O apresentador e praticante de esportes de ação Luis Roberto “Formiga” não poderia ter um apelido mais apropriado. Se amanhã surgir uma nova modalidade com prancha, ele não irá descansar até aprender e incorporá-la ao vasto curriculo.
Aos 40 anos, o ex-dentista se dedica aos esportes radicais há mais de 25, sempre buscando o limite. Essa determinação acabou rendendo um programa exclusivo no canal ESPN Brasil, o X-Treme TV.
Formiga adaptou para o jornalismo a experiência de atleta e, ao contrário da maioria dos repórteres, capta as imagens em ação usando microcâmeras e equipamentos incomuns, além de participar de toda a execução do programa, da criação da pauta à edição final.
Depois de trabalhar por 12 anos como dentista, praticando paralelamente modalidades como surfe, skate, snow e wakeboard, vôo livre, pára-quedismo, sky-surf, tow-in, entre outros, ele viu a possibilidade de entrar de cabeça no mundo dos esportes e fazer apenas o que gosta.
Começou a trabalhar na ESPN Brasil fazendo comentários sobre sky-surf e depois foi integrado à equipe do programa Super Ação, até conquistar seu próprio programa, o X-Treme TV, onde aborda os mais variados esportes radicais, seus praticantes e estilo de vida, em lugares e situações quase sempre de risco.
Formiga acabou de voltar do Hawaii, onde foi registrar o início da temporada 2004 ao lado dos big riders brasileiros Romeu Bruno, Carlos Burle, Eraldo Gueiros, Sylvio Mancusi, Jorge Pacelli e Vitor Marçal, além do atual campeão mundial de tow-in, o havaiano Garrett McNamara.
O resultado é um especial dividido em três partes. E a primeira vai ao na próxima quarta-feira, 11 de fevereiro, às 22 horas, na ESPN Brasil). O X-Treme TV inclui um perfil com o temido havaiano Perry Dane sobre localismo, técnicas e treinamento para ondas grandes e uma session de kitesurf, entre outros assuntos.
Em entrevista exclusiva para o site Waves.Terra, Formiga fala sobre sua trajetória radical e os novos projetos, como a base do X-Treme TV que acabou de montar em Florianópolis para surpreender até o mais aventureiro dos esportistas.
Perfil – Luis Roberto Formiga
3 vezes campeão brasileiro da skate
3 vezes recordista sul-americano de distância em asa delta
Campeão brasileiro de Acrobacia em Asa Delta
Um dos pioneiros na prática de snowboard no Brasil
Campeão brasileiro de snowboard Master em 93
Introdutor do skysurf no Brasil
Recordista de altitude de skysurf em balão
Fez um salto inédito de sky surf de avião em cima de uma metrópole, a 7.600 metros de altura
Recordista de altura em ultraleve num vôo de 5 mil metros de altitude sobre o monte Roraima, divisa do Brasil com a Venezuela
Surfou em diversas Pororocas
Integrou o primeiro grupo de pára-quedistas a saltar sobre o arquipélago de Fernando de Noronha, de uma altura de 5 mil metros
Como foi a cobertura da temporada havaiana este ano pelo X-Treme TV?
Bem, este ano colocamos como foco principal o tow-in, que apesar de ser uma modalidade polêmica, costuma chamar a atenção do público. É engraçado, basta colocar tow-in que muita gente esbraveja contra. Mas é o que eu digo, tem gente que não gosta de carnaval, outros não gostam de mulher e outros não gostam de tow-in. Não dá para agradar a todos. Mas o programa busca fugir do conceito surfe-competição, e com o auxilio do jet-ski é possível ir atrás de lugares novos e valorizar o radicalismo do surfe de aventura. O ano passado foi realmente muito forte. Nós conseguimos realizar o projeto de desbravar a Ilha dos Lobos, em Torres (RS), que foi muito trabalhoso, e obviamente a continuação disso seria partir para o Hawaii a fim de reportar e pegar as ondas grandes, que eu mesmo nunca havia pegado.
