Morongo Wear

As aventuras de um empresário

Morongo, Chile

Morongo esbanja atitude nas direitas geladas do Chile. Foto: James Thisted.

Em 2009 a Mormaii completa oficialmente 30 anos de atividade.

Oficialmente, porque muito tempo antes o médico Morongo já confeccionava trajes de surf e mergulho em Garopaba (SC), para curtir o mar no inverno.

 

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Em 1979, a marca, solicitada anos antes, foi finalmente registrada no INPI (Instituto nacional da propriedade Industrial). Um pouco dessa história o site Waves apresenta aqui.

 

A Mormaii é uma comunidade que não pára de crescer e Marco Aurélio Raymundo (M.A.R.) é o líder de uma rede de inter-relacionamentos, assim como o Orkut.

 

O fundador conseguiu transformar uma marca de surf em muito mais que emblemas aplicados em produtos. Transformou num amuleto do surf brasileiro.

 

Mormaii é um universo onde participam seus muitos ?colaboradores?, incluindo o staff, licenciados, franqueados, representantes, fornecedores, lojistas, atletas patrocinados (ou apoiados), admiradores e consumidores no mundo todo.

 

São 220 empregos diretos e 9 mil indiretos. Só no Orkut, uma das comunidades tem quase 50 mil pessoas que curtem a Mormaii, feita por gente que a criou deliberadamente, sem ninguém lhes pedir.

 

Para eu falar bem do Morongo e desta marca é fácil. Como assessor de imprensa da Mormaii, só tenho que admirar o trabalho dele, e seu estilo arrojado de pegar ondas grandes e reconhecer ótimas idéias em todas as áreas da empresa ? inclusiva na redação.

 

Uma das mais recentes e originais é a tecnologia Neocycle, vinculada à essência da marca, pois recicla roupas de neoprene que surfaram no mundo inteiro, transformando-as em sandálias bastante resistentes e confortáveis. Um produto que têm alma e está ligado às origens da Mormaii.

 

Este é só um exemplo clássico, mas há vários outros. Dentro da empresa, Morongo é um ?chairman? (termo usado na publicidade que designa os fundadores de grandes agências). É sempre solicitado para tirar dúvidas e apontar um rumo à empresa, com a diferença de não permanecer sentado numa poltrona (como o termo sugere), mas arregaça as mangas seja pra aplicar um painel numa parede, ou palestrar para outros empresários.

 

Aos 59 anos de idade, continua um garoto quando o assunto é surf. No último mês de setembro voltou de uma trip ao Chile com um dos atletas patrocinados mais atirados do Brasil, Everaldo ?Pato? Teixeira. Morongo acompanhou a obsessão de Pato para pegar a primeira onda que surgisse no horizonte, de qualquer tamanho, ao primeiro raio de sol.

 

Até hoje, ele surfa com todos os tipos de pranchas, de remada ou tow-in. Seu pico de treino sempre foi e sempre será a praia do Silveira, Garopaba (SC). Tem vasta experiência internacional. Foi mais de 20 vezes ao Hawaii, pegou quase que todas as melhores ondas do mundo.

Praticou esportes de todos os tipos: vôo livre, mergulho, motocross, natação e windsurf. Foi tricampeão gaúcho de saltos ornamentais, além de pilotar helicóptero.

 

Atualmente, Morongo está muito dedicado ao kitesurf nas ondas, e se mantém fiel a ioga, que preserva sua integridade. ?A prática da ioga me poupa de muitas lesões que podem ocorrer nos esportes radicais?, revela.

 

Outra coisa bacana sobre o empresário, Morongo também é músico. Lançou seu primeiro CD em 2008: ?Hora marcada com Dr. Morongo?.

 

O som tem muita personalidade e conta com parcerias de grandes amigos e de seu filho, o músico Flavius Raymundo, 34. As canções estão na Coluna do Doutor, que Morongo escreve na revista eletrônica Mormaii.

 

Na entrevista a seguir, concedida em setembro no pátio da Mormaii em Garopaba (SC), Morongo explica com precisão os detalhes sobre sua vida. Acompanhe, logo em seguida, outros relatos de pessoas que convivem com ele.

 

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Morongo com a palavra durante o II Congresurf. Foto: Harleyson.

A sua mudança para Garopaba em 1974 foi para fugir dos grandes centros e do sistema ou para trabalhar no posto de saúde?

 

Quando cheguei, os atendimentos eram precários. Eu ajudei a criar os diversos serviços de saúde pública para os pescadores.

