Na ressaca do término do maior evento esportivo da história da África, a etapa do World Tour de Jeffreys Bay vira uma caravana mambembe. Apesar do abismo entre a organização dos dois esportes, os confrontos entre os tops do mundo têm tudo para serem mais atraentes que os quase sempre enfadonhos jogos da Copa de 2010.
As baterias do evento que começa nesta quinta-feira (15/7) não serão transmitidas para todo o mundo com qualidade HD e 549 câmeras para registrar cada ângulo de um lance, mas provavelmente serão mais disputadas e cheias de alternativas que os empates ou as vitórias magras nos estádios sul-africanos.
O aficionado não quer saber: vai grudar o olho nas imagens ainda imperfeitas que às vezes congelam com o sinal fraco da internet brasileira. Afinal, o que você prefere: ouvir Garrincha num radinho de pilha ou ver Felipe Melo numa imagem digital?
Se cada surfista tivesse a cara de uma seleção, não haveria muita discussão: Slater, o líder do ranking, seria o Brasil. Não pelo que o escrete canarinho fez na Copa de 2010, mas pela sua história de afirmação de superioridade sobre os adversários e o recorde de títulos. A sorte do floridiano que, na onda, ele não precisa tocar a bola para um volante desajeitado.
Andy Irons sobrevive de sua história, tem força da camisa. Campeã em 2006, a Itália de 2010 chegou em solo africano no trem dos favoritos única e exclusivamente pela nova estrela no peito. Não foi longe. Mas, com os grandes, é assim: como a instável Azzurra, Irons pode surpreender o mundo a qualquer momento. Ou se enterrar com péssimos resultados.
O jeito pragmático da Alemanha, com seus toques rápidos e contra-ataques mortais, lembra Mick Fanning e Adriano de Souza. Talentosos, mas antes de tudo objetivos, competitivos. Se derem espaço, Fanning, Adriano e Klose não perdoam: é bola na rede. Só param diante de um talento maior que o deles, e mesmo assim num dia inspirado.
Dane Reynolds é o dono da bola, o Messi do surfe. Mas, assim como a Argentina, ainda sofre pela falta de um padrão tático bem definido em baterias e, às vezes, seu surfe lembra o do time de Maradona, desorganizado. É sempre o favorito, mas pode acabar eliminado com uma goleada.
O Uruguai, sem levar em conta seus dois títulos mundiais jurássicos, pintou na Copa de 2010 com um time novo e cheio de bons valores. Assumiu uma postura competitiva e moderna, com lances de efeito como os de Forlan, que para surpresa de muitos foi o melhor jogador da Copa. Tem tudo para fazer bonito em 2014. É bem a cara de Jadson André, um talento que assombra o mundo com uma vitória precoce e um futuro absolutamente promissor.
A Espanha tinha favoritismo, talento, falta de tradição e um passado de derrotas inesperadas. Exatamente como Jody Smith, o sul-africano cujo surfe virou referência de modernidade nos biombos de julgamento da ASP, mas ainda não ganhou um jogo importante. Como a seleção espanhola, ele demorou um pouco para fazer valer o seu jogo dentro de campo, mas agora parece amadurecido, pronto para se impor com arcos bem desenhados, manobras modernas e muita força. A Espanha foi campeã, e Jordy pinta como um dos favoritos.
Tulio Brandão é repórter de O Globo, colunista do site Waves e da Fluir e autor do blog Surfe Deluxe