Inclusive acabei nem surfando Jaws, mesmo tendo surfado em Maui na companhia do Many (Carabello, parceiro de Sylvio Mancusi) em ondas de 20 a 25 pés de face (cerca de 7 a 9 metros) num pico ao lado de Hookipa. A idéia era ir logo no começo e pegar os tradicionais swells de início de temporada. Acabamos não dando sorte neste aspecto, mas valeu porque conseguimos fazer bons treinos. Destaque para uma session ao lado do Romeu Bruno e Roberto Cantone num pico nunca antes surfado por brasileiros, no East Side de Oahu, um dia depois de o Garret ter surfado altas ondas em Sandy Beach. É um secret freqüentado por feras como Ace Cool, onde eles costumam praticar tow-in. Mas este ano as condições estiveram adversas, além do alto grau de localismo e vibrações negativas que senti nas ilhas.
Isso acabou virando tema de um dos blocos do programa?
Pois é, acabei fazendo um perfil com o temido local Perry Dane, que para muitos é um dos mais casca-grossas do North Shore, famoso pelas brigas que teve com estrangeiros anos atrás. Na verdade, como senti que esse problema era muito maior e mais intenso do que muita gente pensa, resolvi entrevistar o cara e saber o que ele tinha a dizer sobre isso.
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Você chegou a ter algum problema com localismo no Hawaii?
Tive sim. Tomados uma intimada com dedo na cara do Ace Cool, que xingou, mandou a gente se f… e quis dar porrada geral. Tava eu o Mancusi e o Many, que não conseguiu aliviar nossa barra. Mas não deu em nada. Teve outro episódio em que eu estava tomando café na Sunset Bakery quando passou um cara mal-encarado dentro de um carro. Olhei e continuei comendo. De repente, o cara freou, voltou que nem um louco e chegou perguntado o que eu tava olhando. Era um tal de Kala (Alexander, famoso local encrenqueiro), que eu não conhecia. Dentro da água também estava tenso, e era bem difícil pegar as ondas boas nos picos. Tinha muito vento e poucos picos estavam quebrando. Foi quando encontrei o Zecão, que tem uma moral grande com os locais do Hawaii, e pedi pra ele me apresentar os caras. Foi então que conheci o Perry e fiz o programa sobre esse estilo de vida. No final, ele desmistificou essa coisa do localismo e mostrou como funciona essa mentalidade. Foi bem legal pra saber o que passa na cabeça desse caras.
O que mais tem nos programas?
Além desse perfil, filmamos todo o processo de treinamento para ondas grandes, inclusive fiz um curso de apnéia com Mancusi, Bruno, entre outros. Depois, aproveitamos a temporada de ventos em Mokuleia, um dos melhores lugares do North Shore para a prática de kitesurf. Além disso, filmamos algumas sessions legais com o local Pancho Sullivan e sua turma. Uma outra história legal que deu pra amarrar foi uma entrevista com o Garrett McNamara, meu primeiro instrutor de tow-in, que deu boas dicas sobre a modalidade, e ainda mostrou de vários ângulos aquele megatubo que ele pegou em Jaws no ano passado.
É você quem define as pautas do X-Treme TV?
Sempre, mas é engraçado, porque nunca saio com as pautas totalmente definidas. No caso do Hawaii, fui aberto para registrar o que pintasse pela frente. Se tivesse rolado o campeonato mundial de tow-in em Jaws, teria um belo material para mostrar. Como não rolou, tive que correr atrás de outras coisas. Normalmente é assim que funciona.
Como foi sua trajetória na TV até conquistar seu próprio programa?
