Direto do front

Ano novo, erros antigos

Leonardo Neves, Quiksilver Pro 2007, Snapper Rocks, Gold Coast, Austrália

Leonardo Neves deixa ótima impressão na estréia dele no WCT em Snapper Rocks, Austrália. Foto: ASP / Covered Images.

Foi linda a etapa de abertura do WCT na Gold Coast australiana, marcada por altas ondas e disputas eletrizantes entre os melhores do mundo.

 

No WCT ninguém está morto e a qualquer momento um dos novatos pode surpreender um dos Tops.

 

Foi exatamente isso que aconteceu na primeira rodada, em que vários estreantes venceram e foram direto para a terceira fase.

 

Apesar das brilhantes performances de Raoni Monteiro, Leo Neves e Adriano Mineirinho, nenhum brasileiro chegou às finais, adiando para 2008 o sonho do título mundial.

 

Recuperado da lesão que o tirou do tour ano passado, Raoni Monteiro não teve sorte e acabou eliminado precocemente. Foto: Veri e Tiago.

Isso porque, como eu disse na última coluna, começar bem o ano no ranking muitas vezes determina o sucesso no fim da temporada.

 

Agora vale um esclarecimento aos ?Jacksons? de plantão: nunca falei que o Mineiro era favorito ao título mundial este ano.

 

Só enfatizei que uma campanha campeã tinha de começar com um bom resultado na Gold Coast e que eu admirava a atitude dele em abandonar as badalações e a grana do WQS do verão brasileiro para se concentrar.

 

Isso mostra que ele tem mentalidade e vontade de se manter pelo WCT, e é disso que precisamos – mas infelizmente não pode ser a estratégia de todos os brasileiros na primeira divisão.
 
Aproveito o ensejo para começar a análise dos brazucas com o Mineiro. Perdeu na primeira rodada para o campeão Mick Fanning. Arrebentou na repescagem com um surf moderno e radical. Acabou na 17a colocação, superado pelo veterano Greg Emslie em uma bateria bem interessante.

 

Emslie largou na frente. Será que Adriano deu mole para ele pegar aquela primeira onda? Achei exagerada a nota 9.17 dada pelos juizes. O primeiro tubo não foi nada demais e as manobras depois foram boas e velozes, mas um pouco forçadas e fora do crítico.

 

Se fosse contra um dos ?queridinhos?, era 8.17. Porém, o mais incrível aconteceu depois. Adriano pegou um tubão atrás das pedras, mostrou conhecimento local e técnica apurada, mas caiu de ?maduro? num cutback trivial, perdendo a chance de tirar um 10 e virar a bateria e a história da etapa.

 

Aquela poderia ter sido a primeira das viradas sensacionais que marcaram o campeonato e se o Mineiro tivesse conseguido arrancaria para o título. Infelizmente não foi dessa vez, mas para mim ficou claro que técnica e vontade ele tem de sobra, só faltou o resultado.
 
Leo Neves foi espetacular. Arrancou uma vitória emocionante na primeira fase na última onda. Depois, surfou de igual para igual com Joel Parkinson e só não levou por causa daquelas mágicas que os juizes do circuito são especialistas.

 

Para dar uma idéia da discrepância de opinião entre eles, uma das ondas do Leo variava de 7.5 a 9.0 pontos no quadro de notas. Sem falar que a polêmica onda 8.17 do brasileiro não entrou no vídeo das baterias disponível no site do evento, impossibilitando qualquer tipo de comparação com a onda do australiano que valeu bem mais.

 

Para quem não sabe, na ASP o juiz chefe é australiano, a maioria dos juizes também, o presidente idem, o CEO, o editor de imagens e até o assessor de imprensa. Então, se não ganhar disparado não adianta que não vai levar.

 

Mas eu gostei da atitude do Leo. Deu uma entrevista inteligente e bem humorada depois da controversa derrota e mostrou que chegou para ficar. Não adianta ficar reclamando e pagando mico. O negocio é quebrar ainda mais na próxima e não deixar margem para dúvidas. Linda estréia na primeira divisão.

 

Raoni voltou no mesmo nível de quando abandonou o tour por causa da contusão no joelho. Tecnicamente excelente, vencendo com folga até perder para o novato Ben Dunn numa bateria de maré cheia e poucas ondas. Talvez tenha faltado um pouco mais de estratégia e garra. Perdeu a chance de repetir o quinto lugar do ano passado ou de ir mais longe. É outro que deve se manter fácil pelo WCT.
 
Bernardo Pigmeu foi mal julgado duas vezes. Na primeira fase, contra Dean Morrisson, e depois contra Cory Lopez. Na repescagem, até o Kelly Slater, que comentava a bateria na transmissão ao vivo, achava que Pig viraria fácil a bateria depois de pegar um bom tubo e aplicar uma seqüência linda de manobras.

 

Mas os juizes preferiram dar um 7.0, menos que a onda com quatro rasgadinhas do Cory que valeu 8.0. Assim realmente fica difícil. Depois Lopez pegou uma boa e ganharia de qualquer maneira, mas assim desanima qualquer um. Bernardo está fazendo uma linha bonita, estilo Fábio Gouveia, mas tem de forçar mais as manobras e aumentar o grau de dificuldade para convencer os juizes.
 
Já Neco Padaratz, Victor Ribas e Rodrigo Dornelles não mostraram serviço mesmo. Precisam trabalhar forte em Bell’s Beach para mostrar que merecem sair da lanterna do ranking.
 
Este ano que está começando parece ter no script um australiano como campeão mundial. Para os brasileiros, ainda sobram os velhos erros de julgamento e as oitavas-de-final como ponto final. De qualquer maneira o time é bom e pode dar boas alegrias no decorrer da temporada.

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