Uri Valadão

Balanço da perna europeia

Uri Valadão, El Fronton, Ilhas Canárias.

 

Uri Valadão (à esq.) no pódio do Sintra Pro, em Portugal. Foto: Divulgação APB.

Fala, galera! Fiquei um tempo sem escrever minha coluna aqui no Waves por estar focado na perna europeia do Circuito Mundial.

Aproveito para contar um pouco a vocês do que aconteceu durante esse período. Depois de ter começado o ano tropeçando em Itacoatiara e Arica, me concentrei bastante e consegui embalar uma ótima seqüência de bons resultados. A perna europeia definitivamente foi boa pra mim.

Começando com a etapa de Sintra, em Portugal, mais uma vez me senti em casa e à vontade naquela praia, mesmo com condições bastante difíceis e extremas nas primeiras fases do evento. O mar subiu bastante, rolando ondas de 6 a 8 pés, e muitos atletas com dificuldades de varar a rebentação. Nessas primeiras fases, prevaleceu quem estava mais ligado nas valas e correnteza, assim como na leitura das ondas e também no preparo físico.

No fim do evento, o mar baixou bastante e terminou em condições minúsculas. Consegui conquistar o vice-campeonato perdendo na final para o até então líder do circuito Iain Campbell.

No geral, o evento de Sintra este ano deixou a desejar em muitos aspectos, no meu ponto de vista. Falta de informações para os competidores, sinalizações e som precários, além de uma estrutura bem fraca para os atletas. O organizador prometeu melhorar o evento no próximo ano e colocar uma premiação histórica, bem como melhorar a estrutura e organização do evento.

Vamos torcer para que isso realmente aconteça, afinal de contas Sintra é a etapa mais tradicional do Tour e merece ser uma das melhores e mais bem vistas.

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O “Baiano Voador” fazendo jus ao apelido na Praia Grande de Sintra. Foto: Divulgação APB.

Depois da etapa de Sintra, partimos para Viana do Castelo, que sediou mais uma etapa do Mundial em Portugal.

O campeonato de Viana, na minha opinião, é um dos melhores organizados, apesar da falta de informações também – isso, na verdade, é algo que precisa ser melhorado em todos os eventos.

Uma das coisas mais complicadas em Viana é quando o mar sobe bastante, e dessa vez não foi diferente. O mar subiu e as ondas quebravam no meio do oceano, muito longe. Era um grande desafio pegar duas ondas sólidas na bateria de apenas 25 minutos sem a ajuda do jet ski para voltar ao outside.

A sugestão pra esse evento melhorar seria passar a utilizar jet ski para levar os atletas de volta lá pra fora – assim como nos eventos da WSL no surfe – quando o mar estiver grande e difícil de varar a arrebentação. Isso melhoraria muito a performance dos atletas e o espetáculo do evento seria outro.

Foi um campeonato em que também prevaleceu a leitura de ondas e principalmente o condicionamento físico. Assim como em Sintra, fiquei feliz por ter conseguido ir bem nesses dois quesitos e tive boas atuações durante o evento, terminando em terceiro lugar. E mais uma vez perdi para Iain em uma bateria acirrada, mas desta vez foi na semifinal e fiquei com a 3ª colocação.

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Uri em outro pódio, desta vez em Viana do Castelo, também em Portugal. Foto: Divulgação APB.

Depois de Viana, partimos direto para Nazaré, na Praia do Norte, uma das etapas mais esperadas do Tour. Nazaré é muito conhecida pelas ondas poderosas e grandes, além de ser uma cidade bem agradável.

Diferente do ano passado, este ano a bancada de areia não estava tão boa e plana, o que dificultava a ondulação quebrar com perfeição. Muitas vezes o mar só ficava bom na maré seca, e na maré cheia as ondas quebravam completamente em cima da areia, obrigando o diretor técnico a parar o evento. Mas as ondas continuavam poderosas e a força daquela onda é incomparável…

Fui bem durante todo evento e mais uma vez perdi para meu parceiro de equipe GTBoards, Iain Campbell, em mais uma bateria extremamente disputada que foi definida nos detalhes.

Finalizei em 5º nesse evento, mas com aquele gostinho amargo. Fiquei muito chateado, pois estava muito bem e com aquela vontade de vencer. Sinceramente, depois de ter perdido e ter visto tanta gente me enviando mensagens discordando do resultado, resolvi rever as imagens da bateria e também discordei completamente do placar final e das notas que me deram. Na minha cabeça eu venci aquela bateria, pois tive claramente a melhor onda do confronto… Precisei superar isso e virei a página pensando no próximo desafio.

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Uri Valadão atacando o lip em Nazaré, Portugal. Foto: APB.

Vale ressaltar a grande vitória do local portuga Antonio Cardoso em Nazaré. “Tó”, como é conhecido, quebrou em todo o evento e mostrou realmente muito conhecimento surfando no quintal de casa. Parabéns, Tuga!

Apesar de ter ficado muito frustrado com a derrota para Iain nas quartas, fiquei feliz e vibrei depois com a consagração do seu primeiro titulo mundial. Iain é um cara muito bacana e talentoso, mereceu muito o título, foi o melhor do ano em todos os tipos de onda e estava quase imbatível. Parabéns, Iain, que trouxe mais um titulo para a GTBoards!

