Florianópolis Cine Action

Baggio arma o Festival

Jorge Baggio

 

 


Jorge Baggio no tubaço de Teahupoo, Tahiti. Foto: Gustavo Camarão.

Cineasta e atleta profissional, Jorge Baggio, 29 anos, formou-se em 2008 na faculdade de cinema com o projeto documental O Pintor e o Oceano, em que busca quebrar os estereótipos explorados atualmente nos audiovisuais sobre esportes de ação e natureza, referenciada em Tarkovski, um gênio do cinema russo, e que busca referência ainda artistas com uma forte ligação com o mar, como Pablo Neruda e Paul Gaughin.

  

O projeto compreendeu viagens que passaram pelo Hawaii, Polinésia Francesa, Ilha de Páscoa, Chile, Austrália, Bali, Java, Ilhas Canárias, Espanha, Holanda, Costa Rica e Equador.

  

Em 2002, aos 23 anos Baggio lançou o primeiro vídeo sobre bodyboarding produzido em Santa Catarina. Ele foi também um dos pioneiros na exibição de filmes sobre o esporte nas salas de cinema nacionais.

  

Criou e dirigiu o programa de televisão Cine Adventure, que aborda o conteúdo cultural e artístico inseridos em audiovisuais sobre esportes de ação e natureza.

  

Na entrevista a seguir, Baggio fala de sua carreira e do projeto Florianópolis Cine Action.

  

Como surgiu a idéia do Festival?

 

Em 2003 lancei meu primeiro audiovisual o Bodyboarding Santa Catarina, no cinema do CIC. Foi um caos, pois naquele dia tivemos o histórico blecaute em Florianópolis. Mas isso não impediu o lançamento do filme, pois o CIC tem gerador de energia e mesmo com a cidade parada e às escuras, a sessão ficou lotada. Isso me contagiou muito e ao terminar logo pensei na possibilidade de realizar um festival de cinema.

 

Cerca de seis meses depois, Bruno Lemos me ligou e falou da idéia de fazer um festival. Isso me estimulou, pela admiração e consideração que tenho por esse excelente prossional e pela grande pessoa que representa pra mim.

 

Comecei a trabalhar a idéia aqui no inicio de 2004. Infelizmente as dificuldades foram enormes, mas mesmo assim, o projeto crescia.

 

Comecei a estudar lei Rouanet, mas ficava completamente perdido com os formulários. Naquele mesmo ano, sai da faculdade de engenharia e fui estudar cinema.

 

Foram quatro anos aprendendo e pensando este projeto e no filme que se chamava O Pintor e o Oceano. Tudo isso sempre tentando tornar viável um parceiro comercial para poder financiar o projeto.

 

As dificuldades eram imensas. E um amigão, Fabio Fava, piloto profissional de parapente e jornalista, me ajudou muito nessa fase, com um projetinho gráfico simples.

 

Já no terceiro ano de Cinema, finalmente consegui colocar os dois projetos na lei Rouanet e obter aprovação. Desde lá até agora, tem sido uma verdadeira batalha para captar os projetos. O Festival ainda não teve nada captado. Mas com o apoio da secretaria da organização e lazer de Santa Catarina, conseguimos uma pequena verba para iniciar a idéia.

 

Agradeço muito ao secretário Gilmar Knaissel e à imensidão de pessoas que se envolveu no projeto e são parceiras hoje em dia, dando sangue e trabalho. Espero conseguir tornar o evento maior e poder ter todos esses parceiros juntos num evento só.

 

O evento difere de um festival de filmes de surf comum, como surgiram as idéias?

 

Sempre senti a falta de informação e conteúdo dentro das produções audiovisuais que abordavam o surf e os esportes de ação e natureza em geral.

 

Com o curso de cinema pude aprender mais sobre as linguagem audiovisuais, possibilidades de narrativas e a história da arte audiovisual, os diretores e as linhas seguidas por estes.

 

Isso permitiu pensar de forma mais profunda e refletir mais sobre a importância de obras mais poéticas, permeadas por cultura, arte e mais essência.

 

A linguagem audiovisual dessa área se desenvolveu com o objetivo de vender roupas e produtos, marcas cresceram e se tornaram potências comerciais investindo nos vídeos. Mas hoje em dia podemos evoluir em busca de algo além. A arte tem o poder de proporcionar a evolução da humanidade e os audiovisuais são uma forma de expressão de arte, no qual o conhecimento e as experiências acumuladas podem ser passadas através das gerações.

  

Na prática, como você pretende passar tudo isso?

 

Temos cursos de cinema envolvidos, artistas, professores, alunos, excelentes produtores audiovisuais e empresários. Reunir essa galera, permitir a troca de informações para que as técnicas e linguagens evoluam.

