Competição
substantivo feminino
1.1
concorrência a uma mesma pretensão por parte de duas ou mais pessoas ou grupos, com vistas a igualar ou esp. a superar o outro.
– luta, conflito; oposição.
– reivindicação simultânea do mesmo poder, a mesma dignidade ou título
Infelizmente para nós que gostamos muito de esportes, a maioria dos atletas brasileiros possui talento, técnica, ginga, mas eles têm uma tremenda dificuldade em competir. Falta ao brasileiro, muitas vezes, simpático e bonzinho demais, aquele olhar matador de um Kelly Slater, um Michael Jordan, ou um Usain Bolt.
Ninguém sabe o por quê. Talvez seja por causa do sangue latino, da falta de cuidado dos familiares que desejam o melhor para os filhos e não sabem que, e nem poderiam adivinhar que, um dia, eles vão entrar em conflito esportivo com adversários competitivos. Enfim, isso afeta tremendamente o grau de competitividade do brasileiro.
Note que a definição do dicionário ali em cima diz que se trata de uma luta, conflito, oposição, reivindicação do mesmo poder! Tem que lutar por isso!
Em certos campeonatos ele fica abatido com uma derrota inicial, mesmo que não seja eliminatória, e os técnicos passam horas tentando convencê-lo que ainda dá tempo de se recuperar. Técnicos são persistentes e minha recomendação é para os atletas fixarem nos conselhos deles.
O surfista profissional brasileiro, principalmente essa nova turma do Brazillian Storm, possui técnica e talento invejáveis, e muitas vezes se esquecem de prestar atenção nas estratégias de disputa, principalmente numa liga disputadíssima como é a WSL.
O surfe é uma delícia, para quem tem talento então, o paraíso, e é normal até se esquecer ou deixar em segundo plano a estratégia. Novamente, os atletas profissionais brasileiros, em qualquer esporte, devem prestar atenção em seus treinadores, técnicos que, com mais experiência e uma visão outside, podem ensinar pequenos truques táticos que só vão melhorar a performance deles.
Outros esportes Lembro do vôlei feminino na Olimpíada de Moscou em 1980. Era um time bom pra caramba. Merecia uma medalha. Mas no dia mais importante, uma das meninas, uma das três melhores do time, acordou doente, com dores. Não conseguiria jogar a partida decisiva que garantiria pelo menos a medalha de bronze. As meninas brasileiras ficaram abatidas, não poderia acontecer isso, e jogaram muito mal.
Competição não é isso. As outras, até em nome da que estava doente, deveriam ter se unido, jogado até mais, em nome da companheira que não jogou, lutar mais, pensar na competição e tentar pelo menos vencer o jogo. Não importa se ganha ou perde uma partida. O que importa é dar o máximo possível.
Outro caso interessante foi na Olimpíada de Los Angeles. Aliás, três casos. O primeiro o time de vôlei, a chamada geração de prata, de William, Bernard, Renan, Montanaro. Ganharam de todo mundo, mas na final, na hora da competição mesmo, contra os donos da casa, os quais haviam vencido nas preliminares, os brasileiros se perderam, ficaram sem noção de competição e tomaram um acachapante 3 a 0 dos EUA.
Naquela mesma Olimpíada o Robson Caetano não apareceu para correr o revezamento. Estava com a Melody, eu sei disso porque ela era roommate da minha namorada nos EUA, a Jane. E o Joaquim Cruz que não soube ganhar os 1500 metros só porque ao lado dele iria correr o grande Sebastian Coe. Joaquim não tomou a decisão correta, desanimou, deu uma vacilada feia, não soube competir.
