Surf & Aventura

Aventuras e similares

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Capa do livro “A História do Surf no Brasil”, escrito por Alex Gutenberg. Foto: Reprodução.

É com enorme satisfação que passo a ser um colaborador – com colunas e reportagens – do site Waves. Já escrevi para a Fluir, já fui diretor de redação da Fluir, já escrevi o livro “A História do Surf no Brasil”, fui um dos fundadores da Abrasp e coloquei o surfe, lá nos anos 80, nos principais jornais, revistas, rádios e emissoras de televisão do Brasil.

Minha história com o surfe remonta aos anos 70, quando fui morar em Florianópolis e aprendi a surfar com o Bugrão e uma ajuda dos meus primos da época, Eduardo e Marcelo, que me emprestavam uma prancha que era de um amigo deles (risos). Passávamos tardes maravilhosas em praias remotas da ilha. Ir ao Santinho, por exemplo, era uma boa aventura. Lá ainda não havia casas, prédios ou hotéis. E com o vento sul, a onda de direita ali era tubular, maravilhosa, pequena, mas deliciosa.

Naquele tempo de sexo, drogas e rock and roll, éramos eu, Bugrão e o Neco. Fomos a todos os picos da ilha de Santa Catarina por dezenas de vezes, não para competir, não para provar nada para ninguém, apenas para ficar no mar, curtindo de uma forma diferente dos seres humanos normais. Sim, porque não somos normais, somos mais da água do que da terra. Mas isso é outra história.

Naqueles tempos, nossa maior aventura foi ir a Itajaí para o campeonato da Atalaia, em 1977. Quem se lembra? Que festa nós fizemos no meu Fusca marrom e desbravador ano 1969. Bugrão, se você ler isso aqui, vai lembrar que deixou o tubo de plástico de patê de presunto no banco de trás, e o calor fez estourar, sujando tudo, roupas, banco, o que estava lá. Sim, dormíamos na praia, com o carro de porta aberta, onde ficava comida, parafina, prancha, etc.

Fui embora para os Estados Unidos estudar, e em meados dos anos 80, o surfe parou para mim, pois descobri que tinha uma doença nos olhos, ceratocone. Passei a usar uma lente de contato rígida, que caía com facilidade, e parei de entrar na água, pois a lente caía e eu não via mais nada. Não contei a ninguém e engoli a seco, tornei-me um burocrata do surfe, mas fui um dos fundadores da associação que permitiu organizar o esporte no Brasil, a Abrasp, e trabalhei nos próximos três anos ajudando a realizar perfeitos campeonatos de surfe Brasil afora. Foi duro viajar pelo Brasil e mal poder entrar na água, apenas assistir a gerações surgindo no surfe competitivo.

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O surfe e os surfistas são mais que uma confraria ou uma tribo. Foto: Reprodução.

Fiquei assim, usando lente de contato, até depois do século mudar, quando foi possível fazer um transplante de córnea e voltar ao mar, agora no Nordeste, em ondas pequenas, prancha enorme. Mas está valendo, porque o surfe não é apenas um esporte, mas um modo de vida. E continua para sempre em minha vida.  E vou tentar trazer para o debate aqui nesta coluna, enormes pautas sobre o surfe e o modo de vida outdoor de aventuras. Preparem-se, o couro vai comer.

Por enquanto, tenho o seguinte a dizer: na abertura do meu livro sobre a história do surf, eu escrevi algo delicioso. Leiam: “O surfe é o esporte dos anos 90. Um esporte que integra os atletas à natureza, permitindo que eles trabalhem nas melhores praias do mundo, usufruindo de sol e mar, na Austrália ou no Rio de Janeiro, passando pela Califórnia e pelo Havaí. Trata-se de uma perfeita união do útil ao agradável, uma atividade que pela sua beleza, risco, complexidade e versatilidade desafia os outros esportes do final do século 20. Os surfistas são atletas excepcionais, e é uma heresia o fato de que seus nomes não constem no arquivo do Comitê Olímpico Internacional”.

Veja como mudaram algumas coisas após essa afirmação acima, embora a essência da mensagem seja a mesma. Primeiro, o surfe tornou-se o esporte do século 21 e não apenas dos anos 90. Segundo, a complexidade aumentou, pois o surfista não apenas enfrenta o piso móvel – prancha e mar – como ele se move o tempo todo, mas agora ainda tem que lidar com o vento e as manobras aéreas. Beautiful. E, sem espanto, o surfe foi aceito no Comitê Olímpico Internacional e estará em Tóquio 2020. O mundo progride, o surfe evoluiu.

O surfe e os surfistas são mais que uma confraria ou uma tribo. Os surfistas pertencem a uma família internacional. Sim, eu sei que eles brigam nos picos mais desejados e que o crowd é uma desgraça, mas não é assim nas famílias? Não se briga com irmãos e pais e primos por causa de besteira? Não se briga por causa de uma rabeada ou uma onda??

O surfe ainda vai mais longe, escutem o que estou falando, pois atletas de futebol, basquete, tênis, vôlei, depois de um tempo, fim de carreira, cada um vai para um lado.

Os surfistas estão unidos até a morte. Sempre tem reuniões de ‘galera das antigas’. Sempre existirão os ‘bandidos’, os ‘gurus’ os caras que são respeitados acima de tudo, do Penho ao Randy Rarick, do Perdigão ao Renato Hickel, do guru Wadir Mansur ao Otávio Pacheco, do Teco Padaratz ao Bocão, dos irmãos Paioli ao Adriano de Souza. Tudo “brodinho”.

Preparem-se, vou falar de histórias do surfe, da liga mundial e do que está acontecendo no surfe nacional amador. Polêmicas e mais polêmicas. O surfe precisa ser discutido. Aloha.

Alex Gutenberg
Nos anos 80, foi diretor de redação da Fluir, autor do livro “A História do Surf no Brasil" e um dos fundadores da ABRASP.