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Alejo abre caminho

Alejo Muniz comemora o título do Burton Toyota Pro 2015 em Newcastle, Austrália.

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Alejo Muniz comemora o título do Burton Toyota Pro 2015 em Newcastle, Austrália. Foto: WSL / Will H-S
 

A Austrália esquenta a temporada de 2015 na divisão de acesso do circuito mundial de surfe. Não faltam tubarões, bons surfistas e outros bichos estranhos.

Depois da vitória de Kolohe Andino no Hurley Australian Open, foi a vez do bravo Alejo Muniz levantar o tradicional troféu do QS Surfest Burton Automotive Pro, em Newcastle. O “Monstro”, como o argentino-brasileiro é conhecido entre os amigos, dá o primeiro passo para voltar ao lugar de onde jamais deveria ter saído.

Alejo, 10o no CT em 2011, é ótimo surfista. Ano passado, por razões diversas, ele derrapou praticamente o ano inteiro. Perdeu, por contusão, duas etapas em que seu surfe costuma se encaixar – Bells e Margaret – e, na volta, acordou apenas com um quinto lugar em J-Bay.  Depois disso, só despertou no Pipe Masters.

No palco nobre de Oahu, Alejo se transformou num endiabrado algoz de legendas. Por conta de seu seed, sabia que provavelmente pegaria, em sequência, candidatos ao título mundial. As vítimas foram, na sequência, Mick Fanning e Kelly Slater, que juntos reúnem 14 títulos mundiais na bagagem.

É claro que as duas vitórias ganharam uma dimensão sem precedentes por conta do que representaram para Gabriel Medina e o surfe brasileiro. 

Mas o resultado de Alejo em Pipe – ficou em quinto lugar – tem um enorme valor isolado, para além da ajuda na conquista inédita do país.

Das duas vitórias, prefiro a que eliminou Slater. É difícil, do lado de cá do balcão, imaginar o significado de uma vitória sobre o maior surfista da história, que perseguia sofregamente o seu 12o título mundial. Deu para ter uma ideia, pela reação de Kelly Slater ao perder em Portugal, quando imaginava já não ter mais chances na corrida pelo título mundial. O americano quebrou em três a sua prancha, ali, diante de uma câmera indiscreta que flagrou tudo.

Contra Mick, numa hora em que o mar não acertava, Alejo teve o mérito de se afirmar mais uma vez como grande competidor. Encontrou as ondas menos ordinárias, soube surfá-las e bloqueou o adversário.

No último domingo, em Newcastle, além do domínio dentro d’água, num evento clássico da escola australiana de surfe, ele foi um gigante no pódio, ao dedicar a vitória ao amigo Ricardinho dos Santos, assassinado mês passado na Guarda.

A vitória o posiciona na vice-liderança do QS de 2015, com seu primeiro importante resultado de 6 mil pontos. Alejo ainda tem um longo caminho a seguir, mas deu um magnífico primeiro passo na Austrália. A volta ao CT será uma consequência natural de seu talento e de seu incansável trabalho.

Na lista dos 10 primeiros colocados do QS, depois do Surfest, há, ainda, dois outros brasileiros: Ian Gouveia, em sexto, e Pedro Henrique, em sétimo. Tem muito jogo pela frente, mas aproveito para falar um pouco sobre eles.

Ian, filho de Fabinho, começou com um vice no Shoe City Pro, primeira etapa do QS sob a bandeira da World Surf League (WSL), em Huntington Beach, no início do ano. Embora ainda não tenha feito um grande resultado em etapas com pontuação mais generosa, parece maduro para alcançar a divisão em que seu pai brilhou por tantos anos. Tem um excelente jogo de aéreos, sabe entubar muito bem e afia, a cada ano que passa, o importante surfe de bordas.

Já Pedro Henrique, que ficou em terceiro no Surfest, subverte, de maneira elegante, a lógica da idade para voltar a se destacar no circuito mundial. Nascido em abril de 1982, Pedrinho é quase 11 anos mais velho que o atual campeão do mundo, mas é, também, a prova mais contundente de que talento não tem idade.

Depois de conquistar o primeiro título mundial júnior da ASP para o Brasil, em 2000, integrou o WCT em 2006 e, depois disso, passeou pela seara do kitesurfe, onde circulou entre os 10 melhores do mundo na categoria Wave. Agora, de volta ao surfe, vai usar a experiência e o talento tentar para recuperar seu espaço.

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