Recentemente, dois fatos me levaram a refletir sobre as influências diretas que o compartilhamento de fotos e informações sobre as condições do mar exerce no acúmulo de pessoas em um lugar com boas ondas.
No mês de maio, tivemos uma “semanada” de boas condições de surfe em Florianópolis. Foram dias épicos nos quais nem a temporada de pesca da tainha pôde impedir a felicidade de quem gosta de pegar onda. Em um desses dias, havia planejado para surfar à tarde em um lugar mais distante do centro da cidade, depois de atender alguns compromissos profissionais. Mesmo que a condição estivesse ruim, já estava decidido que iria, pois, com viagem marcada, imaginei ser uma boa oportunidade de me preparar para o que encontraria na Indonésia nas semanas a seguir.
Para a minha grata surpresa, por volta das 7 horas da manhã, recebi de um amigo fotos de altas ondas do lugar que visitaria naquela tarde. Logo a seguir, vi as mesmas imagens em um grupo do WhatsApp. Li burburinhos a respeito em outros grupos. Conversei com esse amigo sobre as condições, ele tinha que trabalhar e perderia aquele dia mágico, mas me desejou com alegria que eu me divertisse e aproveitasse a oportunidade. Logo depois, saiu de um dos grupos e me falou que achava que tinha vacilado em compartilhar as fotos que recebeu com outras pessoas. Fui para a queda e realmente estava alucinante e com crowd normal para o lugar. Os mesmos atirados de sempre.
A seguir, parti para uma breve temporada nas míticas ondas Indonésia. Tive o privilégio de vivenciar experiências incríveis com pessoas especiais. Desta vez, focado em pegar ondas e filmar um curta metragem relacionado ao surfe e as viagens. Lá, percebi que vivo um paradoxo. Acontece que, para contar com o apoio de marcas relacionadas ao esporte, produzo conteúdo e material sobre os mares e lugares que tenho a bênção de desfrutar. Até aí tudo ótimo, pois acredito que as fotos, matérias e vídeos sobre o bodyboarding são importantes para o desenvolvimento da modalidade. Porém, quando expomos um lugar e suas condições ideais, corremos o risco de trazer o crowd. Considerando a promoção de passagens aéreas que possibilitou a visita de muitos brasileiros ao arquipélago indonésio este ano, este risco se multiplica.
Bom, numa das barcas da trip atrás de ondas, um amigo fotógrafo e residente em Bali sugeriu que fossemos produzir material em um lugar conhecido de todos, porém, um tanto esquecido pela galera. A condição imposta por ele: “te levo lá, filmamos, produzimos material, mas deixamos quieta a localização do pico.” Concordei. Resultado: dias seguidos da mais pura magia indonésia com meia dúzia de pessoas sorrindo e se respeitando dentro da água. Diria até que vivemos uma alucinação coletiva.
Durante aqueles dias, relembrei a importância de aproveitar um lugar sem expor de maneira agressiva suas potencialidades e sem deixar de realizar meu trabalho. Refleti bastante a respeito da educação dentro da água e da falta que ela faz quando pessoas, ou grupos delas, esquecem que compartilhar a alegria de um bom dia de surfe traz mais felicidade que o egoísmo na apropriação de uma onda ou de um lugar. Espero que possamos perpetuar com responsabilidade aqueles sorrisos, braços levantados para quem vem na onda de trás, gargalhadas e brilhos nos olhos. Que a satisfação contagiante de um bom dia de ondas perfeitas possa ser vivenciada por muitos de nós e por muito tempo ainda!