 

A comunidade pagava as consultas com peixes e galinhas?

 

Nos primeiros dois anos, minha casa não tinha água nem luz. Outros habitantes estavam em piores condições. Não rolava grana. E foi maravilhoso, tudo na base da troca, do escambo. Salvava uma criança com problema de saúde, por exemplo, e depois ganhava um presente: uma galinha, ou um pedaço de porco, ou quem sabe uma dúzia de ovos.

 

Criar a Mormaii foi uma questão de estar no lugar certo na hora certa?

 

Se eu não tivesse naquele momento aqui na beira da água, não teria rolado. Era uma época em que o surf estava nascendo. A minha própria necessidade coincidiu com a de um montão de gente que queria participar dessa cultura surf. Não havia equipamentos para praticar esse esporte no Brasil. Fiz um wetsuit para mim e outros me procuraram para suprir essa necessidade.

 

Você já surfava naquela época?

 

Comecei a surfar dez anos antes na Guarita, em Torres (RS). O surf no sul só existia no verão. Não rolava surf no inverno. Era somente nas férias. Ninguém ia à praia no inverno. Aqui é muito frio. Quando vim morar em Garopaba foi que percebi que rolavam altas ondas no inverno.

 

E por que escolheu Garopaba e não seguiu para outra cidade?

 

Estava me formando em medicina. Tinha como opções ficar numa grande cidade com uma porção de médicos ou ir para um lugar onde eu me fizesse muito mais necessário. E em Garopaba não tinha médico! Durante 10 anos atendi a população de Garopaba e Paulo Lopes. Eu era tipo aqueles médicos que vão para a África ou para a Amazônia tratar dos índios. Altruísmo puro, ou quem sabe uma realização profissional num nível mais bacana. Em nenhum momento vim pra cá pensando em ganhar dinheiro, e aí que foi o mais doido, porque consegui montar uma baita empresa.

 

Entre os produtos que a Mormaii fabrica qual o mais importante?

 

O wetsuit que é nossa base. Desde o princípio a Mormaii nasceu com a confecção de trajes de neoprene. Hoje não é nosso maior faturamento. Mas o carinho que temos com os wetsuits e tudo o que nos trouxe em termos de autoridade no mercado de esportes de água é digno de muito respeito, e continua sendo importante.  Uso praticamente todos os dias para surfar. Estamos sempre tentando fazer o melhor possível, para alcançar o mais alto nível de satisfação.

 

Qual o segredo para ser bem sucedido e ter sucesso no mercado de surf?

 

Primeiro, tem que ser surfista. Muitos empresários que entraram no mercado não têm nada a ver com esse mundo. Eles só querem uma oportunidade de entrar para ganhar dinheiro. Tudo bem, todo mundo tem o direito de lucrar. Mas, se você for surfista, fica bem mais fácil.

 

Mais alguma dica?

 

Hoje, o mercado está completamente tomado por marcas nacionais e estrangeiras. É muito difícil competir, a não ser que se tenha algum diferencial ou um produto exclusivo. Senão, não vai conseguir entrar mesmo. Porque é briga de cachorro grande. Há 15 ou vinte anos, seria mais fácil.

 

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Morongo dropa as melhores em seu pico favorito: praia do Silveira, Garopaba (SC). Foto: Arquivo pessoal.

O que você mais gosta e o que não gosta no surf mundial?

 

O surf mundial foi para um lado que não tem a ver com suas origens. O surf nasceu de um movimento meio ?hiponga?, completamente do mundo Yin, cooperativo, pacifista, conservador. E foi para o lado agressivo, que é o mundo Yang. Em vez de ficar nas origens do soul surfer, o surf segue para uma vertente competitiva. O surf não nasceu disso. O surf é uma atividade lúdica, não é batalha. Tem muito mais a ver com o Gerry Lopez do que com o Johnny Boy Gomes.

 

Acha que as pessoas buscam esse passado no surf?

 

Há empresas e pessoas com atitudes ao estilo “agression is our obsession” e outras que levam a vida e os negócios mais “low profile”, como é o caso da Mormaii. Apesar de participar desse mundo tão agressivo e competitivo, prefiro aqui na empresa e nos inter-relacionamentos – seja pessoal ou comercial -, adotar um estilo mais manso, dentro da essência da realidade do que vim fazer aqui em Garopaba.

