Leitura de Onda

A verdade sobre Trestles

 

Para Tulio Brandão, Adriano de Souza foi mal julgado no Hurley Pro. Foto: © ASP / Rowland.
Na opinião do colunista, etapa foi marcada por julgamento confuso e ondas insuficientes. Foto: © ASP / Rowland.

Zuenir Ventura outro dia escreveu sobre o relativismo dos tempos modernos. “Já foi mais fácil tomar partido”, tascou. O mestre é do tempo em que as coisas só tinham dois lados: o capitalismo e o comunismo, o bom e o ruim, o errado e o certo. Santa democracia, esta, que nos afastou de um fantasma embotador chamado maniqueísmo.

 

Agora, como bem disse Zuenir, o bem pode estar dentro do mal e vice-versa. Entre o preto e o branco, há vários tons de cinza. Tudo ficou mais rico e, por isso, mais longe de verdades duras.

O texto de Zuenir não me saiu da cabeça durante Trestles.

Meus olhos viram uma etapa cinza opaco, sem brilho, com ondas insuficientes e um julgamento confuso, sem critério. Mas eram meus olhos, e eu sabia disso.

 

As jugulares saltaram em diversas baterias, especialmente na de Adriano de Souza. Achei o cara mal julgado. Bastar ver no heat review e comparar. Constrangedor.

Calma, não era um complô contra o Brasil. No mesmo evento, caíram surfistas de terras mais abastadas, vítimas de juízes perdidos.

Entendo os críticos do suposto chororô brasileiro. Cansa muito ver derrotas duvidosas, mas talvez canse tanto quanto reclamar dessas derrotas. O melhor a fazer, às vezes, é botar a viola no saco e partir para o próximo palco.

Em tempos relativos, decidi ouvir alguns amigos, saber do contraditório, ver com outros olhos, para tentar decifrar em que zona cinzenta estava a tal verdade. Ou até se ela existia de fato.

“O julgamento estava um lixo”, concordou um observador mais equilibrado. “Taj não era o melhor surfista do evento, os juízes não conseguiram definir um critério, e o mar estava um lixo. Mas os brasileiros perderam. Por pouco, mas perderam. Eles precisam entender que, para ganhar, devem recuperar o encantamento.”

Outro velho analista foi mais contundente. “Adriano ganhou. Medina perdeu de bobeira, para si mesmo. Entregou a prioridade. Os outros perderam no foto charter. A temporada tem etapas bem julgadas, mas essa foi um lixo. Ficou abaixo da média. Num certo momento, achei que Dave Macaulay pudesse vencer qualquer um ali, em pleno 2013.”

Outro, um escriba-surfista de ponta fina, preferiu lembrar um velho filme chamado “Progressive Surfing Technics with Tom Curren”. Lá pelas tantas, o mestre dos mestres, tricampeão do mundo, resume tudo: “Surf é teatro.”
Você, leitor, talvez tenha um quinto olhar. A verdade sobre Trestles, em tempos tão cheios de matizes, é a verdade de cada um. Ou a soma delas.

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