Imagine um lugar onde a vida selvagem é tão intensa que você não vê um carro trafegando à noite pelas estradas, tamanho o risco de atropelar um enorme canguru, um dócil coala ou mesmo o arisco diabo da Tasmânia.
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Imagine um lugar com praias desertas de areia branca, água azul, ondas tubulares e infestadas de tubarões dos maiores e mais perigosos.
Imagine um lugar com o ar mais puro do planeta Terra, de densas florestas dentro de parques nacionais totalmente preservados.
Agora, imagine-se nesse lugar com um grupo de 11 pessoas, toda a infra de camping, mapas, equipamento de surf e ainda um festival de três dias de música dentro de uma fazenda roots, entre a praia e a montanha, no melhor estilo Woodstock.
Pronto, você está dentro de uma das maiores aventuras do nosso planeta. Bem vindo aos mistérios da Tasmânia.
Quando eu dizia para os australianos que estava indo passar oito dias na costa leste da Tasmânia, todos torceram o nariz e, com aquela cara de espanto, ?Tasmania mate, what you gonna do there???. Ou seja, até para os aussies o lugar soa como doideira.
Na revista Tracks de março, saiu uma reportagem bem completa sobre o local. Se vocês tiverem a oportunidade de adquirir e ler, vale a pena.
Hobart, a capital, é um lugar pequeno, bem pequeno mesmo. Mas tem uma infra boa de backpackers, restaurantes e acolhe bem o turista. É o lugar mais crowd da Tasmânia e com bons point breaks que quebram inconstantes.
O povo é um caso à parte. Diferente dos ?sydneysiders? (moradores de Sydney), o pessoal em Hobart é muito simpático, conversa e cumprimenta na rua como nas cidadezinhas do interior do nosso Brasil. No outside, todos querem saber de onde você é, como são as ondas do Brasil e ficam contentes que fomos curiosos o suficiente para ir até a casa deles passear e surfar.
A vibe de toda a Tasmânia é totalmente mística. Especialistas no assunto afirmam isso e dizem que deve-se tomar cuidado, pois o fluxo das energias positivas e negativas é enorme.
Percebe-se isso claramente tanto na atmosfera quanto nos habitantes. Uma quantidade incrível de ?malucos? de todos os tipos transita pelas ruas. Não digo só drogados, mas malucos mesmo. Esse tipo de coisa só se descobre se conferir de perto, portanto, não vou explicar!
Na década passada usaram um pesticida altamente cancerígeno nos campos da Tasmânia, comprometendo a saúde de diversos animais nativos, dentre eles o diabo da Tasmânia. Mas, ao sair nas ruas de Hobart, comecei a achar que o pesticida afetou mesmo uma parcela da população.
Da janela do avião já tentávamos ver algum sinal de ondulação. Mas a previsão já nos tinha dito que nos primeiros dias de aventura nossa diversão seria nas trilhas dos parques nacionais, acampamentos no meio da selva e, no máximo, uma marola de meio metro.
E foi isso o que aconteceu. Exploramos as trilhas mais cascas-grossa, nos embrenhamos nas matas mais cabulosas para acampar e surfamos as merrecas mais sem crowd de nossa vida no começo da trip.
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Um dia em especial, no parque de Freycinet, surfávamos num secret spot somente eu e meus dois amigos. Água claríssima, fim de tarde gelado em pleno dezembro de verão do Hemisfério Sul, algas gigantescas sob a água e meio metro lisinho.
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Conversávamos no outside, eu um pouco mais ao fundo, naquela tentativa de pegar a rainha que entrava de 10 em 10 minutos, quando Luiz King vira e fala: ?Ih, tá vindo alguma coisa em nossa direção bem rápido e tenho certeza de que não é uma alga dessas, não!?.
A mancha escura foi se aproximando cada vez mais, tirei os pés da água e bem debaixo da minha prancha bailava uma arraia gigante do tamanho do capô de um fusca, um digno fuscão preto marinho da Tasmânia.
Após o susto e a lembrança de que arraias e tubarões são parentes próximos, tivemos a óbvia idéia de abandonar a valinha antes que algum primo resolvesse passar por baixo da prancha de alguém e, quem sabe, tirar uma casquinha, lasquinha, não importa.
Nos dias seguintes, o vento ficou maral para a entrada de um novo swell e os exercícios para as pernas nas trilhas foram a nossa diversão.
O lugar mais bonito que fomos, sem sombra de dúvidas, foi o Freycinet National Park. Caminhadas que agradam o público dos 8 aos 80, infra de sinalização, centro de informações, estacionamento e área pública de camping.
Após os dias de vento, rumamos mais para o Sul da costa leste, onde passaríamos três dias no Falls Festival. Um capítulo à parte. Uma experiência única e agora entendo um pouco o que é a magia de festivais de música, gente doida e rock?n roll.
É bem diferente de shows nos centros urbanos, é bem diferente de passar uma tarde ou noite vendo bandas, ir pra casa e bye bye…
O festival acontece dentro de uma fazenda, com a praia e a montanha no mesmo cenário. Se você não está a fim de ver alguma banda, tem muita coisa pra fazer: arte, gastronomia, meditação, compra de lembrancinhas, passeios, além de pegar onda em Marion Bay, onde rola uma valinha amistosa e sem crowd.
Depois de muita doideira e diversão, ainda faltava o encontro com ondas realmente boas. Sabíamos que a Tasmânia era inconstante, mas sabíamos também que quando a ondulação entra, as bancadas funcionam bem.
E foi o que aconteceu, rumamos mais ainda para o frio do Sul e encontramos um lugar meio sinistro chamado Eaglehawk Neck. Uma baía linda com uma floresta maravilhosa, mas cercada de lendas de navios naufragados misteriosamente, piratas, prisioneiros, fantasmas, monstros marinhos e bruxas.
No primeiro café que paramos tinha uma foto de um tubarão branco de uns três metros pescado bem ali onde iríamos surfar. Ou seja, além das lendas, também havia os perigos reais.
Dane-se! Quando os olhos de um surfista avistam a série perfeita entrando e algumas cabeças na água para dividir o percentual de ser um alvo, a adrenalina que toma conta é a melhor possível.
Passamos os dois últimos dias ?internados? no surf de Eaglehawk Neck para nos curar do festival e recompor a energia hardcore necessária para viver em Sydney-Area.
Vale muito a pena essa trip. A Australia é cheia de surpresas, venha procurá-las!