Heloy Júnior

Baiano faixa-preta

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Heloy Júnior precisou de apenas uma semana no Hawaii para encarar Jaws no braço. Foto: Cuda.

Na primeira trip internacional, em Teahupoo, não faltou atitude para o baiano. Foto: Geoffrey Ragatz.

Heloy também faz bonito em ondas pequenas. Foto: Fabriciano Júnior.

Quando um surfista tem gosto por ondas pesadas, ele não precisa de muito tempo para esbanjar disposição no outside. Pouco importa se o cenário é Teahupoo, no Tahiti, Pipeline ou Jaws, no Hawaii. Também não importa se ele fez poucas viagens na vida e teve pouco tempo para adaptar-se ao pico.

 

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Que o diga o baiano Heloy Júnior, 27 anos. Bastaram duas trips internacionais para ele mostrar que a atitude corre solta em suas veias. E bastou uma semana no arquipélago havaiano para ele encarar Jaws no braço e ter seu nome inscrito em dois prêmios do Billabong XXL Global Big Wave Awards, nas categorias Monster Paddle (maior onda na remada) e Wipeout of the Year (vaca do ano).

A sonhada ida ao Hawaii estava nos planos do baiano desde 2007, quando venceu uma competição de ondas grandes no Farol de Itapuã, Salvador (BA), e foi premiado com uma passagem ao Hawaii. Porém, teve o visto norte-americano negado e adiou o sonho de conhecer a Meca do surf mundial.
 
Determinado a estender seus limites, Heloy mudou seu destino e embarcou no ano seguinte, rumo ao Tahiti. Sem hesitar, foi com tudo para a bancada de Teahupoo e não amarelou nos potentes canudos. Em uma das sessions, encontrou o fenômeno norte-americano Kelly Slater, que participava das gravações para o filme em 3D, “The Ultimate Wave Tahiti”.
 
Os tubos de Heloy chamaram a atenção de quem estava na água, como o legend ubatubense Zecão. “Ele mostrou muita vontade e coragem, dropando sempre atrasado e com segurança. Lembro de uma, em especial, que o cara dropou atrasado, praticamente caindo, e até enganou Kelly, que dropou e, ao notar não sei como o baiano lá dentro do tubo, perdeu a concentração e caiu rolando junto com Heloy”, conta Zecão. “Depois do caldo com o baiano, Kelly percebeu que sua prancha estava partida, sem o bico. Pediu desculpas ao garoto e acenou ao barco pra pegar outra prancha”, finaliza o ubatubense.
 
Apesar do incrível talento nas ondas pesadas e tubulares, Heloy passou muito tempo buscando espaço como competidor. Logo em seu primeiro evento nacional, o Brasileiro Amador na praia do Icaraí (CE), aos 16 anos, chegou à final da categoria Mirim e ficou em quarto lugar.
 
Heloy conquistou ainda títulos em todas as categorias de base do surf baiano e coroou sua carreira com a taça de campeão profissional em 2006, depois de uma emocionante batalha contra o ex-top da elite mundial Armando Daltro. Também teve um grande momento ao vencer a Expression Session do WQS 6 estrelas na Costa do Sauípe, em 2005.
 
No cenário nacional, poucas pessoas conheciam seu talento, que cresce de forma impressionante junto com o peso das ondas. Agora, em 2012, o Brasil e o mundo finalmente começaram a olhar para ele. Com a ajuda da família e da marca Radical Wave, Heloy conseguiu juntar dinheiro e teve o visto norte-americano aceito pelo consulado. Ansioso, arrumou as malas e se mandou para o Hawaii, onde foi recebido pelo big rider Danilo Couto.
 
Logo nos primeiros dias no North Shore, Heloy deu de cara com um Banzai Pipeline casca-grossa. Ainda com o dia escuro e sozinho, sem conhecer o pico direito, dividia o line up com o lendário bodyboarder Mike Stewart. Em poucos dias, já botava pra baixo em outer reefs como Waimea, Phantoms e Himalayas. Totalmente à vontade nas morras, fechou com chave de ouro sua primeira semana no arquipélago ao encarar no braço um swell cascudo em Jaws, na ilha de Maui.
 
Com uma performance de alto nível, Heloy atirou-se nas bombas e foi parar no Billabong XXL. Tudo isso em apenas uma semana no Hawaii. O baiano revela os segredos de tanta disposição: “Muita gente acha que a Bahia não é tão boa de onda, mas nós sabemos o verdadeiro potencial que nosso estado tem. Minha família é toda ligada ao surf, todos sempre gostaram de surfar ondas grandes. Meu pai (Heloy) e meus irmãos (Hudson e Rafael) estão sempre na água, principalmente quando o mar está bombando”, revela o atleta. “Com tantas bancadas na Bahia, tenho uma afinidade muito grande com os corais. Também sempre pratiquei mergulho e isso influencia tanto na parte psicológica, quanto na hora de suportar o caldo em uma onda pesada”, finaliza Heloy.