Quem não se lembra das meninas do vôlei na final da Olimpíada de 1996 em Atlanta, quando apanharam na cara das cubanas que as provocavam, chamando elas de frouxas? Pois é, acho sim, que de uma maneira geral, os esportistas brasileiros poderiam ir melhor em Olimpíadas e Mundiais de diversos esportes. Mas, por alguma razão, ele vacila, pelo menos a maioria vacila, e vivemos de heróis, verdadeiras exceções, aqui e ali, como Senna, Kuerten, Cesar Cielo. A grande maioria tem talento, técnica, mas falta o espírito de competição.
Posso citar o exemplo do futebol. O maior de todos foi do Ronaldo, que deu uma de vacilão na hora de entrar em campo da final do Mundial de 1998, Brasil e França. Ele não entrou mesmo em campo. Não conseguiu. Até hoje ninguém sabe o que aconteceu. Só sabemos que ele desistiu e não soube competir e o Brasil tomou um sonoro 3 a 0.
Posso também citar uns 100, 150 exemplos como esses. O esporte é complicado. O americano compete desde os 5 anos de idade e não está nem aí para o adversário. Não está nem aí para seus defeitos e dificuldades, passa por cima, vai lá e ganha medalhas.
Voltando ao surfe No surfe também acontece a mesma coisa. Nossos atletas são talentosos, geniais, mas estão perdendo títulos e dinheiro por causa de um vacilo aqui e ali na estratégia. Enfrentamos os mesmos problemas.
No Taiti, acredito que o Filipe Toledo – talento e técnica indiscutíveis – ficou muito brabo consigo mesmo, por perder para um menino que está aparecendo agora, aprendiz de feiticeiro ainda, da Austrália que não havia vencido nenhuma bateria este ano ainda. Erro de estratégia? Falta de competitividade? Perceberam o entusiasmo que o menino remava de volta? Era contagiante.
Um ex-técnico de futebol, Gentil Cardoso, dizia que o atleta tem que ir para a bola (ele falava de futebol) como um mendigo ataca um prato de comida, com vontade, com decisão, sem titubear. Olha, em competições de alto nível, não da para confiar só no talento e na confiança. Competitividade e estratégia são outras coisas e tão importantes quanto o resto.
Vou dar mais um exemplo. Wiggolly Dantas vinha bem no campeonato. Muito bem mesmo, apesar da repescagem. Nas quartas de final eu acreditei numa vitória dele sobre o Andino. Começou bem. De repente, parece que deu um branco no Wiggolly e ele ficou por 16 minutos, esperando uma onda melhor. Enquanto isso, Andino ia fazendo pontos, lidando melhor com o mar, fazendo ajustes. Quando faltavam três minutos, esperando a boa, Wiggolly entrou numa onda ruim e saiu. Entregou a prioridade para o Andino de bandeja. Presente. Não pode, amigo. Nesse nível de competição, não pode ser gentil assim. Competir com respeito ao adversário, mas não dando moleza.
A final. Gabriel Medina vacilou de novo contra o Julian Wilson, como na final de Pipeline em 2014. Sei que o Medina deve estar com isso travado na garganta e ninguém precisa dizer isso para ele. Contudo, o talento dele é excepcional. O controle sobre os tubos, o conhecimento das ondas em Teahupoo por parte do Medina é excepcional. Impressionante mesmo.
Faltando 12 minutos para acabar a bateria os locutores da ESPN já cantavam vitória. Opa. Competição é outra coisa. O Julian Wilson não desiste nunca. Ele é competidor nato. Australianos nasceram para competir em tudo, o tempo todo. Esqueceram disso. Naquela final em Pipeline de 2014 aconteceu a mesma coisa. A onda era do Medina, deu uma titubeada, perdeu para o Wilson. No domingo a mesma coisa.
Acredito que todos os brasileiros no Mundial contem com excelentes técnicos. Gente que conhece o surfe, as ondas, as pranchas e o atleta que treinam, suas limitações. Mas escutem um conselho de um veterano de coberturas em Olimpíadas, Copas do Mundo, Mundiais de Atletismo e Natação – É preciso aprender a competir. Comprem livros, estudem os casos. Coloquem na cabeça dos meninos sobre competição. A gente torce por eles, de madrugada, de manhã, a noite, de tarde, a hora que for. Eu sou numero 1 do Medina, do Mineirinho, do WIggolly, do Filipinho e dos outros. E deveriam investir no aprendizado de estratégia e táticas, alem, é claro, da competitividade.