 

Se quisesse ter um estilo de vida superagressivo, teria ficado na cidade grande. Sou um fugitivo das grandes cidades. Vim para cá buscando um estilo surf de viver. Se não for assim, sou uma incongruência. A Mormaii nasceu do surf e está dentro deste conceito. É uma opção. Empresas com perfil agressivo podem gerar muito mais lucros para seus acionistas, mas perdem muito da essência surf. Não quero parecer arrogante. De repente, estas empresas estão certas e a minha que está errada. Cada um tem seu estilo, o seu nível, e definitivamente a minha maior preocupação passa por qualidade de vida.

 

Qual a essência da Mormaii?

 

A gente aqui na Mormaii não troca dinheiro por qualidade de vida. Essa é a essência da empresa. Se rolar uma grana, melhor. Ninguém é contra dinheiro. Só que nenhum dinheiro no bolso vai ter mais valor do que surfar a hora que estiver rolando altas ondas. Qualidade de vida pra mim é ser livre, ter tempo para poder amar, viver e crescer como pessoa.

 

Como faz para orquestrar essa mega-estrutura?

 

Uma empresa é feita de pessoas. Administrar uma empresa é administrar pessoas. Se você colocar as pessoas certas nos lugares certos, tudo funciona. A única sensibilidade que se precisa é entender as pessoas. Por isso a medicina foi importante para mim. Uma empresa com pessoas boas (a principio todos somos bons para alguma função) gera uma empresa boa. Uma com pessoas ruins (mal interpretadas ou mal direcionadas), provavelmente será uma empresa ruim para se conviver no dia-a-dia.

 

Qual a importância da equipe na Mormaii?

 

Tratando-se de uma empresa que produz equipamentos, nada mais natural que ela tenha seus pilotos de teste. Os atletas trazem informações sobre o desempenho dos equipamentos com maior precisão. Isso é uma parte fundamental da empresa. A outra parte é a da divulgação dos produtos. Quando usados por atletas de alta performance, a qualidade dos equipamentos e acessórios fica evidente para o consumidor. E fora tudo isso, tem o nosso inter-relacionamento com os atletas, que aumenta a família Mormaii. Tornam-se grandes amigos. Essa parte é muito gratificante.

 

Existe pressão para os atletas obterem resultados nas competições, ou basta estarem contentes e dando um bom exemplo?

 

Essa é a essência da nossa empresa. Não somos competitivos obsessivos, somos uma empresa de surf. Não é o mais importante que o atleta patrocinado seja o campeão. O mais importante é que se sinta muito feliz e confortável. Além disso, possa ter momentos de prazer usando nossos equipamentos, para desfrutar da natureza. Se ganhar o campeonato, ótimo!

 

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Morongo também gosta de experimentar diferentes modalidades de esportes com prancha. Foto: Zé Roberto.

Confira depoimentos da galera que convive com o doutor Morongo

 

Gustavo Rolim – designer da Agência MXM
?Morongo entrou na sala querendo fazer uma reunião urgente, mas o Carlos Carpinelli (diretor de criação) disse que não ia rolar, pois a galera faria um final de tarde. Então, Morongo falou que tudo bem, que era para ir pegar onda mesmo. Quando chegamos à praia, ele já estava lá, vestido com a roupa de neoprene.?

 

Marisa Zancani – esposa
?Recentemente completei 50 anos, e há quase 25 vivo com Morongo. São os melhores tempos da minha vida. Então, não preciso dizer mais nada!?

 

Gerson Vignoli Perrenoud (Pilão) – diretor de marekting da Mormaii

?Morongo revolucionou a indústria surf no Brasil, ajudando até atletas patrocinados por outras marcas. Numa ocasião, um surfista de uma marca concorrente tinha uma roupa de neoprene que não esquentava, então, a gente produziu um longjohn fininho para ele vestir por dentro da roupa feita pelo patrocinador dele, pois ele morria de frio em Mavericks. Até isso o Morongo fez.?

 

Eduardo Nedeff ? diretor comercial da Mormaii

 

?A Mormaii consegue se diferenciar de muitas outras marcas por causa da autenticidade que ela tem, representada por seu presidente e fundador. Porque foi surfando que Morongo aprendeu a trabalhar e não ao contrário.?

 

Marco Giorgi ? surfista patrocinado

 

?Morongo é fissuradão pelo Silveira. Ele está sempre na água. O velho é desgraçado, mora aqui há mil anos e só pega a boa, nem olha para trás. Impressionante como o cara consegue surfar tanto até hoje!?

 

José Filomeno Neto (Netão) ? chefe de equipe

 

?Além do lado profissional, Morongo é um grande amigo. Ele me ofereceu condições de ter uma vida totalmente surf, algo que eu amo!?

 

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