Tudo começou quando comecei a surfar, aos 9 anos. Com o tempo, procurei outras formas de surfar em esportes diferentes, mas sempre com o objetivo de reproduzir as linhas do surf. Foi assim que comecei a andar de skate, nas piscinas no Brasil e pelo mundo. Naquela época o skate era muito parecido com o surf e a gente buscava a “concret wave”. Hoje o skate não tem nada a ver com o surfe. Lá pelas tantas acabei adotando coisas diferentes, como o vôo livre e seus derivados. Aí, resolvi virar dentista, porque achava que essa profissão iria permitir que eu continuasse praticando meus esportes sem maiores problemas. Foi assim que iniciei no skysurf e posteriormente no kite, sempre buscando a linha do surfe.
Até que eu já tinha um curriculo esportivo considerável e a ESPN entrou no Brasil, querendo alguém com esse perfil, de esportista que topa qualquer parada. Com toda essa bagagem, fui convidado pela emissora a entrar nesse esquema de vídeo-reportagem, em que o diferencial era o fato de eu ser o repórter e esportista ao mesmo tempo, com pequenas câmeras e produção quase caseira.
De pequenas matérias, fui evoluindo para vinhetas até conseguir meu programa. Hoje eu faço todas as etapas do processo, desde a sugestão da pauta, produção, execução e finalização. Com a tecnologia atual, posso editar um programa no aeroporto, ou no carro, durante uma viagem longa, por exemplo. A ESPN e o X-Treme TV foram pioneiros nesse esquema. Mas posso garantir, são 99% de transpiração e 1% de inspiração. É muita correria.
Qual é o principal foco do programa?
Seguindo a minha filosofia de praticar o maior número de esportes de prancha possível, o programa também busca mostrar todos eles e seus respectivos praticantes e estilos de vida. Eu tinha como meta experimentar todos eles até o ano 2000, e acho que cumpri meu objetivo. Tenho uma atração muito grande em experimentar coisas novas, voltar a ser um iniciante, conhecer as técnicas. Foi assim que me tornei um dos pioneiros na prática de algumas modalidades, como o sky e o kite. Esse é o objetivo do X-Treme, juntar grandes nomes em locais novos ou desconhecidos. Nada de competições, onde cada um visa somente o seu lado. Inclusive, a partir de agora queremos sair dos lugares-comuns e explorar o desconhecido, sempre acompanhados de feras.
Qual foi o programa campeão de audiência até agora?
Sem dúvida foi a barca para a Ilha dos Lobos, que envolveu toda uma união de atletas num pico totalmente virgem. Também porque teve o caso do resgate do garoto que passou a noite na ilha e quase morreu de frio, mas acho que isso foi só um incremento. Na verdade, estamos atrás de tudo o que é extremo, e um de nossos objetivos é sair da orla para ir atrás de ondas oceânicas pelo Brasil. A Ilha dos Lobos é só uma amostra do que está por vir. O programa deu uma amadurecida e hoje somos os mais bem equipados da televisão, com toda certeza. Montei uma base em Floripa, onde moro, equipada especialmente para gerar esse tipo de conteúdo. Parece até um quartel-general de esportes de ação e aventura.
Como funciona essa base radical?
Temos todos os tipos de “brinquedos” imagináveis para ir atrás das matérias mais extremas, como lanchas para wakeboard e surf, jet-skis para tow-in, tem até um ultraleve que pousa na água para podermos checar as bancadas oceânicas. Desenvolvi esse projeto pioneiro há sete anos, quando não existia nada parecido. É um equipamento supercaro que permite alcançar novos limites. Tive que investir dinheiro e arrumar gente pra desenvolver e aprimorar o projeto. Depois de duas capotadas na água, fizemos os ajustes necessários e hoje posso dizer que é um aparelho de nível militar, de guerra. Já testei em condições extremas e ele se comportou muito bem. E tudo isso está reunido nesta base que montei em Floripa, feita para receber os grandes nomes dos esportes e gerar conteúdo para o programa, na terra, na água e no ar. Ainda não demos início ao projeto, mas em breve vamos começar a convidar as pessoas.