Armando Daltro durante o Pipe Masters 2000.. Foto: Juninho. |
Segundo ele, é muito importante o público saber estes custos, sobretudo porque alguns atletas não sabem se valorizar e aceitam qualquer negociação, por não terem noção dos valores para disputar os circuitos WCT, WQS ou SuperSurf.
Daltro fez esse levantamento durante os primeiros anos em que competiu no WQS e no WCT, utilizando dólar como referência.
WQS – Para competir no circuito WQS e viajar para todas as provas de 5 e 6 estrelas, além de algumas de 4, num total de cerca de 14 provas, passando por países como Austrália, Maldivas, África do Sul, EUA, França, Portugal, Japão, Brasil e Hawaii, o atleta gasta em média U$ 30 mil, podendo dividir alguns gastos, como carro e hotel com outros atletas.
Um surfista campeão do WQS merece maior atenção do mercado brasileiro. Foto: Pierre Tostee/ASP World Tour. |
“Acredito que um salário justo para um atleta de nome no cenário internacional fique em torno de US$ 1 mil a US$ 2 mil”, avalia Mandinho.
WCT – Já para os atletas que competem no WCT e correm as principais provas 5 e 6 estrelas do WQS, esse custo sobe para cerca de US$ 50 mil, seguindo a mesma regra do WQS, dividindo despesas com outros companheiros e sem incluir salário ou custo com técnico e preparador-físico.
Um salário “satisfatório” para atletas que representam o país na elite do circuito mundial ficaria entre US$ 4 mil a US$ 6 mil.
SuperSurf – Aqueles que competem apenas no Brasil devem dispor de R$ 15 mil por ano, sem contar um salário entre R$ 2 mil a R$ 5 mil, dependendo do nível de resultados e viagens promocionais feitas anualmente.
Para Mandinho, muitas empresas de surfwear no Brasil ainda confundem patrocinar atletas com despesa. “No meu ponto de vista fica claro que quanto maior for o investimento em atletas e eventos maior será o reconhecimento e consequentemente o crescimento da empresa”, diz.
“As grandes empresas entrangeiras, conhecidas mundialmente e vendidas no mundo inteiro, têm uma atuação muita fraca no nosso país. Não posso acreditar como marcas que atuam no Brasil há vários anos não invistam em atletas de ponta ou façam eventos para estimular o crescimento do esporte no país. Essas mesmas marcas sustentam há anos equipes enormes fora do país e fazem eventos tradicionais dos circuitos WCT e WQS”, avalia.
“Como nossa torcida e imprensa especializada podem cobrar alguma coisa de atletas que dedicaram suas vidas nesse esporte e muitas vezes estão competindo com dinheiro do próprio bolso? Que incentivo esse atleta recebe para treinar mais, melhorar suas performances e estender seus limites se recebe pouco incentivo da mídia nacional? Como ser melhor que os australianos que conheceram o surfe anos à nossa frente, e que além disso recebem grandes investimentos e de quebra têm altas ondas em casa? Para mim, a única alternativa chama-se investimento no esporte. Empresários abram os olhos enquanto é tempo”, desabafa o top surfer da Bahia.
Chega a ser lamentável um atleta do nível de Armando Daltro estar sem patrocinador principal. Será que vamos repetir em 2003 os mesmos erros que comprometeram a performance da cearense Tita Tavares, que não pôde competir integralmente o tour em 2002 por falta de apoio, perdendo a vaga para o WCT duramente conquistada?