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A vez do SUP wave brasileiro?

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A costa brasileira possui uma extensão de 7.408 km (que aumenta para 9.198 km se consideramos as saliências e as reentrâncias ao longo do litoral), temos 12% da água doce superficial do planeta correndo em nossos rios e lagoas e, como se não bastasse, fomos colonizados por uma nação das águas, Portugal, conhecida na era colonial não só por sua pujante frota marítima, mas também por sua cultura voltada ao mar, que, inevitavelmente foi herdada por todos os brasileiros.

Essas características geográficas e culturais talvez expliquem porque os brasileiros são tão bem sucedidos no universo dos watersports. Títulos mundiais no windsurfe, kitesurfe, bodyboard, longboard, canoagem, surfe, stand up paddle, sem deixar de mencionar nossas conquistas nos esportes à vela e fenômenos da navegação como Robert Scheidt.

O Brasil, porém, ainda é país do futebol. Basta dar uma olhada nos cadernos de esportes e noticiários esportivos dos maiores veículos midiáticos da nação e ver a atenção dispensada a esse esporte. Mas nossa vocação enorme para os esportes de água, aos poucos, nos conduz a um lugar ao sol no mundo do show business. A quantidade de comerciais agora estrelados por Gabriel Medina indica aos mais conservadores que o estilo de vida do “povo das águas” vende sáude e também um monte coisas. Os “vagabundos” e “ratos de praia” dos anos 70 e 80 se transformaram na “geração saúde”. 

Os puristas torcem o nariz para essa mercantilização de nosso estilo de vida e não tiro a razão deles. Só que, por um outro lado, é importante que haja investimento para que uma modalidade se desenvolva se torne acessível a mais pessoas, sobretudo àqueles hoje que não tem recursos para investir em um hobbie caro.

Na esteira desse sucesso do surfe de pranchinha e de Medina, conquistamos mais um título mundial no SUP wave. O terceiro do Brasil na modalidade.

As competições nacionais de wave no Brasil, no entanto, são escassas.  Os títulos mundiais de Leco Salazar e Nicole Pacelli não foram explorados como deveriam. O momento era outro também, é verdade.

Mas será que agora, em meio a essa nova perspectiva sobre os watersports, impulsionada pelo título de Medina, conseguiremos alavancar o SUP wave?

De uma coisa não tenho dúvida: Caio Vaz é a pessoa certa na hora certa. Carismático e bem articulado, o “Menino do Rio” tem um talento natural para se comunicar e sabe usar muito bem as mídias sociais a seu favor, atraindo a atenção não só de pessoas ligadas ao nosso universo, mas, também, de quem nos olha de fora de uma forma positiva. Ponto pra gente.

Agora veio o título mundial e, como era de se esperar, tem muita gente comemorando a conquista e dizendo que sempre esteve ao lado de Caio.

Ok. Pode ser, mas, e do lado do SUP wave? Eu sei (e acredito que você também sabe) quem são as (poucas) marcas e mídias que sempre apoiaram a modalidade cujo potencial é enorme.

Tivemos somente uma etapa do circuito brasileiro de SUP wave por enquanto. O Super SUP, que foi sucesso absoluto em termos de participação de atletas e público. A CBSUP trabalha para que seja realizada ao menos mais uma etapa, o Ibiraquera Wave Contest, programado para o mês de novembro mas ainda sem uma confirmação oficial. 

Temos uma constelação de atletas de alto nível que precisam de apoio. Temos um circuito nacional que precisa de patrocinadores e uma indústria que, apesar da crise pela qual o país se encontra, precisa investir de verdade no esporte até por uma questão de auto preservação.

A modalidade depende disso e o momento é favorável. O SUP Wave brasileiro precisa de mais apoio. Se não for agora, então quando será?

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Luciano Meneghello é fundador e editor chefe do site SupClub e da revista Standup, primeira e única publicação impressa brasileira voltada exclusivamente ao stand up paddle.