nossos atuais guerreiros do Tour. Não sei se consegui explicar direito aqui o que eu penso, mas na minha cabeça as coisas criaram uma forma bem legal. Agora é terminar de escrever, correr atrás de apoio e tentar tirar o projeto do papel!

 

Se você tivesse uma verba ilimitada para produzir algum trabalho audiovisual relacionado ao surfe, o que você faria?

 

Verba ilimitada? Faria esse meu projeto que esta em minha mente, só que pagaria todos os meus amigos profissionais da área para filmarem e trabalharem junto comigo no projeto, com as melhores câmeras do mundo, nas melhores ondas, com muita cerveja e vibe boa. Eu tenho certeza de que o filme ficaria muito foda (risos). Essa pergunta até me fez sonhar aqui. Quem sabe um dia?

Matéria originalmente publicada no Surf & Cult.

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