A boa notícia é que acontece nos outros esportes também. Claro que existem as exceções. O técnico José Roberto Guimarães é uma exceção. Ensinou as meninas do vôlei a tirar leite de pedra. Elas já estiveram em situações caóticas, perdendo por 2 sets a zero, 22 a 17 no terceiro set e, de repente, com muita raça e competitividade, elas viram o jogo. Bernardinho no vôlei masculino mostrou isso para os rapazes na final da Olimpíada do Rio no ano passado. Foi muito legal.
Ayrton Senna sabia competir e, apesar do talento, quando precisava, jogava o carro pra cima do Prost e do Mansell. Nelson Piquet jogava em cima de todo mundo. Monstro.
O surfe precisa aprender isso – talento e técnica não vencem campeonatos sozinhos. Confiar em ambos é pedir para perder. Precisamos aprender essa estratégia de competir, para darmos surras maiores nos adversários.
Não é aceitável o Medina perder quatro seguidas para o Julian Wilson. Não aceito. Minha crítica é construtiva, ou seja, torço para que os técnicos dos nossos meninos na WSL, invistam em ensinamentos de táticas, estratégias, competitividade, quero que eles melhorem, e para isso, é preciso que os técnicos detectem as falhas e aprimorem seus meninos. Para o bem de todos.
Extras
#Jordy Smith fazendo seus pontinhos rumo ao título.
#Parece que os juízes decidiram que a nota 10 não é para a perfeição das manobras na onda. É para o melhor que for feito naquele mar, daquele dia. Acho que o 10 do Medina foi exagerado em Teahupoo, foi o melhor do dia, mas não foi uma onda perfeita. A onda era pequena. E o quesito numero 1, segundo os juízes, é “tamanho da onda”.
Essa onda do Medina que recebeu um 10 este ano, se fosse em 2014 não chegaria a 9. A onda foi espetacular mesmo. Um grau de dificuldade absurdo, mas faltou tamanho – repito o PRIMEIRO critério para análise da onda que os juízes seguem, segundo o próprio livro de regras da WSL. Não era uma onda Teahupoo clássica como as que ele mesmo, Medina, pegou quando venceu ali e deu uma surra em todo mundo.
Para mim, aquelas eram ondas 10. Essa seria um 9. Imagine se o mar subisse em seguida, e na final, Medina pegasse tubos maiores, mais profundos, e saísse em pé, como ele fez há três anos, com aquela maestria e genialidade que Deus Lhe deu? Que nota dariam? 11? 12? Em julgamentos subjetivos de esporte, é preciso segurar nota se as condições de mar não são as ideais, pois, a qualquer momento, de um dia para o outro, o mar pode subir e ficar perfeito. E aí?
#Foi uma etapa fraquinha, com notas e médias baixas. O swell não ajudou. A de 2014 continua histórica.
#Dia 22 de setembro estarei em Israel a convite da Walk About Love para uma aventura no Oriente Médio.
#Um mundial de Seniors e Masters seria exagero. Mas pelo menos três etapas nobres seria bem bacana. Uma na Austrália (talvez em Bells), no mês de abertura, uma no meio do ano em Jeffreys e uma no Hawaii no final do ano.
#Em muitos esportes – tênis, atletismo, automobilismo, certas etapas do circuito mundial oferecem pontos em dobro para os atletas. Acho que seria hora para a WSL considerar algumas assim. Ou pelo menos Pipeline, a última. Isso iria oferecer mais competição, disputas maiores, pois muitos surfistas chegariam ao Hawaii com chance de ser campeões do mundo.