Billabong Rio Pro

A saga de Ricardinho

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Ricardo dos Santos retorna muito cansado, mas feliz com o sucesso do bate-volta para o Tahiti. Foto: Fernando Iesca.

Ricardinho e o tubo da vida em Teahupoo. Foto: Arquivo pessoal.

O catarinense Ricardo dos Santos causou um grande espanto ao embarcar para Teahupoo, Tahiti, enquanto o Billabong Rio Pro está paralisado no Rio de Janeiro (RJ).

 

Em busca da onda da vida, Ricardinho viajou na noite do último domingo e passou apenas 24 horas na Polinésia Francesa. O catarinense chegou ao Brasil nesta quinta e já deve disputar a repescagem na manhã desta sexta, contra o francês Jeremy Flores.

 

Bastante cansado, mas muito feliz com o sucesso da operação realizada em conjunto com a Billabong, Ricardinho concedeu uma entrevista exclusiva ao Waves e comentou a emocionante viagem para pegar o big swell em Teahupoo.

 

“A ideia surgiu quando recebi um alerta do site Surfline e lembrei da outra vez (2011), quando estava no Tahiti e rolou aquele swell gigante – batizado de Code Red -, mas estava competindo e não peguei as bombas porque teria uma bateria contra o Kelly (Slater) no dia seguinte e fiquei com receio de me matar antes desse confronto, que também seria uma grande oportunidade para mim”, comenta Ricardinho.

“No final, depois de muito tempo me remoendo no canal, com muita vontade de surfar, peguei uma ondinha ou outra, mas ficou aquela gana de pegar uma grande, uma de verdade.  Além desse gostinho de quero mais, outro motivo que levou a viajar pra lá agora é que um swell desse tamanho geralmente leva um tempo para entrar, então não poderia perder essa oportunidade”, continua.

“Foi por isso que comecei a alimentar essa ideia. Fui assim que tive a confirmação de que o mar ficaria pequeno aqui por um bom tempo. Não me arrependo, foi uma das viagens mais alucinantes que já fiz”, revela o catarinense.

 

Como a viagem foi em cima da hora, já que o swell entraria na segunda-feira e teria seu auge na terça, Ricardinho e seu patrocinador montaram uma verdadeira operação.

 

“A Billabong deu um suporte muito legal. Eu senti que havia muita gente trabalhando para que isso desse certo. Todo mundo sabia do risco que eu estava correndo de perder o evento aqui e também as ondas lá, pois se eu perdesse um voo na ida, não chegaria a tempo de pegar o swell, e se perdesse na volta, não estaria aqui para disputar a bateria amanhã cedo. Tudo poderia ir por água abaixo em pouco tempo. Quase perdi meu voo de Miami para Los Angeles. Cheguei correndo quando estava prestes a fechar o portão de embarque”, conta o atleta.

Quando desembarcou no Tahiti, por volta das 23:30 horas da segunda-feira, uma pessoa já esperava no aeroporto para levá-lo a Teahupoo. “Uma hora depois já estava em casa, e mal consegui dormir devido ao barulho das ondas. Estava muito alto, parecia um terremoto, tremia tudo. Aí, já fiquei naquela ansiedade, né?”, diz Ricardinho.

No dia seguinte, alguns diziam que o mar estava menor e cogitavam surfar na remada, enquanto outros queriam ir de tow-in. Como só levou uma prancha de tow-in, o catarinense queria ir ao outside disposto a esperar por uma bomba, mesmo que tivesse de ficar o dia inteiro ali esperando.

 

“Quando chegamos ao outside, estava impossível surfar na remada, ainda estava gigante. Peguei as duas primeiras ondas e quase me matei. Tomei duas vacas que quebraram o gelo. Tive sorte de não me chocar com as pedras. Depois disso comecei a surfar melhor”, revela.

Foi a primeira vez que o catarinense viajou para fazer tow-in. “Nunca havia feito uma trip de tow-in, nunca havia usado aquela prancha, nem colocado presilha no pé. Queria até agradecer a Eraldo (Gueiros), que me deu vários toques. Era tudo novo para mim, estava aprendendo naquele momento. Foi uma das situações mais intensas que já vivi no surf. Não estava me culpando por errar, apenas tentava aprender o máximo possível a cada onda para ir melhorando ao longo do dia”.

Segundo ele, o momento mais tenso foi quando pegou uma fechadeira grande e botou pra dentro. “Quase me quebrei todo, senti como se coluna fosse estourar, pois a onda é muito forte. Voltando daquela onda, quando Manoa (Drollet) foi me resgatar, o Alain Riou passava voando de jet-ski com o Benjamin Sanchis, mandando Manoa voltar. Retornamos e fomos até a marina, atrás do Alain Riou. Chegando lá, ele estava com o Benjamin todo arrebentado. Foi parar nas pedras e se quebrou todo – cabeça, joelho, cotovelo… Depois disso, quando estava indo surfar, fiquei com aquela imagem na cabeça e pronto para pegar outra onda. Foi um momento bem tenso”, conta Ricardinho.

 

“Geralmente, as pessoas que estão surfando não gostam de passar nem perto. Querem saber se está vivo, se está bem, e aí vão atrás das ondas de novo. Eu voltei e vi o cara de perto, todo arrebentado, mas consegui superar essa imagem quando voltei para a água”, lembra.

Perguntado se pretende continuar se dedicando ao tow-in e às ondas grandes, Ricardinho diz que o foco dele é entubar. “Eu gosto de pegar tudos. Quero entubar em Fiji, Pipeline, Teahupoo, sempre com prioridade para a remada. Quero também pegar um tubo de backside em Jaws. Não tenho objetivo algum de surfar em picos como Mavericks, me tornar um big rider… Meu negócio é tubo”.

Depois do incrível bate-volta, Ricardinho agora tentar superar o cansaço para enfrentar o francês Jeremy Flores na repescagem, que provavelmente será iniciada na manhã desta sexta-feira, na Barra da Tijuca. “Agora, sim, estou no evento, agora estou focado em competir. Antes eu só conseguia pensar no Tahiti, não tinha cabeça para outras coisas”, revela o catarinense, que está acompanhado pelo shaper Marcelo Barreira.

E a tática para enfrentar Jeremy? “Eu sempre entro na água pensando em vencer a bateria, seja qual for o adversário. Minha tática vai ser tomar um cafezinho antes de entrar na água”, conclui o atleta.