 

Realizar debates, estandes expondo produtos de forma interativa podem permitir a evolução e o aprendizado de todos.

 

E a escolha das obras?

 

Buscamos nesse evento de lançamento mostrar nossa capacidade de trabalho para facilitar a captação da lei Rouanet. Selecionamos obras que fizeram sucesso, com conteúdo e linguagem inovadoras. Teremos graças a Deus muitos dos melhores produtores audiovisuais da área do surf pelo menos no Brasil.

 

Fale um pouco de sua obra O Pintor e o Oceano?

 

Ele ainda está em fase de produção, mas busquei passar sentimentos como o da felicidade de uma criança quando aprende a pegar suas primeiras ondas, como isso às vezes evolui para uma relação de paixão com o mar e autoconhecimento através do desafio de um de nossos instintos mais primários, o medo.

 

Relacionar a paixão pelo mar de atletas com artistas como Pablo Neruda, um apaixonado pelo mar; Paul Gaughin, artista impressionista que abandonou a Europa para viver no Tahiti e morrer nas ilhas Marquesas; e o nosso Dorival Caymi com a história do bodyboarding é um dos maiores estímulos para lutar por um mundo melhor e me manter alegre.

 

E como você vê o futuro da área?

 

É muito forte a possibilidade de trabalhar com algo que estimula tanto o ser humano, o faz superar seus limites em integração com as forças naturais.

 

Essa área ganhou um espaço enorme em nossa sociedade. Lidamos aqui com todos os conceitos de sustentabilidade tão requisitados e importantes para o futuro da humanidade.

 

É uma área capaz de nos fazer caminhar rumo a um mundo melhor, por isso vejo ela evoluir com as novas tecnologias, tornando-se cada vez mais interativa e nos estimulando a criar um mundo melhor.

 

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Flyer do Cine Action 2009, que acontece no dia 30 de abril em Floripa. Foto: Reprodução.

Programação Florianópolis Cine Action
 
Dia 30 de abril
 
Atrações vespertinas
Entrada franca das 13 às 17h30min
 
Apresentação e debates com os produtores Pepê Cézar (Fábio Fabuloso); Sílvio Arnaut (Surf Adventures 1 e 2); Gustavo Camarão (Que! Life Style); Bruno Bez (Lisergia); Rafael Mellin (Lombrô, Samba Trance, Nalu); além das exibições de The Reality of Bob Burnquist (Hurley); Lisergia (MCD); Q21 (Que!). Ainda no período vespertino, duas produções catarinenses para o grande público: Guga Arruda lança o terceiro filme da série Arquivo Surf e Teco Padaratz apresenta os três curtas entitulados Um Dia a Onda me Levou.
 
Sessões noturnas Ingressos na Sul Nativo e DNA Natural
 
18h30 Changes (Rusty)
19h15 Somewhere (Rip Curl)
19h40 Espaço para debate com profissionais do cinema
20h45 Fire, The Movie (Mike Stewart)
21h45 Nalu (Rafael Mellin)
 
Sinopses das principais atrações
 
Fire, the movie (Mike Stewart e Scott Carter):  Inédito no Brasil, é a grande atração do festival. No filme, as melhores imagens do havaiano Mike Stewart, de 46 anos, lenda do bodyboard mundial, nas melhores ondas do planeta, incorporando ainda elementos artísticos e navegando por águas que vão muito além dos vídeos comuns de esportes radicais. Filmado com câmeras 16mm, o audiovisual sobre a vida do  atleta, mostra ainda os momentos de Mike Stewart dentro dos tubos, com imagens subaquáticas. O eneacampeão mundial e 11 vezes campeão do Pipeline Bodysurfing confirmou presença no festival.
 
The Reality of Bob Burnquist (Hurley): retrata tudo o que acontece durante um ano da vida do skatista brasileiro Bob Burnquist, um dos maiores atletas do planeta. A direção é de Jamie Mosberg, que acompanhou Bob ao redor do mundo, no meio do deserto, com a Tocha Olímpica no Rio de Janeiro e outros lances da rotina do atleta captados a partir de câmeras de cinema (16mm). Carioca, filho de mãe brasileira e pai norte-americano, Robert Dean Silva Burnquist começou a andar de skate aos 11 anos, em São Paulo. Hoje, aos 32 anos, ele vive na Califórnia, onde coleciona títulos de campeão mundial de skate vertical. Burnquist lidera a lista dos atletas com mais patrocínios em todo o mundo.
 
Nalu (Rafael Mellin): outro filme que não se resume a mais uma reunião de sessões de surfe pelas melhores ondas do planeta. É claro que elas estão presentes, mas o filme transcende o tradicional. Everaldo Pato, surfista profissional e, Fabiana Nigol sua mulher e cinegrafista. Vivem o surf e viajam pelo mundo juntos. O filme inova no formato e é narrado pela filha do casal, com uma boa trilha sonora e sob o comando do diretor premiado Rafael Mellin, outra presença confirmada no Florianópolis Cine Action.
 
