Ex-triatleta e praticante de diversas outras modalidades esportivas, a paulistana Silvia Nabuco tem o surf na veia.
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Vinda de família de esportistas, ela trocou as competições “Ironman” pelo surf e hoje busca aprimorar-se nas ondas mais pesadas do mundo.
Nos últimos meses ela esteve no Tahiti pela primeira vez e agora está de volta cheia de histórias para contar. Confira abaixo seu relato sobre a barca recheada de tubos nas potentes ondas de Teahupoo.
Ao olhar as fotos e escrever este texto tive um flash back de tudo que passei e pensei: eu fui, aprendi, sobrevivi e estou aqui para contar a história. (risos)
Estava no Hawaii ouvi minhas amigas falarem em ir para o Tahiti. Sempre soou como um sonho. Como ventava maral e fazia frio já havia um mês no Hawaii, a idéia de não voltar ao Brasil e ir ao Tahiti tomou forma.
A aventura deveria durar um mês e acabou virando três. Logo no primeiro dia, o Marama pegou o barco e rumou para Vairao. Então perguntamos: estamos indo para o lado oposto de Teahupoo?
Minha adrenalina para conhecer Teahupoo estava a mil e eu não queria saber de mais nada. Minha amiga falou: ela quer ir para Teahupoo! Marama olhou com uma cara cabreira e perguntou: tem certeza?
Chegando lá o mar apresentava séries de até 2 metros e apenas quatro locais na água. Cheguei e fiquei no rabo observando durante meia hora e me perguntando como iria dropar em um cenário daqueles?
Uma onda em forma de cratera de vulcão, onde o fim dela fica maior que o começo e a bancada está ali esperando você errar!
Como sei que minha vontade é maior que o medo, fui indo para o pico. Falei com os locais e eles como a maioria sabe, são muito solidários e amistosos. Se a onda vem para você ninguém se afoba para pegar.
A cada queda a galera se cumprimenta com aperto de mão. Mesmo que enão conheçam a pessoa. Isso me impressionou muito. Bom, logo estavam escolhendo alguma onda para mim. (risos). Assim fui dropando e correndo a onda para senti-la.
Foram dois dias sem dormir de tanta adrenalina e outras inas que meu corpo produziu (risos). Depois de duas semanas pegando Teahupoo e Vairao, encontrei o Adam, um amigo Californiano que é um dos melhores no pico e em me ajudou muito.
Várias vezes o lip me pegava e mais alguns cortes nas mãos e pés. Aliás ninguém sai ileso de lá. O fogo é cuidar desses cortes. Vi alguns surfista em casa mesmo pegarem o tal do staf (stafilococus), uma bactéria que existe noscorais. Ele entra na corrente sanguínea e causa infecção geral. O tratamento é feito com antibióticos.
O primeiro swell maior foi pelo começo de maio. Havia 10 meses que Teahupoo não quebrava maior do que 2 metros. Acordamos e lá estavam mais de três metros lindos quebrando!
Vários barcos posicionados pertíssimo do fim da onda, o que gera um clima de espetáculo. Para mim é um pouco difícil, pois é mais um fator de apreensáo, de não poder errar, de estar sendo observada, exposta e clicada. (risos)
No dia seguinte o mar abaixou. Logo na primeira onda peguei meu primeiro tubo pra valer. A galera vibrou dos barcos. Eu fiquei pensando como é bom cair num mar casca e no dia seguinte você sentir uma confiança e tranquilidade maior, deixar a coisa fluir.
Bem, a esta altura perto das triagens da etapa taitiana do ASP World Tour, nossa casa virou QG hawaiiano. Uma situação que eu nunca imaginaria. Caras como Kalani Chapman, que eu encontrava no mar do Hawaii e ficava com medo da cara dele, ao ponto de sair remando para o outro lado.
Alias quando vi ele chegando na casa pensei: ai meu Deus, esse cara vai ficar aqui? (risos). Mas com o tempo ele foi tirando aquela marra e ficando sociável, até me suprendeu ele me elogiar naquele primeiro tubo que peguei.
Vi muitas situações de amizade entre brasileiros e havaianos, como eles elogiarem (entre eles) a performance do Gordo e do Pedro Manga. Aliás, o Pedro ficou na nossa casa e eles o adoravam.
Mas também nem tudo são flores. Assim como existem os havaianos gente boa, também existem aqueles que se incomodam com os brasileiros. Até então já havia mudado a turma da casa várias vezes, e tinha um mapa mundial como papel de parede, em uma parede inteira da sala.
Um dia um brasileiro foi em casa e grudou uma bandeirinha do Brasil no mapa. Um mês depois, com uma nova turma (não de profissionais) em casa, acordei e uma outra brasileira que estava na casa além do Pedro, me disse que a bandeira estava colada dentro da privada. Aquilo me deu muita raiva!
Fui até a sala e falei: Essa bandeira estava incomodando algum de vocês? Qual é o motivo disso? E ninguém respondeu, calaram-se. Eu ainda fui lá, tirei a bandeira e coloquei de novo no mapa. Assim como me irritei com essa atitude, também me irritei com atitudes vindas de brasileiros, que me deixaram inconformada. Então vai da índole de cada um!
Com a chegada do ASP World Tour, o crowd ficou insuportável e fui para Moorea surfar. Foi bom relaxar. Incrível, mas durante o campeonato o mar ficou ruim durante duas semanas. Mal terminou e voltou a bombar, com um swell ainda mais forte e ondas de até 4 metros..
