Leitura de Onda

A virada diária

Hawaii 2013. Foto Bruno Lemos / Liquid Eye

 

Para Tulio Brandão, entender o dia como um novo ciclo é um ato fantástico por dar a possibilidade da celebração diária, por permitir a renovação. Foto: Bruno Lemos / Liquid Eye.

Tem o champanhe, com suas incríveis bolhinhas, que refrescam, transportam os melhores aromas e uma dose de mágica à vida. “Estou bebendo estrelas!”, teria dito Dom Pierre Pérignon, ao abrir a primeira garrafa da bebida que ele mesmo inventou.

 

Tem os fogos de artifício, com suas figuras e estouros imponentes, que encantam e iluminam as cidades do mundo. Os olhos voltados para o céu brilham graças à invenção de um alquimista chinês, 2 mil anos atrás, que acidentalmente juntou salitre, enxofre e carvão, aquecendo a mistura. Descobriu o huo yao, mais tarde nomeado de pólvora.

Tem a roupa branca, hábito brasileiro herdado dos escravos africanos no Brasil Colônia. O uso da cor representava, para eles, renovação, paz e serenidade.

Tem os calendários juliano e gregoriano, que nos fazem comemorar isso tudo. O ano novo surgiu por decreto do governador romano Júlio César, em 46 A.C., que estabeleceu o dia 1º de janeiro como a data da virada. Deu-se à festa o nome de réveillon, derivado do verbo francês “réveiller”, que significa despertar.

A celebração de ano novo tem um pouco de Dom Pérignon, do alquimista chinês, dos africanos e do imperador romano, mas muito dos desejos, celebrações e resoluções de todos nós. Incorporamos quase de modo biológico um ciclo cultural inventado pelo próprio homem.

É realmente mais prático comemorarmos uma vez ao ano, mas a natureza, a sempre sábia amiga dos surfistas, mostra a possibilidade de um ciclo muito mais curto aos homens: o dia, isso, o mais simplório e monótono dos dias.

O amanhecer é a primeira página: a luz surge, a temperatura aumenta, os bichos acordam, as plantas comemoram secretamente. O vento muitas vezes pinta horas depois, com o fresco. As marés sobem e descem, num balanço que nos envolve. E, claro, as cidades, casa dos homens, pulsam com mais intensidade durante o dia, num ritmo que ainda lembra o da natureza.

As pessoas, presas às rotinas, muitas vezes passam batidas por essa oportunidade da natureza. Entender o dia como um novo ciclo é um ato fantástico por dar a possibilidade da celebração diária, por permitir a renovação. Aproveitar o dia é, sim, uma benção.

Temos, nós, surfistas, dois dos maiores instrumentos para festejar o mais comum dos dias: a prancha e o conhecimento das ondas. Fazer um surfe, sempre que possível, é um passo e tanto para a celebração diária da vida.

De resto, não tem segredo para ninguém: amigos, amor, comer e beber com saúde, fazer o bem e buscar conhecimento. Bom ano, ou melhor, bom dia para todos.

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