A viagem maldita das pranchas

Peterson Rosa, Rip Curl Pro 2006, Bells Beach, Austrália

Perplexo, Peterson Rosa chega à estréia no WCT 2006 com o equipamento destruído no avião. Foto: Daniel Levy.
Quem viaja pelo mundo atrás de ondas perfeitas, com certeza tem muitas experiências em comum.

 

A primeira coisa a pensar é o planejamento da trip: onde dormir, comer, quais os picos da região que serão visitados, separar os mapas e material de navegação, arrumar as malas, evitando o excesso de bagagem, sem esquecer nada, e embalar as preciosas pranchas na capa para depois só curtir o máximo possível.

 

Mas nem tudo são flores e, aos poucos, começam a aparecer os espinhos: esperas intermináveis por conexões, extravio de malas, irritantes taxas das pranchas e de embarques estão com certeza no topo da lista dos piores momentos… Mas, a situação mais ingrata ainda está por vir.

 

Exatamente quando você tira a última mala dos ombros pra dar aquela respirada e vai checar as pranchas apressado abrindo o capão porque o pico está de gala e você quer acelerar ao máximo o processo de ir logo pra dentro d’água, vem a surpresa!

 

Suas preciosas pranchas estão demolidas, com mais furo que um escorredor de macarrão, mais amassões que a cara do Maguila, com todas as quilhas penduradas por um fio, ou, pior, partidas ao meio como se fossem fatias de pão seco.

 

Você olha ao redor e a primeira reação que vem na cabeça é a de voltar ao aeroporto e estrangular a primeira pessoa da empresa aérea que aparecer à sua frente.

 

É muita estupidez desta gente que não tem cuidado nenhum com o transporte do material de trabalho essencial para o surfista, principalmente os profissionais.

 

Eles jogam a prancha pra lá e pra cá como se fosse um colchão velho que está incomodando no caminho. Despejam pilhas de bagagem em cima das pranchas no porão do avião e isso e definitivamente é uma falta absurda de respeito com os passageiros que esperam chegar sãos e salvos aos destinos, incluindo as respectivas bagagens também.

 

Não são poucos os exemplos desta roubada. Peterson Rosa recentemente teve um dos piores pesadelos de viagem quando abriu seu capão de pranchas em Bell?s Beach e cinco de suas principais pranchas estavam quebradas.

 

Pior, partidas e separadas ao meio… Resultado, perdeu seu equipamento de trabalho às vésperas da estréia no campeonato, o que certamente deve ter influenciado sua performance dentro d’água, pois teve que improvisar com pranchas compradas de última hora, não personalizadas para ele.

 

Quando vim para a Austrália pela primeira vez, esperei por quase duas semanas minhas pranchas rodarem pelo mundo perdidas. E quando realmente chegaram em minha casa, estavam em estado terminal.

 

Lembro com tristeza que tive que gastar uma grana com reparos de toda ordem. Recentemente, comprei uma prancha havaiana Bushmann direto das mãos do Pancho Sullivan, novinha, usada por ele apenas em Bells.

 

Quando voltei pra casa, abri a capa e lá estava um risco cortando a prancha de borda a borda e um buraco ignorante no meio… pura estupidez…

 

Pergunto de quem é a culpa? Ela pode ser das companhias aéreas que não têm cuidado com os equipamentos, dos surfistas que sabem disso tudo e mesmo assim não fazem nada pra mudar, continuando submissos, ou dos fabricantes que ainda não inventaram uma capa blindada, ou também dos fabricantes das pranchas, que não criaram um material compatível, ou ainda das entidades do esporte que não se mobilizaram quanto à regulamentação desta situação ridícula.

 

Enfim, o caso é que você paga taxas absurdas (US$ 50 por prancha) e mesmo assim não tem garantia nenhuma de que a viagem será tranqüila e que terá um final feliz.

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