O mar estava mais de Oeste. A pressão da onda, a espessura do lip e o final da onda em formato de concha sugando eram assustadores. Nunca havia sonhado em ver e nem surfar aquilo. (risos)
Ensaiei muito para pegar uma onda. Estava com minha maior prancha, uma 7 pés. Veio uma onda e falei: vai ser essa! Dropei já vendo a massa do lip em cima de mim. Fui para dentro do túnel, mas via a saída logo ali. Na hora que disse a mim mesma que sairia, não vi mais nada e o foam ball me pegou. A boca da onda fechou e senti um impacto muito grande (risos).
Quando subi, vi minha prancha pela metade. Nossa, logo na primeira onda! Saí nadando e arrastei a metade dela até o bote que estava na bóia. Lá estava minha 6’6″. Peguei ela e remei de volta para o pico.
Estava com raiva, pois não me sentia segura com uma prancha deste tamanho, mas fazer o quê? Além disso com o pé todo ralado. Mas como meu chip estava acostumado a ser trocado a todo instante nessa trip, logo veio uma onda e eu remei.
A única coisa que lembro foi o local Tuhiti dizendo: reme forte e drope, pois está vindo uma série gigante atrás! Então eu fui. Ao contrário da anterior, parecia que tudo estava em câmera lenta. Passei a seção e quando cheguei na temida parte de Oeste, vi o teto se formar em minha frente e eu entrando abaixo dele, abaixada por instinto, de que este teto desabaria em minha cabeça (risos).
Finalmente consegui ficar na parede com o tubo rolando perfeito! Ouvi todos gritarem nos barcos. Foi muito legal! Uma sensação indescritível estar dentro de uma onda dessas. Obirgada a Deus pela oportunidade.
Nesse mesmo mar estava a havaiana Keala Kennely, que veio se apresentar logo no começo da session. Foi irado ela estar ali. Especialmente por ser um ícone do surf nos tubos de Teahupoo.
Ela também quebrou sua prancha, aliás esse dia estava difícil de não quebrar. Conversei com ela e falei que era minha primeira vez ali. Ela ficou surpresa de eu estar naquele mar e falou: Já está entubando! Nossa! Nos dias seguintes nos divertimos surfando juntas.
Foi um processo gradual e caiu minha ficha. Eu tenho vontade de trocar esses chips logo (risos). Agora no final, quando me deram as fotos e filmes, fiquei horas analisando minha posição e vi que eu deveria estar um pouco mais perto da parede, para perder o receio do teto cair em mim. Aliás, agradeço ao Camarão, Tojal, Akiwas e Aline pelo material registrado.
E foi isso que aconteceu. Vendo as fotos, mais um chip foi trocado (risos). No último swell consegui pegar dois tubos com a mão na parede, em pé, relaxada (risos). Pena os fotógrafos já tinham ido embora uma semana antes. Mas está fotografado em minha mente.
Outra coisa que também não esquecerei no último swell. No último dia o mar tinha abaixado de 4 metros para pouco menos de 3 metros. Somente eu e mais três surfistas estávamos na água na remada, quando de repente apareceu uma monstra sinistra de 4 metros em noss frente.
Remamos com tudo. Eu estava na base da onda e furei vendo o Raimana rasgar a onda de tow-in. Quando eu já conseguia ver a claridade do outro lado, pronta para respirar, tudo parou parou por um instante. De repente comecei a ser sugada para trás. Voltei de costas em um turbilhão muito forte.
Fiquei um bom tempo debaixo da água. Quando finalmente consegui subir no meio da espumeira para ver a próxima onda, vejo aquele volume de água branca vindo junto de uma prancha vermelha com o bico na minha direção.
Abaixei e pensei no pior, mas não pego em mim. Era a prancha do Pedro Manga, que também não conseguiu passar a onda, mas foi rápido e soltou o leash para afundar. Mesmo assim ele disse que ficou sendo sugado para trás.
Bom, depois de tomar mais três ondas, vi o jet ski do Raimana vindo me resgatar. Graças a Deus nada aconteceu. Voltei para o pico para pegar mais uma onda e não ficar com essa impressão (risos). Agora estou de volta ao Brasil e fico sonhando com essas ondas, que ficarão gravadas para sempre.
Minha trajetória nesses seis anos de surf está sendo abençoada. Agradeço ao Pipo da Gzero por ter me ajudado e acreditado no meu potencial, ele me mandou ao Hawaii logo no primeiro ano. Agradeço também o apoio da Evoke como uma família desde o começo. E ao Waves que sempre cede seu espaço aos atletas e amantes do surf.
Quando cheguei ao Hawaii por dois dias para pegar meu vôo de volta ao Brasil, recebi uma proposta de parceria da Mercedes Maidana, que este ano foi nomeada no Billabong XXL e voltou agora de uma viagem ao Chile, onde já pegou umas ondas de tow-in e já está concorrendo novamente.
Ela me chamou para conversar e falou: vamos ser parceiras no tow-in? Nossa, fiquei muito feliz, apesar de saber que o caminho é duro por não termos patrocínio para viajar, comprar um jet, etc.
Estamos com muita energia positiva nesse projeto! Ela ja está treinando tow-in lá no Hawaii, onde mora, e eu preciso começar a treinar por aqui também.
Adoro novas motivações, emoções, me dedicar e fazer as coisas acontecerem. Sinto que deixei muita coisa passar, não por vontade própria, mas agora estou com tempo que nunca tive para me dedicar a esta nova fase!