No geral, o evento de Nazaré, na minha opinião, foi um dos piores no Circuito Mundial em termos de organização e estrutura. Pra vocês terem uma ideia, não havia estrutura para os atletas, e as informações, pra variar, não existiam. A transmissão ao vivo foi muito fraca, dentre outros detalhes que nos decepcionaram. A APB precisa se impor e exigir melhorias em alguns eventos em respeito aos atletas e ao bodyboarding mundial.

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Iain Campbell comemora o seu primeiro título mundial. Foto: Vitor Estrelinha.

Depois de Nazaré, partimos para as Ilhas Canárias para competir na última etapa do Tour. Estava ansioso para voltar a surfar em El Fronton. Sem dúvida é a onda mais insana e incrível em que já surfei. O que esperar dos melhores bodyboarders do mundo na melhor onda do mundo?

Bom, não precisa nem dizer que o campeonato foi mais uma vez um espetáculo à parte. A galera, para variar, mostrou muita disposição naquela bancada rasa e desafiadora.

Tive ótimas atuações durante o evento, mas perdi nas oitavas, em um mar bem difícil. Infelizmente não escolhi bem as ondas e não consegui sair dos tubos que coloquei. Depois da minha derrota, minha torcida ficou com Dudu Pedra, que vinha quebrando e inclusive tirou o único 10 do evento em um tubo absurdo. Pedra vinha embalado, mas acabou ficando nas quartas de final, perdendo para o campeão da etapa, Jared Houston.

Jared tem um surf que se encaixa muito bem em Fronton, surfou muito e conquistou mais uma grande vitória em sua carreira brilhante.

No último dia do evento, foi bonito ver a galera dando show naquelas ondas lindas. Minha vontade mesmo era de estar lá competindo com esses caras naquela ondas espetaculares, mas fico mais uma vez com boas lembranças de outro Fronton King histórico.

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Uri Valadão em El Fronton, nas Ilhas Canárias. Foto: APB.

A etapa de El Fronton teve uma estrutura irada, com ondas incríveis, mas com vários problemas com a transmissão ao vivo e segurança. É um evento que tem tudo para ser o melhor em todos sentidos, mas a falta de segurança na água e esse problema de transmissão ao vivo foram coisas graves e que não devem acontecer.

É uma onda muito desafiadora e deveria haver no mínimo dois jet skis fazendo a patrulha e também levando os atletas para sair do mar, pois às vezes é mais perigoso sair do que surfar nas ondas. Vi diversos atletas se machucando na hora de tentar sair do mar. Como pode acontecer algo assim em um evento?

Arriscamos as nossas vidas nessas ondas e precisamos de mais estrutura e segurança.

Deixo aqui algumas críticas construtivas e para as pessoas saberem que nem tudo são flores nessa nossa jornada.

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Eder Luciano, Gabriel Braga, Uri Valadão e Isabela Sousa durante a perna europeia. Foto: Arquivo pessoal Uri Valadão.

Foi uma trip marcante e irada com grandes amigos como Roberto Bruno, Eder Luciano, Gabriel Braga, Dudu Pedra, Isabela Sousa, Paola Simão, dentre outros.

Roberto Bruno teve um ano brilhante, conquistou um dos seus melhores resultados em etapas do Mundial no Chile e fechou o ano em sexto do mundo.

Eder, apesar de não ter tido um ano excelente no circuito, teve algumas atuações extraordinárias, principalmente em Nazaré. Sempre muito focado nos campeonatos, faltaram pequenos detalhes para ele embalar, coisas que acontecem em competições.

Isabela Sousa, que também estava comigo na maior parte da trip, teve um ano incrível, apesar de não ter sido campeã mundial, mas ganhou a etapa mais cobiçada do circuito, em El Fronton. Fez uma final irretocável com um dos backflips mais insanos que já vi uma mulher fazer em um campeonato. Parabéns, Bels, sempre nos inspirando!

Gostaria também de parabenizar Neymara Carvalho, que também teve um ano muito bom e voltou a sentir o gostinho da vitória lá no Chile. Faltou pouco para disputar o título em Portugal.

Aproveito para destacar também as grandes performances do nosso amigo big rider Dudu Pedra, que surfou muito em Teahupoo este ano e representou muito bem também aqui em El Fronton, fazendo atuações de gala. Quando o assunto é onda pesada, esse cara mostra sempre muito conhecimento e me inspira.

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Gabriel Braga, Roberto Bruno, Eder Luciano e Uri. Foto: Reprodução.

E por último, vale ressaltar as grandes performances de Gabriel Braga, nosso estreante nas viagens do tour mundial. Gabriel, o mais jovem do time, teve atuações incríveis em todos eventos, mostrando todo seu talento para o mundo. Foi um dos destaques em Viana, ganhando de Pierre Louis Costes, e também em Nazaré, em ondas pesadas. Talvez tenha faltado um pouco mais de experiência para embalar nos eventos. Fiquem de olho nesse menino, pois ele tem um talento absurdo.

E pra finalizar, gostaria de agradecer mais uma vez a todos que torceram e enviaram mensagens de apoio durante mais um ano intenso. Terminei em 5º do mundo e isso só me motiva mais a seguir em busca do bicampeonato mundial.

Obrigado a todos meus patrocinadores pelo suporte e por acreditarem em mim: UV Store, Kpaloa, GTBoards, Academia Rhanc, Influx, Its Blue Marketing, GO+. Agradeço também a todos os portugueses e canários, que me receberam muito bem, em especial a Rita, Samanta, Daniel e Tiago em Portugal.

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