Adrenalina no Congresso

William Woo, Fernando de Noronha (PE)

Deputado federal William Woo está disposto a colaborar com projetos ligados ao surf. Foto: Ricardo Macario.

Recém-empossado, o deputado federal William Woo (PSDB), 38, pode vir a ser um importante aliado do surfe no Congresso Nacional em Brasília (DF).

 

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Eleito com expressivos 113 mil votos, Woo surfa há cerca de 20 anos no litoral paulista e define-se como um político ?genérico?, atento aos problemas e sempre em busca de soluções para os mais variados setores da sociedade.

 

?Eu entendo de segurança. Para o resto, procuro a opinião de especialistas?, afirma o parlamentar, que ocupou durante dois anos o posto de Assessor Especial da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo.

 

Na última semana, Woo visitou a redação do site Waves.Terra em São Paulo, trazido pelo surfista vicentino Daniks Fischer. Ele pretende se aproximar mais do esporte que ama e disse que irá fazer o que puder para ajudar no desenvolvimento deste mercado.

 

Durante o bate-papo com a equipe do Waves.Terra, fez questão de convidar os assessores para que eles conhecessem um pouco mais sobre o esporte que tanto o fascina. ?É bom eles terem esse contato para saberem o que estou fazendo quando não me encontram?, brincou o deputado.

 

Filho de imigrantes, de pai chinês e mãe japonesa, Woo representa a força e a determinação da cultura oriental, com uma mistura de água salgada nas veias. Surfista desde a adolescência, ele passou a juventude em Bertioga, litoral Norte de São Paulo, onde aprendeu a deslizar sobre as ondas.

 

?Tive uma juventude muito ligada ao surf, pois cresci em Bertioga. Com alguns amigos, abri uma fábrica de pranchas chamada Special Foam. Fomos os primeiros a ter uma fábrica com salas separadas para as diferentes etapas do processo, desde o shape, passando pelo air brush (pintura) e finalizando na laminação?, revelou Woo.

 

A simpatia e o gosto pelo esporte despertaram nele a vontade de incluir o surfe em suas pautas de negociações no Congresso. A primeira maneira que encontrou para colaborar foi colocar-se à disposição de empresários do segmento, como Álfio Lagnado, proprietário da Surf Co, para ajudar a realizar eventos e promover o esporte.

 

?Tenho uma boa rede de contatos e posso mobilizar ajuda. As idéias vêm da sociedade. Sou um meio de comunicação federal que tem uma simpatia muito grande pelo surfe. Quero me aproximar do meio, ver os problemas e ajudar com soluções?, afirmou Woo.

 

?A maneira com que posso colaborar é apresentando propostas e emendas orçamentárias para realizar eventos e promover campeonatos. Já tomei conhecimento de algumas questões que precisam de regulamentação, como a prática do tow-in, que necessita de regras para ser praticado no litoral brasileiro?, exemplificou.

 

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O lado surfista: Woo feliz da vida na Cacimba do Padre, Fernando de Noronha (PE). Foto: Arquivo pessoal William Woo.

Ao tomar conhecimento sobre a questão das redes de pesca no litoral gaúcho, que já mataram dezenas de surfistas, ele se prontificou a ajudar. ?Vou me informar melhor sobre isso para ver o que posso fazer sobre a questão?, disse.

 

Segundo Woo, a época em que mais se dedicou ao surfe foi entre os 15 e 22 anos, época que chegou a tentar viver do surf com diversas empreitadas na área.

 

Em 1987, ele e alguns amigos compraram três blocos de pranchas e abriram a fábrica Pacific Island. Fizeram as pranchas e colocaram em um conhecido hipermercado para vender. ?Para nosso espanto, as pranchas murcharam por causa de uma reação química e o negócio faliu ali mesmo?, lembrou Woo.

 

Para o deputado, a imagem do surfista mudou muito nos últimos anos. ?Aquela coisa do cara largado ficou para trás. Hoje, há muitos surfistas atuando em vários setores da sociedade, inclusive ocupando cargos de comando. Eu tive contato com o Jadson Adisaka, que vendia bermudas no litoral, e hoje é um respeitado empresário que vive do esporte?, destacou o político.

 

Na época de surfista fissurado, Woo realizou várias trips à caça de ondas. ?Explorei bastante o litoral brasileiro. Fui para Bahia, Fernando de Noronha (PE) e fora conheci também Panamá e Costa Rica?.