Somewhere (Rip Curl): com a participação do staff da Rip Curl, inclusive a florianopolitana Jacque Silva, o filme documenta de maneira apaixonada a essência da busca pela onda perfeita. Somewhere é uma tradução do espírito “The Search” difundido pela marca, com seus melhores surfistas em missões ao redor do planeta para buscar novas ondas, novas experiências e novas histórias. As filmagens ocorreram em 10 picos épicos. Estrelado por Mick Fanning, Taylor Knox, Pancho Sullivan, Raoni Monteiro, Bruno Santos, Jessé Mendes, Stephanie Gilmore e Jacque Silva, Somewhere traz também uma seção dedicada ao snowboarder americano Andy Finch e sua “Search trip” pelo Chile. Com diretores como Matt Beauchesne, Jon Frank e Matt Gye, o filme pretende revolucionar a indústria cinematográfica do surf, por ser um exemplo do que é possível fazer com um pouco de liberdade e criatividade.
 
Arquivo Surf 3 (Guga Arruda): o Florianópolis Cine Action será o palco do lançamento oficial do terceiro filme da série Arquivo Surf, do surfista florianopolitano Guga Arruda. Nele, Guga aborda aspectos antagônicos do esporte, como a liberdade e a competitividade, narrados através da mente de grandes surfistas.
 
Lisergia (Bruno Bez, MCD): Holanda, França, Austrália e Indonésia. Eles tinham os nomes de cada destino, mas não sabiam que cada lugar os levaria a explorar locais como Margaret River, Red Bluff, Gnaraloo, a famosa Red Light em Amsterdã, entre outros picos da Indonésia e França. Um roteiro sem roteiro, fora do tempo, não linear. A idéia é romper padrões. Os freesurfers Cássio Sanchez, Fernanto Fanta e James Santos partiram em busca de outra realidade e o resultado foi resumido pelo diretor Bruno Bez: o filme é uma ?realidade proibida?. Ou seria uma Realidade surreal? Cortes secos entre Amsterdã e ondas perfeitas, com uma trilha sonora que vai do eletrônico minimal ao rock de John Frusciante. Uma obra de arte, inovadora nos faz sentir num set combinado e harmonico de imagens, sentimentos e música.
 
O pintor e o oceano (Jorge Baggio): Documentário pioneiro pelo tema e também por sua construção, referenciada em grandes cineastas e obras artísticas, como Tarkovski e Dzia Vertov. Filmagens impressionantes realizadas com câmeras acopladas nas pranchas. Águas translúcidas, visuais paradisíacos, tubos imensos. Relata a experiência de desbravadores que viajaram o mundo em busca das maiores e mais desafiadoras ondas existentes. O audiovisual parte do Brasil e chega a Ilha de Páscoa, Hawaii, Ilhas Canárias, Tasmânia, Indonésia, entre outros. Transcrende o simples fato de pegar uma onda, abordando temas como poesia, arte, vazios e ânsias do ser humano, além de mostrar diferentes pontos de vista de diversas culturas visitadas.
 
Um dia a onda me levou (Teco Padaratz, Gate): uma reunião de imagens pessoais de Teco Padaratz ao longo de 10 anos, passando por belas praias do mundo e narrando um breve histórico do surf, em três episódios de 15 minutos. Em uma das imagens mais emocionantes dos três curtas, os quatro primeiros campeões mundiais de surfe recebem seus troféus. Além do surf em locais famosos como Tahiti, Teco também mostra muito do potencial catarinense com ondas filmadas na Praia do Campeche, Silveira, entre outras.
 
Q21 (Gustavo Camarão): Filmado por Gustavo Camarão, o vídeo conta com a participação de jovens de até 21 anos surfando as ondas mais difíceis do planeta. Estrelado por Jerônimo Vargas, Ricardo dos Santos, Marco Giorgi, Alejo Muniz, Felipe Cesarano, Pedro Scooby, Thiago Camarão, Júnior Faria e mais um pelotão de peso, -Q21 apresenta a garotada em Teahupoo, Pipeline, México, Indonésia, África do Sul, Peru e Brasil. Destaque para a sessão em Teahupoo no Tahiti, onde a nova geração mostra toda sua disposição.
 
O lançamento do Florianópolis Cine Action conta com patrocínio da Secretaria da Organização e do Lazer, por meio do Fundesporte, com apoio da DNA Natural, Sul Nativo, Imagem e Flora, Águas Da Guada, Buzzii Imóveis, divulgação do site Waves e promoção da Rádio Atlântida FM. Mais informações sobre os produtores que participarão do Florianópolis Cine Action no site Floripa Festival.

 

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