 

Woo é da época que os surfistas paulistas reuniam-se em sessões de cinema,   promovidas nos anos 80 pelos irmãos Lumbra (Ronald e Ricardo Fincato), no auditório da faculdade Getúlio Vargas, em São Paulo. ?Era o único lugar em que podíamos assistir aos filmes de surfe naquela época. A galera toda se reunia e vimos clássicos como Endless Summer?, recordou.

 

Formado em Engenharia Mecânica, ele passou a dar aulas na faculdade até que, por volta dos 22 anos, entrou para a Polícia Civil, onde atuou no Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) e no Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic). ?Passei a surfar apenas nos fins de semana, até que fui pegando onda cada vez menos. Bate-volta para o Guarujá ficou cada vez mais raro?, revela.

 

Mas, com o passar dos anos, o estresse da profissão e as cobranças da esposa, que sentia falta do lado descontraído do ?marido surfista?, fizeram com que Woo retomasse o gosto pelo esporte. ?O surfe é paixão. Consegui comprar uma casa na Juréia, no litoral Norte e fui retomando. Até ganhei um campeonato universitário nos anos 90?, contou orgulhoso.

 

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O deputado federal dropa uma boa em Noronha (PE). Foto: Arquivo pessoal William Woo.

Agora, totalmente envolvido na carreira política, ele procura conciliar o surfe com seus compromissos e a ponte-aérea São Paulo ? Brasília.

 

Quando perguntado sobre a influência e a relação do surf com o trabalho que desempenha no Congresso, ele destaca o gosto pela adrenalina, elemento que existe nos dois ambientes.

 

?A política é um mundo de muito estresse e articulações. É muito bom ter o previlégio de equilibrar isso com o surfe. Tenho muita adrenalina política e não há terapia melhor que o surfe para canalizá-la?, reconheceu.

 

Normalmente, Woo trabalha três fins de semana por mês e destina um ao seu esporte predileto. ?O surf sempre foi um hobby. É muito legal pegar onda porque entro em contato com uma tribo que me traz juventude. Surfo de pranchinha, fun e longboard. No início de 2005 fiz uma pranchinha e agora encomendei outra?, afirmou.

 

Woo tem monitorado os swells para fazer com que sua única folga mensal calhe com a entrada da ondulação. ?Não sou um frequentador assíduo, mas checo sempre a previsão no Waves e procuro fazer com que meu fim de semana de folga coincida com a entrada do swell?.

 

Sem esquecer do pico onde passou a adolescência, Woo pretende criar emendas parlamentares direcionadas a Bertioga, bem como às outras cidades litorâneas. ?Nunca tive uma atuação política lá, mas o meu coração está na cidade. Lá passei a melhor fase da minha vida, foi onde aprendi a surfar”, disse Woo.

 

Ultimamente, o que tem impressionado o deputado no mundo do surfe é o número de garotas no outside. ?Isso é muito legal. As meninas estão mandando no pico. Lembro que fui assistir ao Sundek de Ubatuba em 87. Estava na praia da Toninhas e tinha um competidor gringo, o Brice Ellis, surfando. De repente veio uma garota e o lavou com uma rasgada. Foi motivo de gozação na época, pois era algo raro de se ver. Hoje, é até normal?, brincou.

 

Entre os surfistas que mais gosta, Woo confessa ter admiração especial pelo norte-americano Kelly Slater, oito vezes campeão mundial. ?Ele é excepcional, admiro-o ainda mais por ele ter parado um tempo para curtir a vida e depois voltar com todo esse gás?, destaca.

 

Mas, também aparecem entre seus ídolos nomes como o norte-americano Tom Curren e os australianos Tom Carroll e Mark Occhilupo. ?Lembro do Occy na direita de Jeffreys Bay, na África do Sul. Ele se consagrou naquele pico. É um dos meus atletas favoritos?, elogiou.

 

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Big rider Daniks Fisher traz deputado William Woo para uma visita ao site Waves.Terra. Foto: Ricardo Macario.

Para ele, o Brasil possui um potencial muito grande para sediar e promover eventos e fortalecer o turismo, graças à hospitalidade do povo e às características naturais e climáticas do país. “Além das ondas. Temos altas ondas no litoral brasileiro”, enfatiza.

 

Para contextualizar, Woo mostrou-se a par do que acontece no mundo do surfe e citou uma entrevista de Kelly Slater em que o americano elogia a energia singular do povo brasileiro.

 

?O Brasil precisa aproveitar o que tem de melhor, que é o carisma e a capacidade de receber bem as pessoas e os eventos. É um país de harmonia, não existe nada parecido em lugar nenhum. Precisamos capitalizar esta energia. O Kelly (Slater) disse na entrevista que nunca sentiu nada parecido com o que viveu no Brasil quando conquistou o sétimo título mundial. Essa é a vocação natural do país, receber bem. Por isso que temos que promover competições, congressos, eventos e capitalizar isso a nosso favor?, disse.

 

Em seu primeiro mandato federal, ele afirma ter tido uma boa impressão do Congresso e fez uma brincadeira ao ser empossado: sambou no plenário. No entanto, Woo reconhece que é difícil resgatar a credibilidade e a imagem dos parlamentares, depois do desgaste de um ano marcado por escândalos como o “Mensalão” e a “Máfia dos Sanguessugas”, entre outros.

 

?É muito difícil mudar o conceito, principalmente no curto prazo. Para a população, heróis são artistas e esportistas. O político pode ter no máximo uma imagem satisfatória?, analisou.

 

De acordo com Woo, um dos caminhos para minimizar a falta de confiança é proibir a reeleição. ?Acho que os candidatos devem ter apenas um mandato. É suficiente. Tem que haver renovação. Afinal, tem parlamentares que acumulam até oito mandatos, são mais de 20 anos ali. E não se pode esquecer que eles são reeleitos pelo povo?, explicou.

 

Para ele, a explicação para isso é a falta de conhecimento e educação da sociedade, que reflete na hora do voto. ?A capacidade de discernimento é muito baixa. As pessoas não lêem. Só vamos ter um congresso realmente capacitado quando o eleitor votar melhor. Para isso, é preciso concentrar esforços na educação. O povo precisa acompanhar o parlamentar e suas atividades de perto, além de manter-se sempre bem informado?, recomenda.

 

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Ao lado do local Robertinho, Woo curte temporada em Fernando de Noronha. Foto: Arquivo pessoal William Woo.

 

Para Woo, os maiores problemas do Brasil são ?falta de educação, má distribuição de renda e valores muito fracos?.

 

?Hoje em dia, falta oportunidade e estudo para os jovens. Atualmente, aos 10 anos, as crianças perdem a esperança, principalmente na periferia. A culpa é da ineficência do Estado, a sociedade está perdendo os valores básicos da vida?, resigna-se.

 

Para Woo, conversa traz apenas simpatia. ?Confiança só se conquista com atitude e é isso que pretendo mostrar?, afirmou.

 

Finalizando a visita, Woo comentou que em breve embarcará para a China, país com o qual mantém boas relações, para visitar empresários e autoridades locais. Informado sobre a presença de ondas no  país, ele ficou surpreso e entusiasmado com a possibilidade de poder surfar em águas chinesas. 

 

Woo vem de uma família sem tradição política. Candidato a vereador, perdeu a primeira eleição que disputou. Em 2000, foi o mais jovem vereador eleito em São Paulo.

 

Nos últimos anos, sua atuação é marcada pela busca de melhorias para a cidade. Entre os projetos-de-lei apresentados pelo parlamentar na gestão como vereador, está a regulamentação do serviço de estacionamentos e manobristas, depois de constatadas irregularidades que prejudicavam clientes do serviço nos estabelecimentos comerciais.

 

Também é de autoria de Woo uma lei que obriga todos os ônibus da cidade a circularem com adesivo informando o telefone do Disque-Denúncia (0800-156315), serviço que ajuda a desvendar crimes e solucionar casos diversos. Também foi dele o projeto-de-lei que regulamentou o funcionamento das lan houses, entre outros.

 

Recentemente, umas das brigas compradas pelo deputado refere-se à CPI do Apagão. Na última semana, Woo e mais alguns companheiros da bancada paulista fizeram uma manifestação no aeroporto de Congonhas (SP) a favor da instalação da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Apagão Aéreo na Câmara.

 

Munido de faixas e cartazes, Woo estava entre os deputados que abordaram passageiros e colheram assinaturas para um abaixo-assinado que pede a investigação da crise no setor aéreo na Câmara.

 

 

 

 

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